VOLTAR

A cerâmica suruí

OESP, Caderno 2, p. D6
09 de Mar de 2012

A cerâmica suruí
Mostra no Instituto de Artes da Unesp resgata a tradição escultórica realizada por povo indígena de Rondônia

Camila Molina

A criação de uma cerâmica indígena suruí, em Rondônia, é um ritual coletivo, familiar. Primeiro, mulheres e crianças andam quilômetros para recolher a melhor argila que podem encontrar no igarapé. Depois, voltam à aldeia para esculpir peças que serão utilitárias - grandes panelas, sopeiras, vasilhames e cuias - e o momento da queima desses artefatos se torna a parte mais complexa do processo. Nessa hora, as suruís se isolam, concentram-se para dar o polimento às obras.
"O acabamento é uma questão de status no grupo", conta o ceramista e escultor Jean-Jacques Vidal, responsável pela curadoria da mostra Cerâmica Paiter Suruí, que pode ser vista no Instituto de Artes da Unesp.
É uma exposição concisa, mas que apresenta um conjunto de 47 obras do povo suruí datadas desde a década de 1970. "É uma cerâmica pura, de um fazer muito elaborado, que me chama a atenção por sua forma, volume, espessura, simetria e manchas", diz Vidal. À primeira vista, as peças parecem todas iguais, exibindo uma simplicidade estética interessante. A cerâmica suruí não tem adornos - como os desenhos geométricos das obras marajoaras -, mas possui a singularidade das tinturas diferentes, escorridas, feitas com jequitibá (material que tem função fungicida). Alguns artefatos são acompanhados de cestos confeccionados com cascas de árvores funcionando como tampas.
Em 1986, o escultor foi pela primeira vez a Rondônia especialmente para conhecer a tradição ceramista suruí - há grupo indígena de mesmo nome no Pará, mas sem o costume de realizar esses artefatos. Voltou ao local em 2010 para realizar uma pesquisa intensa sobre a técnica rara da cerâmica suruí, tema de seu mestrado. "Em São Paulo, poucos lugares são especializados nessas obras", conta Vidal, calculando que colecionadores pagam até cerca de R$ 5 mil por uma dessas cerâmicas. Como ele completa, o Museu do Índio no Rio é uma das poucas instituições que conservam exemplares dos artefatos suruís - o primeiro contato da Funai com esse povo de Rondônia ocorreu em 1969, completa o pesquisador.
A mostra - a palavra "Paiter" do título se refere à expressão indígena "nós mesmos, gente de verdade" - é um apanhado do levantamento realizado por Vidal, exibindo peças da Biblioteca José e Guita Mindlin e da coleção da antropóloga Betty Mindlin - são os artefatos mais antigos, dos anos 70 e 80. Há também peças adquiridas pelo escultor, fotografias documentais e vídeo feito por ele e o índio Uraan Anderson Suruí. Como parte da exposição, ainda, ocorrerá na quarta-feira, às 9 horas, mesa-redonda com a professora Lalada Dalglish, Betty Mindlin, a compositora Marlui Miranda, Vidal e Uraan.

CERÂMICA SURUÍ - Instituto de Artes da Unesp. R. Dr. Bento Teobaldo Ferraz, 271, 2.ª a 6.ª, 9h/ 18h; sáb., 9h/14h. Grátis. Até 24/3

OESP, 09/03/2012, Caderno 2, p. D6

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.