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Casaldáliga diz que principal arma são denúncias e cita novos conflitos

RD News - http://rdnews.com.br
Autor: Patrícia Sanches
16 de Mai de 2014

A região de São Félix do Araguaia (a 1.115 km de Cuiabá) se tornou emblemática e polêmica, ao longo dos anos, graças à atuação firme do hoje bispo emérito da cidade Pedro Casaldáliga que desperta sentimentos antagônicos de amor e ódio entre os moradores. Enquanto índios, pequenos produtores e sem terras, buscam refúgio na liderança de Pedro e têm ele como um líder espiritual e um amigo, especialmente, os produtores rurais se posicionam duramente contra o bispo emérito da cidade. Argumentam que, para defender os índios, ele passa por cima de pessoas que querem apenas trabalhar e tirar o seu sustento da terra.

O resultado dessa situação é um intenso conflito que tem se estendido durante os últimos 46 anos, desde que o missionário claretiano, do Catalão e um dos fundadores da Teologia da Liberdade, chegou à região em 1968, durante a Ditadura Militar.

Perguntando o porque do Brasil e especialmente da região do Araguaia, que praticamente não era habitada na década de 60, Pedro Casaldáliga, em entrevista ao Rdnews, lembra que o Vaticano queria uma missão nesta área, que era nova, e não tinha comunidade. "Tomei como missão de vida", enfatiza.

Passado quase meio século, o bispo avalia que a situação é melhor, especialmente por causa da organização dos índios e movimentos sociais. Por outro lado, pondera que a briga com a Bancada Ruralista é intensa. "Povos indígenas são inimigos do sistema porque não são do sistema produtivo", reforça.

Ele lembra que a luta foi bastante intensa nos últimos anos. Cita que, dois anos após chegar na região e começar a acompanhar os índios juntamente com a irmã Genoveva, que chegou antes em 1952, foi nomeado bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia. "Nós iniciamos aqui a Prelazia que é uma diocese do interior. Tivemos que enfrentar o desafio de escolher entre os índios, pequenos produtores ou o latifúndio. Tivemos que optar e optamos pelos pobres, pelos marginalizados. Os índios, os posseiros e os peões", sustenta Casaldáliga.

O religioso lembra que escreveu dois documentos fundamentais neste processo de criação de um grupo organizado contra o sistema existente: Latifúndio e feudalismo no Norte de MT e Amazônia em Conflito e a Marginalização Social. No segundo, ele trazia duras denúncias sobre a existência de trabalho escravo. "Foi uma declaração de guerra, denunciamos também a polícia que perseguiu a gente", lembra. Acontece que o país estava em plena ditadura, onde o lema era: integrar para não entregar, havendo políticas de povoamento no Estado. "Essa região virou paradigmática, emblemática. Naquela época foi fundado, por exemplo, o Conselho Nacional da Terra".

Durante este período, especialmente entre 1971 e 1976, Casaldáliga e seus seguidores tiveram duros embates com fazendeiros e com o sistema político brasileiro, sofrendo ameaças de morte e perseguições. Em 1976, por exemplo, é assassinado o padre João Bosco Burnier, quando ele e dom Pedro foram defender duas mulheres que estariam sendo torturadas na delegacia de Ribeirão Cascalheira.

Em meio à situação, o bispo avalia que a divulgação das situações por meio da imprensa brasileira e estrangeira foi fundamental para garantir que as ameaças de morte não fossem cumpridas e para garantir que a situação, caótica, não fosse ainda pior. "Tudo o que acontecia se escrevia, por isso, ficamos conhecidos e a situação era emblemática", lembra.

Foi durante este período tumultuado também que foi instalado um ginásio no local, com o objetivo de dar educação aos moradores da região. À época, um grupo ligado a Prelazia ensinava à população o método Paulo Freire, o que não foi bem visto pelo Regime Militar que fechou a instituição. Outro fator que provocou a ocorrência de constantes conflitos era a especulação de que haviam guerrilheiros do Araguaia na cidade. Casaldáliga, entretanto, garante que isso nunca ocorreu.

A Guerrilha do Araguaia foi a tentativa de dissidentes do Partido Comunista do Brasil (PC do B) de organizar uma luta armada para enfrentar a ditadura militar que governava o Brasil, a maior parte dos membros era do Pará e Tocantis.

De todo modo, o fim da ditadura, não significou o final dos confrontos na área. Conflitos entre índios, posseiros e fazendeiros também foram acompanhados pelo bispo de perto. Um dos mais emblemáticos envolve a desintrusão da reserva indígena dos Xavantes na região da Suiá Missu, que foi realizada em dezembro de 2012.

Embora o desfecho da situação tenha ocorrido recentemente, a polêmica começou ainda em 1980, quando começam os questionamentos acerca da área que pertenceu a Agip Petroli e, depois, foi loteada e vendida para famílias que moravam no Posto da Mata.

Os produtores rurais que estão no local garantem que adquiriram a área de forma lícita e que ali nunca foi terra indígena. A FUNAI contesta e conseguiu, na Justiça, o direito de expulsar os posseiros. Casaldáliga é apontado como um dos responsáveis pela viabilização da desintrusão e chegou a ser ameaçado de morte à época da expulsão.

Mesmo estando longe do comando da Prelazia há quase 10 anos, desde 2005, Pedro Casaldáliga ainda faz questão de acompanhar os movimentos, mesmo que seja apenas pelos relatos de índios e retirantes que o visitam em sua casa em São Félix do Araguaia. Em relação ao desfecho da Suiá Missu, ele avalia, por exemplo, que os índios estão felizes porque estão em suas terras, mas cobra maior investimento por parte da Funai.

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