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Censo 2000: Brasil tem mais de 700 mil índios

O Globo, O País, p. 8
Autor: MAYER, Martha
13 de Mai de 2002

Censo 2000: Brasil tem mais de 700 mil índios

O Censo 2000 revela que 0,4% da população do Brasil é de indígenas num total de 701.462 indivíduos. Do Censo de 1991 para o recente, a população de índios cresceu 138% no país. O número surpreendeu líderes de movimentos indígenas cuja expectativa era de que os índios seriam 400 mil no ano 2000. Para eles, a principal razão para esse aumento é a organização do movimento indígena, tendo os próprios índios como protagonistas do processo.

Segundo o vice-coordenador da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, Genival de Oliveira dos Santos, da etnia maiuruna, o índio era visto como um ser excluído, mas hoje está consciente de que é parte da sociedade e tem lutado para que seus direitos sejam respeitados. Um fator é importante: assumir a identidade.

- Hoje o índio faz questão de revelar sua origem porque entende que é um cidadão e não um ser menor. A partir disso ele passa a exigir mais.

"Deixamos de ter medo de ser índio"
Sebastião Manchineri, da Coordenação das Organizações da Bacia Amazônica, diz que nos anos 70 começaram as primeiras atividades voltadas para organizar conjuntamente diferentes aldeias e etnias.

- Deixamos de ter medo de ser índio e fomos buscar a ampliação de espaços para nos inserirmos na sociedade.
Vereador de Benjamin Constant (a 1.116km de Manaus), ldenício Suzana Bastos, diretor da Federação das Organizações e dos Caciques e Comunidades Indígenas da Tribo Ticuna, acredita que a população indígena poderia ser maior. Ele se pergunta se o Censo chegou a localidades distantes como a comunidade em que vive, no Alto Solimões.

Já o administrador regional da Funai, Benedito Rangel, acha os que números do Censo estão acima do real.

- Para ser índio de fato não basta apenas declarar-se como tal. É preciso ser reconhecido pelo povo - afirma.
Ele conta que, nos últimos 15 anos, houve melhora significativa no atendimento aos índios não somente por parte da Funai, mas por conta dos programas que surgiram com a organização da população.
- Os índios estão organizados desde a base até Brasília. O fortalecimento disso é que faz com que eles busquem cada vez mais seus direitos.

VIDA NA CIDADE
Cacique da etnia sateré-maué, Manoel Luiz Gil da Silva
- Temos problema com educação e o sistema de saúde ainda não nos reconhece de forma integral. Há discriminação e racismo, mas é evidente que novos caminhos estão sendo traçados até porque temos lutado muito por isso.
A questões econômica é outro problema, já que o artesanato é a única fonte de renda e nem sempre o produto é valorizado. Os revendedores pagam o preço que eles mesmos avaliam ser justo e depois repassam ganhando até mais de 100% sobre o produto.

Corpo a Corpo
A sociedade ficou mais liberal
A economista mineira Martha Mayer, diretora de Pesquisas do IBGE, foi coordenadora técnica na organização dos resultados do Censo 2000. Ao analisá-los, ela é cautelosa.

Chico Otávio

O GLOBO: Com base nos resultados, que país é esse?

MARTHA MAYER: Dez anos não se passaram em vão. Em algumas questões, há muita modificação. Em outras, pouca. Nas características da população, a cor não teve muitas novidades. Apenas um número maior de pessoas se declarou preta. Os analistas atribuem a isso uma mudança no padrão de identidade. Não houve grandes alterações no movimento migratório e na fecundidade, que continuaram a cair, e nas condições habitacionais, que melhoraram. Num outro bloco, destacaria as questões mais recentes, como religião e nupcialidade. No caso da religião, o que chamou a atenção foi a alteração nas preferências religiosas, com o crescimento dos evangélicos e das pessoas sem religião. Outra mudança de comportamento é o aumento das uniões consensuais, principalmente nas faixas mais jovens. A sociedade ficou mais liberal, menos conservadora.

Mas não há novidades?

MARTHA: Dois temas vão mostrar grandes avanços. Na educação, cresceu o número de alunos nas escolas em todas as faixas etárias e o tempo de estudo. E houve queda da mortalidade. O IBGE vinha divulgando taxas de 34 óbitos por mil nascidos vivos. Com a amostra do Censo, verificamos que o número era menor: 29,6.

Mais uma vez, o Censo reforça a idéia de que o Brasil é um país desigual?

MARTHA: As desigualdades regionais estão em todas as tabelas, apesar dos avanços educacionais. Mas onde havia muito atraso, ocorreu um avanço maior. O Norte e o Nordeste ainda são o Norte e o Nordeste. Mas a freqüência da escola foi tão generalizada que o Nordeste chegou aos níveis do Sudeste. A freqüência no pré-escolar, por exemplo, era de 13,4% no Sudeste e 14,9% no Nordeste. Há diferenças, mas menores do que no passado.

O Globo, 13/05/2002, O País, p. 8

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