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Cerrado em risco

FSP, Opinião, p. A2
10 de Mai de 2024

Cerrado em risco
Desmate no bioma afeta o país, pois destrói mananciais e turbina crise do clima

10/05/2024

A atenção do país se volta para a tragédia no Rio Grande do Sul, com toda justiça. Mas não se deve perder de vista que desastres climáticos resultam de cadeias de fatores que superam fronteiras regionais e nacionais, pois o aquecimento da atmosfera é fenômeno mundial.

Além da queima de combustíveis fósseis, a crise do clima tem origem no desmatamento a grassar pelo território brasileiro.

No Centro-Oeste, a consequência é oposta à verificada no Sul: perda de recursos hídricos. Isso decorre do aquecimento global, que diminui chuvas, e da derrubada da vegetação natural para dar espaço a campos de soja, milho e algodão.

Diz-se que o cerrado é uma floresta invertida. Suas raízes penetram no solo a profundidades que podem alcançar o dobro da altura das árvores acima dele. Nessa busca pelos lençóis freáticos, as raízes favorecem sua reposição -a água da chuva penetra mais facilmente no solo já descompactado por elas.

Assim, o bioma é conhecido como a caixa d'água do Brasil. A captação pluvial nesse local, que cobre um quarto do país, garante boa parte da vazão de bacias tão importantes quanto as dos rios Doce, Jequitinhonha, Paraíba, Tapajós, Xingu e Madeira, além do Pantanal.

O abastecimento de mananciais pela savana brasileira é tema da segunda reportagem da série Cerrado Loteado, publicada pela Folha. E as notícias não são boas, em especial no Matopiba, zona com expansão acelerada do agronegócio.

Monoculturas mecanizadas enriquecem o país com exportação, mas, sem controle, o empobrecem ao diminuírem a percolação (movimento descendente da água no interior do solo) até os aquíferos, afetando a vazão de nascentes e rios.

O fluxo também diminui com a irrigação, que desvia volumes diários várias vezes acima do consumo numa metrópole como São Paulo.

Seria disparate pressupor ligação direta entre a destruição do cerrado, hoje muito mais acelerada do que a da floresta amazônica, e o flagelo dos gaúchos. Por outro lado, esses processos estão conectados e se radicalizam sob a omissão de governos diante do imperativo de conter a crise ambiental que põe em risco a vida na Terra.

FSP, 10/05/2024, Opinião, p. A2

https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2024/05/cerrado-em-risco.shtml

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