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Centro-Oeste é nova força do consumo

OESP, Economia, p. B1, B3
27 de Mar de 2011

Centro-Oeste é nova força do consumo
Desembolso dos lares da região registrou o maior aumento do País, chegando a 18%, comparado à média nacional de crescimento de 10,4%

Márcia De Chiara

O vigor da renda do agronegócio, combinado com o avanço da industrialização, transformou o Centro-Oeste no novo Eldorado do consumo. De alimentos e produtos de limpeza a imóveis e automóveis, o ritmo acelerado de compras e a boa saúde financeira das famílias chamam a atenção dos empresários e atraem investimentos para a região.
Os brasileiros que vivem em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e no Distrito Federal foram os que mais ampliaram os volumes de compras e os gastos com alimentos, bebidas e artigos de higiene e limpeza em relação às demais regiões em 2010 ante 2009, revela pesquisa da Kantar Worldpanel, obtida com exclusividade pelo Estado.
A enquete, que visita semanalmente 8.200 famílias no País para fotografar o consumo, mostra que o desembolso dos lares do Centro-Oeste com uma cesta de 65 produtos cresceu 18% em 2010 em relação a 2009. Foi a maior variação entre as regiões e acima da média do País (10,4%).
Os consumidores do Centro-Oeste também foram os campeões de gastos por ida ao supermercado: R$ 16,01. A cifra superou a média nacional de R$ 13,96 e os desembolsos dos dois principais mercados consumidores: a Grande São Paulo (R$ 12,25) e o interior paulista (R$ 14,76). E só ficou atrás do Sul (R$ 22,35).
"Em dois anos, os consumidores do Centro-Oeste foram os que mais ampliaram gastos nos supermercados", diz a diretora da Kantar Worldpanel, Christine Pereira. O surpreendente é que, apesar do aumento do consumo, as famílias da região têm a melhor saúde financeira.
"O bolso do consumidor do Centro-Oeste está mais equilibrado na comparação com o de outras regiões", destaca ela. O estudo mostra que a renda mensal das famílias da região superou em 7% os gastos em 2010. Em 2009, essa relação era estável.
O desempenho da região em 2010 ultrapassou o da Grande São Paulo e do Sul, onde a renda excedeu em apenas 2% o gasto; o interior paulista e o Norte e Nordeste, que registraram estabilidade, e o leste e interior do Rio e a Grande Rio de Janeiro, que tiveram déficit de 5% e 16%, respectivamente.
Carro. Com orçamento folgado, o Centro-Oeste aumentou as compras de itens de maior valor. Levantamento do grupo brasileiro SHC mostra que duas capitais da região, Campo Grande (MS) e Cuiabá (MT), tiveram, entre 2007 e 2010, crescimento de vendas de carros zero de 61,4% e 54%, respectivamente, acima da média nacional (42,1%).
Outro estudo, da Cetelem BGN e executado pela Ipsos Public Affairs, confirma a exuberância do consumo na região. Nesse caso, a enquete ouviu 1.500 pessoas em 70 cidades, em dezembro de 2010, e reuniu dados do Centro-Oeste e do Norte numa única região, com influência maior do Centro-Oeste no resultado, pela sua importância.
Esse estudo mostra que, em novembro de 2010, o valor médio gasto pela população do Centro-Oeste com itens como supermercado, energia, remédios, gás, água, transporte, vestuário, dívidas bancárias e seguros superou o das demais regiões.
A situação financeira da região é tão confortável que, além de consumir mais, a população conseguiu aumentar a poupança. Em novembro de 2010, a população do Centro-Oeste guardou, em média, R$ 602, a maior cifra entre todas as regiões. Em relação a 2009, houve alta de R$ 190.
Para o gerente de Contas Regionais do IBGE, Frederico Cunha, o Centro-Oeste vem liderando o crescimento há algum tempo. Dados do PIB regional de 2008, o último disponível, mostram que, apesar de ter respondido por 9,2% do PIB nacional em 2008, fatia superior apenas à do Norte, a região foi a que mais cresceu em participação de 2007 para 2008, com alta de 0,3 ponto porcentual. Num período mais longo, de 2002 a 2008, o ganho foi de 0,4 ponto no PIB.

Centro-Oeste fica com 77% da receita de grãos
Região deve receber este ano cerca de R$ 74 bilhões com a venda das commodities

Márcia De Chiara

Mais da metade da receita da produção de grãos do País deste ano passará pela conta bancária dos agricultores do Centro-Oeste. É uma injeção na economia local de cerca de R$ 74,4 bilhões, ou 77% do resultado da venda de soja, milho, algodão e arroz, segundo cálculos da RC Consultores. Os preços dessas commodities estão em alta no mercado internacional, o que sustenta o bom resultado da renda da safra.
Fabio Silveira, diretor da consultoria, explica que a renda do campo tem efeito multiplicador na região, fortalecendo a urbanização, o consumo, o comércio e atraindo investimentos.
Em 2010, três dos sete hipermercados abertos pelo Grupo Pão de Açúcar no País foram no Centro-Oeste. Além disso, o grupo inaugurou um centro de distribuição no Distrito Federal, diz o diretor do Pão de Açúcar para a região, Luiz Carlos Costa. Ele não revela dados de desempenho, mas diz que "a praça tem bons indicadores". Costa conta que há hipermercados programados para este ano na região e projeto de um centro de distribuição de itens não alimentícios.
"A engrenagem do dinamismo do Centro-Oeste vem de fora", observa Silveira, da RC, fazendo referência ao peso das exportações na economia local, especialmente com preço das commodities em alta.
Em 2008, os três Estados da região tiveram crescimento do PIB superior à média do País, de 5,2%. Goiás cresceu 8%; Mato Grosso, 7,9%; e Mato Grosso do Sul, 6,4%. O gerente de Contas Regionais do IBGE, Frederico Cunha, diz que o motor do crescimento do PIB desses Estados foi a agropecuária e a indústria.
Nordeste. Já no caso do Nordeste, a região "queridinha" do consumo nos últimos tempos, a dinâmica do crescimento tem sido diferente. Segundo Silveira, o impulso para o crescimento econômico do Nordeste é mais complexo e diversificado. Isto é, mistura as atividades da indústria, comércio e turismo com o dinamismo do mercado doméstico, impulsionado pela política de renda mínima do Bolsa Família.
Christine Pereira, diretora comercial da Kantar Worldpanel, frisa que, apesar do forte potencial de consumo do Centro-Oeste detectado nas pesquisas de anos recentes feitas pelo instituto, as Regiões Norte e Nordeste, que na sua pesquisa estão agrupadas, não perdem a posição de "bola da vez".
Para sustentar esse raciocínio, ela pondera que, do total de 47,4 milhões de domicílios existentes no País, 12,7 milhões estão no Norte e Nordeste, enquanto o Centro-Oeste reúne 3,6 milhões. "Em termos populacionais, o contingente do Norte e do Nordeste é maior", destaca.
Já Cunha, do IBGE, pondera que o PIB per capita da região, sem o Distrito Federal, é bem superior ao do Nordeste. Para Costa, do Grupo Pão de Açúcar, apesar de a população do Centro-Oeste ser menor que a do Nordeste, a renda média é maior. Mas ressalva: "O Centro-Oeste não ofusca o Nordeste. É uma nova fronteira do consumo".

OESP, 27/03/2011, Economia, p. B1, B3

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110327/not_imp697789,0.php
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