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Casca de coco verde torna-se materia-prima

GM, Rede Gazeta do Brasil, p.B14
22 de Set de 2004

Casca de coco verde torna-se matéria-prima
A casca de coco verde jogada nos lixões ou espalhadas pelas praias do de Fortaleza vai ganhar novo destino - mais nobre e rentável -, a partir da implantação de uma unidade-piloto para a sua transformação dos resíduos em matéria-prima. A unidade começa a ser construída em outubro, em Fortaleza, e deverá entrar em operação em janeiro de 2005. O projeto, avaliado em US$ 245 mil, recursos do Banco Mundial (Bird), inclui a instalação de uma planta em área de 3 mil metros quadrados, no desativado aterro sanitário do Jangurussu, que vai gerar 200 empregos diretos, e vem apoiado no trabalho "Uso da casca de coco verde como forma de conservação da biodiversidade", vencedor do Development Marketplace, promovido pelo banco, que envolveu 2.726 propostas e 47 aprovados, em todo o mundo.
O trabalho é da autoria das pesquisadoras da área de gestão ambiental da Embrapa Agroindústria Tropical, Morsyleide Freitas Rosa e Maria Cléa Brito de Figueiredo, baseadas em Fortaleza. O estudo contempla um completo sistema de negócio, da coleta seletiva da casca do coco verde, passando pela reciclagem do material e sua transformação em diferentes produtos, até a unidade de artesanato e horta comunitária, estas duas instaladas na Praia do Futuro, local de freqüência de turistas em visita a Fortaleza. Além disso, vai permitir a capacitação dos profissionais que devem atuar na fábrica e na produção de artesanato.
Para a implementação do negócio, a equipe da Embrapa desenvolveu maquinário de processamento da casca de coco verde, trabalho realizado em parceria com a iniciativa privada. A estrutura da usina inclui uma máquina trituradora, prensa rotativa, que retira o líquido do coco verde, máquina classificadora para separação do pó e da fibra – todos equipamentos simples, de fácil manutenção e manuseio, mas eficientes, segundo informa Morsyleide. De acordo com a pesquisadora, do total de lixo gerado nas praias do Nordeste, cerca de 70% correspondem a casca de coco verde, índice que no Rio de Janeiro pode alcançar 80%. Em Fortaleza, apenas na praia do Futuro e na Avenida Beira-Mar, na alta estação, caracterizada pelos meses de dezembro a fevereiro, e julho, são geradas 40 toneladas por dia, conforme Morsyleide.
Os estudos envolvendo a cocoicultura tiveram início na década de 70, com a criação do Centro Nacional de Pesquisa do Coco, em Aracaju (SE), hoje conhecido como Embrapa Tabuleiros Costeiros. A unidade de Fortaleza começou as pesquisas da fruta no princípio dos anos 90, com trabalhos sobre fertiirrigação, controle de pragas e doenças, pós-colheita, processamento e desenvolvimento do equipamento para a extração de água de coco.
A idéia da equipe responsável pela implantação da usina é fabricar produtos, a partir do pó e das fibras extraídas da casca. "Temos capacidade para processar 15 mil toneladas/ano", afirma Morsyleide. O pó vai servir para a produção de substrato agrícola e composto orgânico, enquanto as fibras permitem a manufatura de vasos, tapetes e outras peças.
O protocolo para a instalação da usina, assinado em julho passado, envolve Embrapa, Prefeitura de Fortaleza, Associação dos Barraqueiros da Beira-Mar, Faculdade Christus, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-CE), e secretarias do Trabalho e Empreendedorismo do Estado e a municipal do Meio Ambiente. Além de gerar emprego e renda, o projeto tem caráter ambiental, ao livrar a natureza de um material que leva 10 anos para se decompor.
Morsyleide explica que o crescimento do consumo da água de coco registrado nos últimos anos contribui para a geração de um resíduo de difícil degradação. Atenta a essa questão, a equipe da Embrapa Agroindústria Tropical, desenvolve há cerca de 5 anos estudos para o aproveitamento desse material. "Já testamos a utilidade da casca de coco verde como matéria-prima e os resultados foram positivos".
As pesquisas conduziram a várias frentes de atuação, caso da aplicação do substrato para o setor agrícola, implementado com a Universidade Politécnica de Valência, na Espanha; e na área de bioprocessos, parceria com a Embrapa Solos, Centro de Tecnologia Mineral e Pontifícia Universidade Católica, todos do Rio de Janeiro, e Universidade Federal do Ceará (UFC). A pesquisadora da Embrapa diz ainda que a fibra da casca de coco verde já provou sua utilidade na indústria automotiva, com a fabricação de estofamento para veículos, trabalho desenvolvido em parceria com a UFC e iniciativa privada.
Dados levantados pelo Ibge indicam que o estado cultiva área de 40,1 mil hectares de coco, com produção de 229 milhões de frutos/ano e produtividade média de 5,7 mil unidades por hectare, em 2004. A produtividade média de áreas irrigadas atinge 12,2 mil frutos por hectare, diante dos 4,3 mil de sequeiro. "Com alta tecnologia o coco irrigado no Ceará chega a 35 mil frutos por hectare", diz Sérgio Baima, gerente do sistema de informações gerenciais da Seagri.
No Nordeste, a produção é de 1,4 bilhão de frutos ou 5,9 mil por hectare, com liderança da Bahia – 702 milhões de cocos. No Brasil, a soma alcança 1,9 bilhão e 6,8 mil, respectivamente, com área cultivada de 292 mil hectares. "Com o surgimento de novas variedades, como coco anão e de híbridos, quase todos os estados brasileiros passaram a produzir coco", diz. As exportações nacionais de coco - verde, seco e ralado - somaram em 2003 cerca de 787 toneladas, correspondendo a US$ 293 mil.
O coco verde, sozinho, garantiu 604 toneladas, com vendas no valor de US$ 138,5 mil. Neste ano, até julho, as exportações somaram US$ 600 mil e a tendência é atingir US$ 1 milhão. Os maiores produtores são as Filipinas e Indonésia, seguidos pela Índia. Depois de ocupar o sexto lugar nos últimos anos, o Brasil concorre com a Índia pela terceira colocação, embora com área cultivada menor. Baima diz que existe muito espaço para crescer
kicker: Projeto de técnicos da Embrapa gera emprego e renda
kicker2: O material, reciclado, serve à confecção de diferentes produtos

GM, 22/09/2004, p. B14

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