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Cem mil espécies congeladas

CB, Cidades, p. 28
08 de Dez de 2006

Cem mil espécies congeladas
O banco genético da Embrapa na Asa Norte é o sétimo maior do mundo. A conquista veio ontem com o armazenamento de sementes de feijão numa câmara fria a 20 graus negativos

Marcela Duarte
Da equipe do Correio

Um pacote de menos de 1kg de feijão armazenado em uma câmara fria marcou a comemoração de 32 anos da unidade Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, na Asa Norte. As sementes juntaram-se a outras 99 mil espécies vegetais, elevando o banco genético da Embrapa para a sétima maior reserva vegetal do mundo. A leguminosa foi escolhida por ser um dos itens indispensáveis no prato da população brasileira. Envolvidos em saco especial, aluminizado, os grãos foram colocados em um prateleira de aço e ficarão congelados por um século.

Para chegar próximo à prateleira, é preciso vestir roupas especiais capazes de suportar a temperatura de 20 graus negativos. Durante o período em que ficarem congeladas, as sementes passarão por exames que avaliarão o potencial de germinação de cada uma. Dentro da câmara é possível encontrar sementes de plantas medicinais, frutíferas e arbóreas. Mas as sementes que estão em maior quantidade são as de trigo, milho, arroz e soja, ou seja, as espécies com maior importância na alimentação utilizada no Brasil. A primeira espécie a ser colocada foi o milho, em 1975.

O chefe geral da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, José Manuel Cabral Dias, explicou que o feijão foi escolhido por ser um dos itens indispensáveis no cardápio dos brasileiros. "Nada mais representativo do que escolher o feijão, que é um alimento básico para a nação", destacou José Manuel Cabral. Identificar, colher e congelar as sementes, segundo o diretor-presidente da Embrapa, Sílvio Crestana, é pensar no futuro.

"Ao realizarmos todo esse processo, estudamos e aprendemos sobre a biodiversidade tropical e observamos que a brasileira é a maior do mundo. Preservá-las é fundamental para agricultura brasileira", destaca Crestana. O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Luís Carlos Guedes, participou da cerimônia e visitou a câmara fria onde as sementes ficarão guardadas. "Este centro é fundamental no desenvolvimento da ciência e da tecnologia do país. Nunca uma instituição investiu tanto, em tão pouco tempo de vida. Só temos motivos para comemorar", destacou o ministro.

Dedicação
Com as 100 mil sementes congeladas, o Brasil passa a ser o sétimo maior banco genético do mundo, empatado com o Canadá. Em primeiro estão os Estados Unidos, com 466 mil amostras, China com 360 mil, Alemanha com 160 mil, Japão com 147 mil, Índia com 144 mil e Coréia com 115 mil. E não é por falta de espaço que o banco genético da Embrapa vai deixar de aumentar. Ontem também foram inauguradas câmaras frias que ampliam a capacidade de armazenamento de 120 para 240 mil amostras de sementes.

Para o chefe geral da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, José Manuel Cabral Dias, o ano de 2006 foi de muito trabalho e conquistas. "Não podemos deixar de destacar o projeto das sementes de Gonçalo Alves que foram para o espaço, os projetos patenteados, as parcerias com empresas privadas. Mas, destaco também que em meio a grandes projetos não deixamos de dar continuidade aos já existentes. As pesquisas não podem parar."

Bioinsetida
A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia fará parceria com as secretarias de Saúde e de Educação e a Belacap para o combate ao mosquito da dengue, em São Sebastião. O lançamento da campanha será no próximo dia 16. "Será a primeira vez que um bioinseticida produzido pela Embrapa será usado para esse fim", aponta Rose Monnerat, pesquisadora da Embrapa. Ela explica que, além da utilização do produto, a comunidade será envolvida e incentivada a combater o mosquito. Para isso, vamos falar da importância dos cuidados com a água e o lixo."

Para saber mais

Salvas da extinção

Além de guardar relíquias para o futuro, as espécies vegetais conservadas no banco genético da Embrapa já ajudaram a recuperar a cultura de povos indígenas, como os krahôs, no Tocantins, e a etnia guarani de tribos do Xingu. Em 1995, espécies de milho e amendoim foram repassadas aos índios que eram acostumados e cultivá-las no passado. Em 2004, ajudou também pequenos produtores da região de Alto Paraíso de Goiás. No banco de sementes, eles encontraram uma variedade de trigo denominada trigo veadeiro. A espécie é altamente produtiva e adaptada às condições da região, mas acabou desaparecendo por conta do cultivo comercial. Entre as preciosidades estão sementes de bromélias, que foram coletadas no Paraná, em 1980, antes da construção da Hidrelétrica de Itaipú. Segundo o engenheiro agrônomo Leonel Gonçalves Pereira Neto, responsável pelo laboratório de sementes, a prova de que as sementes estão saudáveis, são dois exemplares vistosos da planta, que ficam próximos ao laboratório. "Estamos ansiosos para vê-las florindo", comenta Leonel.

CB, 08/12/2006, Cidades, p. 28

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