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Cerradão à vista

JB, JB Ecológico, p. 46-47
02 de Set de 2004

Cerradão à vista
Cientistas prevêem quando a Amazônia irá virar cerrado e parte do nordeste um grande deserto

EGBERTO PASCOAL
Redacaojbeco@terra.com.br

Enquanto o governo discute projeto de lei que prevê a concessão de florestas públicas da Amazônia para exploração da iniciativa privada, em contratos de até 60 anos, o aquecimento global, o desmatamento, a ocupação desordenada do solo e as constantes queimadas podem transformar de 20% a 60% da Amazônia em cerrado nas próximas décadas. Os dados alarmantes foram apresentados em Brasília, durante a 3a Conferência Científica do LBA (Experimento em Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia), a maior reunião científica já realizada para debater a situação atual e futura do ecossistema amazônico.
O estudo, que aponta para o risco de savanização da Amazônia, foi apresentado pelo climatologista e coordenador científico do LBA, Carlos Nobre.
O pesquisador, junto a cinco colegas, foi buscar na última era glacial, há mais de 20 mil anos, o ponto de partida para desenhar as possíveis mudanças da Amazônia até 2100. Foi usado para o estudo da região o mesmo supercomputador de previsão do clima utilizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), mas com a projeção de aumento de temperatura prevista no planeta. Segundo o pesquisador, os cenários para o fim do século XXI são perversos: várias espécies da Amazônia devem desaparecer, se o aumento do efeito estufa não for revertido.
O clima da floresta amazônica é marcado por chuva intensa, constante e bem distribuída ao longo do ano, o que permite um nível constante e alto de umidade. O desmatamento, diz Nobre, diminui o volume de chuva e favorece o aquecimento das áreas descobertas. Com isso, a região fica mais seca e aumenta o período seco durante o ano. É ai que a natureza se ajusta e busca no novo equilíbrio com o clima maiores chances de sobrevivência. A Amazônia, então, passa a virar cerrado, com a prevalência das espécies que sabem suportar a seca. "Não que não haja diversidade biológica no cerrado, mas é inferior à diversidade que se tem na Amazônia", diz o pesquisador.
O aquecimento do planeta, provocado pelo aumento progressivo da emissão de gás carbônico, também contribui para afetai o regime de chuva e o clima da Amazônia. "Além da savanização, esse aquecimento pode levar à desertíficação de parte do Nordeste", acrescenta Nobre. "E se você chegar a observar formação de savana, já é um ponto sem retomo".

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JB, 02/09/2004, JB Ecológico, p. 46-47

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