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Casal morto no PA vivia desgaste com assentados

OESP, Nacional, p. A9
28 de Mai de 2011

Casal morto no PA vivia desgaste com assentados
Sob assédio financeiro de madeireiros, agricultores já não mantinham união e rechaçavam apelos da dupla de ambientalistas pela preservação da floresta

Carlos Mendes

O casal de ativistas ambientais José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, morto a tiros na terça-feira, em Nova Ipixuna, na região central do Pará, vinha enfrentando dificuldades em se manter atuante no assentamento Praia Alta Piranheira. Nos últimos meses, o assédio de madeireiros a agricultores da região estava conseguindo enfraquecer o trabalho de conscientização ambiental que o casal levava adiante no local.
O relato é de um sindicalista da região, que prefere não se identificar por medo de represálias. Ele contou à reportagem do Estado que o casal já não estava conseguindo manter a união entre os agricultores, que alegava ser a venda de madeira mais rentável para a sobrevivência de suas famílias. "O preço era baixo, cerca de R$ 30 o metro cúbico, mas, para eles, valia a pena arriscar", disse o sindicalista.
De acordo com o sindicalista, o plano dos madeireiros era afastar definitivamente o casal da região para que pudessem investir mais na derrubada da floresta. As promessas, segundo ele, eram de que o preço da madeira subiria assim que José Cláudio e Maria deixassem o local.
Ao saber que vários moradores estavam abertamente apoiando os madeireiros, José Cláudio teria chegado a discutir com alguns agricultores do assentamento, acusando-os de traírem a causa ambientalista.
"Se eu e a Maria sairmos daqui vocês também vão ser enxotados e vão sair como entraram, com uma mão na frente e outra atrás", teria dito José Cláudio aos agricultores.
Crime. Segundo o sindicalista, um agricultor conhecido por Pelado não aceitava a liderança do casal e dizia abertamente na comunidade que não gostava do ambientalista. Em agosto de 2009, José Cláudio e o irmão, Claudemir, foram armados tomar satisfações com Pelado sobre a posse de um lote de terra no assentamento.
Durante a discussão, Claudemir atirou e matou Pelado. A polícia de Nova Ipixuna não apurou o caso na época. Por pressão de familiares de Pelado, um inquérito policial só foi aberto em dezembro de 2010.
Ouvido pelo Estado, o secretário de Segurança Pública do Pará, Luiz Fernandes, confirmou a existência do inquérito contra Claudemir. Mas afirmou que a investigação sobre a morte de José Cláudio e Maria é feita sobre os madeireiros com os quais o casal tinha divergências, embora não despreze nenhuma outra hipótese para o crime. "Estamos investigando tudo com o máximo de cautela para que não haja nenhum erro na hora de prender e indiciar os autores do duplo homicídio", resumiu o secretário.
A apuração dos crimes é coordenada pelo delegado-geral adjunto, Rilmar Firmino. Assentados e familiares das vítimas foram ouvidos em conversas informais com a Polícia e deram informações sobre a rotina do casal. Essas informações são importantes para definir as testemunhas que serão ouvidas na fase de depoimentos.
O laudo com as conclusões dos peritos do Instituto Médico-Legal deve ser divulgado em 20 dias. Os peritos fizeram testes de balística e voltaram ao local do crime, na estrada que leva até o assentamento onde o casal morreu.

OESP, 28/05/2011, Nacional, p. A9

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110528/not_imp724992,0.php

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