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Casa sustentável não derruba ambiente

FSP, Especial-Construcão, p.1-10
27 de Nov de 2005

Casa sustentável não derruba ambiente
Produto reciclado e de baixo impacto ambiental também evita danos à saúde
Primeira obra pública sustentável do país começa a ser construída em março

Bruna Martins Fontes
Editora assistente de construção e imóveis

Se tentarmos mapear o caminho que percorrem os materiais que usamos para construir ou reformar uma casa, o quadro traçado será, no mínimo, preocupante.
No nascedouro, veremos que a indústria da construção civil é a que mais retira matérias-primas da natureza. No meio do trajeto, encontraremos produtos nocivos à saúde de quem convive com eles entre quatro paredes. Por fim, descobriremos que o volume de entulho gerado em São Paulo é o dobro do de lixo doméstico.
Mesmo assim, nem o ambientalista mais ferrenho há de engavetar suas plantas, porque é possível erguer uma casa sem demolir o ambiente -e isso não tem nada a ver com construí-la no meio do mato. O caminho é a construção sustentável, que não engloba só a escolha de materiais de baixo impacto ambiental mas também de tecnologias que permitam à casa funcionar sem exaurir os recursos naturais, como água e energia.
A construção sustentável abraça também produtos e conceitos ecológicos, mas não se resume a eles. "Todo produto ecológico é sustentável, mas nem tudo que é sustentável é ecológico", estrutura Márcio Araújo, consultor do Idhea (Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica).
Um exemplo de sustentável que não é ecológico são os produtos reciclados, como telhas de embalagens longa vida e conduítes de embalagens de agrotóxicos desintoxicadas (veja quadro abaixo).
"Uma obra em meio urbano deveria usar reciclados. O uso desses materiais mostra que somos responsáveis pelo que consumimos", completa Araújo.
Até o cimento e os plásticos, que nada têm de ecológicos, podem ganhar uma faceta sustentável. É o caso do cimento CP 3, produzido com resíduos da indústria siderúrgica. Os plásticos "do bem" são os que podem passar por reciclagem e não são nocivos à saúde.
Lojas e obras "verdes"
Já há uma boa gama de produtos sustentáveis que podem substituir os convencionais, da estrutura ao acabamento. No entanto, eles não são vendidos nas lojas de materiais de construção.
"É preciso rodar muito para achar todos os produtos", analisa Vanessa Gomes da Silva, 34, uma das fundadoras do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável e professora do curso de pós-graduação em construção sustentável da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
A boa notícia é que encontrar esses materiais e tecnologias está ficando cada vez menos difícil. Em São Paulo, há três lojas especializadas em produtos sustentáveis. São o Espaço Casa Ecológica, a Primamatéria e a Supergreen (confira telefones no quadro).
Outro exemplo de que é possível construir usando materiais e tecnologias sustentáveis é que recentemente saiu o vencedor da primeira licitação no Brasil para uma obra pública sustentável -a construção começará em março.
Será o laboratório de pesquisas da Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas (MG), e o edital, feito sob supervisão do Idhea, exige itens como concreto com cimento CP 3, fôrmas de plástico em vez das de madeira, impermeabilizante vegetal, tijolos de solo-cimento e pintura mineral.

Conselho ensina empresas a reduzir impacto
DA REDAÇÃO
Em dezembro, será lançado oficialmente o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável. Estruturado nos moldes do conselho norte-americano, o USGBC (U. S. Green Building Council, www.usgbc.org), o objetivo é instruir fabricantes de materiais de construção a reduzir o impacto ambiental e social de suas atividades. Também fará consultoria para esse tipo de empresa.
"Terá um conselho científico, responsável por pesquisa e teoria, e um corpo operacional, que dará apoio ao mercado", explica Vanessa Gomes da Silva, uma das fundadoras do conselho. "O ideal é que as empresas se filiem em vez de esperarem as normas técnicas."(BMF)

Produto com solvente libera composto que afeta cabeça, rins, fígado e olhos
Dois fabricantes já vendem em SP tintas saudáveis, à base de terra ou de minerais
Tintas e vernizes deixam perigo no ar
DA REDAÇÃO
De todos os elementos de uma construção saudável, o ar parece ser o mais abstrato, especialmente porque as ameaças à nossa saúde, nesse caso, não estão à vista. São os compostos orgânicos voláteis.
Também chamados de COVs, essas substâncias "evaporam" de muitos itens, como tintas, vernizes, produtos de limpeza, carpetes, colas e impressoras.
Teimosos, persistem no ar por bastante tempo. O problema se agrava em ambientes fechados, porque o convívio com os COVs irrita os olhos, o nariz e a garganta e causa dor de cabeça, náusea, danos ao sistema nervoso, ao fígado e aos rins, além de agravar rinite alérgica e asma.
"Os COVs afetam mais a saúde do morador do que o ambiente", concorda Kai Loh Uemoto, especialista em tintas e pesquisadora da Escola Politécnica da USP. "Daí a importância do assunto, especialmente nos debates sobre a "síndrome do edifício doente", que não se limita apenas aos problemas causados pelo ar-condicionado", completa.
Tintas
Como os COVs estão mais concentrados nos ambientes fechados do que nos abertos, um meio de zelar pela qualidade do ar interno é adotar tintas, colas e protetores de madeira menos nocivos. No caso das tintas, não há como fugir deles nas prateleiras das lojas de materiais de construção.
"As látex vêm sendo aprimoradas para reduzir o nível de COVs, mas continuam tendo 2% desses compostos", diz Jorge Fazenda, 68, assessor técnico da Abrafati (Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas).
Todos os solventes usados nas tintas (exceto a água) são considerados compostos orgânicos voláteis. Sua função é suavizar a viscosidade para facilitar a aplicação e manter a secagem homogênea. Enquanto a tinta seca, os COVs são liberados no ambiente.
Ainda não é possível saber, pelas embalagens dos produtos, qual é a quantidade de compostos que cada um tem. Mas Fazenda fornece uma pista: "Quanto mais brilho a tinta possui, mais solvente foi usado, portanto a presença de COVs é maior do que nas que não têm brilho".
Afirmar que uma tinta tem baixo odor não significa que esteja isenta de COVs. Há casos, por exemplo, em que tintas são feitas com solventes desodorizados.
Outro componente nocivo que pode ser encontrado em algumas tintas é o chumbo, que prejudica o fígado e o sistema nervoso central. "Isso ocorre em algumas cores de alguns produtos, como amarelos e verdes, em esmaltes e tintas a óleo, nunca nas à base de água", esclarece Fazenda.
Para combater o problema, há um projeto de lei, ainda em tramitação na Câmara dos Deputados, que fixa em 0,06% o nível máximo de chumbo nas tintas. "Um esmalte sintético pode ter 7%, 8% de chumbo, quantidade muito elevada", diz Fazenda.
Sem COVs
A boa notícia é que, no setor de tintas, já há dois fabricantes de produtos naturais, isentos de COVs. A Primamatéria produz uma tinta à base de terra (e que leva apenas uma pequena quantidade de cola PVA), e o Espaço Ecológica tem duas opções, minerais (leia mais no quadro acima).
Mas não é só a parede que pede cuidados. Para proteger a madeira do piso, o mais indicado é abrir mão de vernizes, que têm COVs, e adotar ceras e resinas que não contenham esses elementos.
Isso significa adotar receitas mais naturais. "A mistura de cera de carnaúba com óleo de linhaça é muito boa", sugere Araújo.
"Óleos e resinas vegetais penetram na madeira, não formam apenas uma película externa. Por isso se adaptam aos movimentos dela e o revestimento não sofre fissuras nem precisa ser lixado na manutenção", diz Luis Baleriola, gerente da Ecoquimia, fabricante espanhola de produtos naturais.

Produtos à base de terra ou de minerais não têm elementos nocivos, como COVs
Pintura com cal deixa a parede respirar e pode eliminar problemas com umidade
Tintas naturais são opções mais saudáveis
DA REDAÇÃO
Quando se fala em tinta feita com ingredientes como terra e cal, muitos acham que deve ser coisa de "natureba": ótimo para uma casa no meio do mato, mas que não serve para a da cidade.
Não é essa a opinião de quem já testou as tintas em solo metropolitano. "Não teve problema nenhum. Foi fácil de aplicar e pode chover e lavar com mangueira que a cor e a tinta não saem da parede de jeito nenhum", entusiasma-se a administradora Maria Helena Marcelino da Silva, 42.
Ela revestiu de tinta de terra, fabricada pela Primamatéria, a fachada das seis casas da vila que construiu -uma de cada cor.
"Usei em um muro com muita umidade. Apliquei a tinta à base de cal com rolo, ficou bem homogêneo, teve bom rendimento e, como a parede consegue respirar [absorver e liberar vapor de água], não tive problemas", conta o engenheiro Young Kim, 45, que usou a Ecotinta Mineral do Espaço Casa Ecológica.
Longe de serem feitas experimentalmente, as tintas elaboradas pelo Espaço Casa Ecológica e pela Primamatéria após muita pesquisa são as primeiras no país a serem formuladas sem compostos orgânicos voláteis, metais pesados e derivados de petróleo.
Lá fora, tintas que trocam esses componentes por minerais e terra não são novidade. Fabricantes como a italiana I Colori della Terra (www.icoloridellaterra.net) e a alemã Biofa (www.biofa.de) fabricam produtos assim há anos.
"O uso da argila está voltando à construção na Europa. Uma de suas boas qualidades é a de purificar o ambiente, pois ela filtra o ar que absorve. Além disso, ela não precisa ser cozida, o que elimina o consumo de energia na produção", comenta o arquiteto Gualberto Cappi, proprietário da I Colori della Terra.
"A terra é o coração da tinta. Dá boa cobertura, serve como aglutinante, pigmento e estrutura", elogia a arquiteta Letícia Achcar, que elabora a tinta da Primamatéria.
Mais saudável
A cal, presente nas tintas minerais, traz o benefício de deixar a parede "respirar", um antídoto contra problemas de umidade.
Ela permite que as paredes absorvam e liberem vapor d'água, o que ajuda a regular o nível de umidade. "Por isso serve como boa proteção em paredes expostas a intempéries e maresia, além de a cal ser um fungicida natural", acrescenta Márcio Araújo, consultor do Idhea e formulador da Ecotinta Mineral.
"Quando a umidade vem de dentro da parede, as tintas minerais têm ótima performance para evitar bolhas e manchas, porque deixam a superfície permeável ao vapor d'água", concorda Arthur Gil Moraes Filho, gerente da área de pesquisa e desenvolvimento da fabricante de tintas Lukscolor.
"Se a matéria-prima é boa, uma tinta à base de cal pode ter tanta qualidade quanto uma látex. Já testamos algumas que tiveram resistência a mais de 10 mil ciclos [esfregadelas]", ratifica Josias Marcelino da Silva, do laboratório de revestimentos do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo).
O único senão da Ecotinta Mineral é que não pode ser aplicada sobre massa acrílica nem sobre massa-corrida, porque não adere a esses materiais. "Também só pode ser lavada três meses depois de aplicada", acrescenta Araújo, do Idhea.
Mas não precisa necessariamente ser branca. A Ecotinta Mineral (R$ 95, 18 l) tem cores como vermelho, preto e amarelo.
Aplicação sem problema
A formulação dessas tintas pode ser diferente da das que se encontram nas prateleiras das lojas, mas seus atributos na hora da aplicação e o desempenho na parede são semelhantes.
Quem já aplicou aprovou tanto o rendimento como a cobertura. "Se eu não contasse para o pintor, ele nem desconfiaria que a tinta era mineral", brinca Kim.
Ao contrário da Ecotinta Mineral, a tinta de terra e a Ecotinta Plus podem ser usadas para a repintura, mas vedam a parede, mesmo que em graus mínimos. "Adere até a ferro", diz a arquiteta Ivone Rocha, da Primamatéria, sobre a de terra. "Pode ser aplicada sobre látex."(BMF)

Consumo atual em São Paulo só pode ser mantido por cinco anos, segundo Sabesp
Sistema de reúso e consumo racional do líquido amenizam pressão da demanda
Casa sustentável deve beber pouca água
Débora Didonê
Mariana Iwakura
Colaboração para a Folha
Consumir o mínimo de recursos naturais e fazer bom uso deles é indispensável à casa sustentável. No ambiente urbano, especialmente em uma metrópole, nenhum elemento traduz melhor essa preocupação do que a água.
Na Grande São Paulo, por exemplo, 4,1 bilhões de litros de água são consumidos diariamente pelas 18,2 milhões de pessoas que estão ligadas à rede de distribuição da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). Mas essa abundância pode chegar a um limite.
Nesse nível, o fornecimento só pode ser garantido para "os próximos cinco ou seis anos", segundo Paulo Massato Yoshimoto, diretor metropolitano da Sabesp. "Se continuarmos a crescer nessas taxas demográficas sem um programa forte de uso racional, a solução será buscar água em outras bacias", diagnostica.
Até agora, a solução para suprir o consumo na região metropolitana foi buscar outras fontes, segundo Yoshimoto, o que exige investimento e encarece a tarifa de fornecimento da água.
Para o professor Uriel Duarte, do Instituto de Geociências da USP (Universidade de São Paulo), a situação não chega a ser tão calamitosa. "O que temos de água é suficiente e sustentável. Poderíamos estar com até 5 milhões de habitantes a mais e mantermo-nos no mesmo ritmo de abastecimento", explica.
O fornecimento ideal para a população da Grande São Paulo é de 58 m3 a 62 m3 por segundo, de acordo com Duarte. Esses valores, aponta, são menores que o nível de fornecimento atual da Sabesp, que é de 66 m3 por segundo.
"Nós desperdiçamos água. Como temos um costume centrado no custo e a água é relativamente barata, não mantemos o espírito de economia. Mas, gastando menos, manteremos uma margem para o aumento populacional."
Uso racional
O melhor meio de solucionar o gargalo da água, segundo especialistas, não é investir em novas bacias, e sim na conscientização sobre o uso racional do insumo.
O primeiro passo é usar água potável somente quando for indispensável. "Na indústria e em atividades agrícolas, a água fornecida não precisa ser potável. Isso também vale para irrigar gramados, lavar calçadas ou veículos e para a descarga de vasos sanitários", enumera Aldo Rebouças, do IEA-USP (Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo).
Outro modo de poupar o líquido é reduzir seu consumo em chuveiros, vasos sanitários e torneiras. Adotar um sistema de reúso também diminui a pressão do consumo sobre o sistema de abastecimento (leia texto ao lado e quadro abaixo).
Para dar um impulso à economia de água, a Prefeitura de São Paulo aprovou recentemente a criação do Programa Municipal de Conservação e Uso Racional da Água em Edificações, que prevê o uso de bacias sanitárias, de torneiras e chuveiros econômicos e de hidrômetros individuais em condomínios.
A medida agradou a especialistas. "O problema é que ninguém vai fiscalizar essa lei", opina Ivanildo Hispanhol, presidente do Cirra (Centro Internacional de Reúso da Água).
O vereador Aurélio Nomura (PV-SP), autor do projeto, diz que o controle será possível por meio das próprias contas de água. "Elas apontam o consumo e, assim, pode-se verificar se os sistemas foram implantados ou não. Será como na época do apagão."
Em Curitiba, um levantamento mostrou que a cidade teria problemas de abastecimento ao atingir a marca de 5 milhões de habitantes em 2010. Por isso, em 2003, foi aprovada uma lei determinando que as edificações tenham bacias de 6 litros e medição individualizada para cada apartamento, além de opções para o reúso.

Redutores de vazão, arejadores e novas bacias limitam o fluxo no banheiro, onde mais se gasta água
Reúso e "pecinhas" reduzem consumo
Não dá para deixar a água rolar quando o assunto é desperdício. Especialmente em uma metrópole em que cada habitante manda 160 l dela para o ralo todo dia.
Em casa, o chuveiro, a pia do banheiro e o vaso sanitário são os três maiores beberrões. O chuveiro é o que mais consome - em 15 minutos de banho, uma ducha meio aberta escoa 135 l, 55% do consumo residencial.É justamente pelo chuveiro que se pode começar uma série de atitudes para reduzir o desperdício e tornar a morada mais sustentável.Para frear a vazão de duchas, basta colocar, entre o cano e o chuveiro, uma pecinha que custa R$ 12,50 e reduz o consumo em até 50% (veja quadro à esq.).Juntos, o vaso sanitário e as pias levam até 40% da água da casa. Para reduzir a gastança da pia, arejadores reduzem a vazão de 9 l para 6 l por minuto. Outra opção, mais cara, é adotar torneiras automáticas ou com sensores.Vasos sanitários são econômicos se forem novos, que usam, por lei, 6,8 l por fluxo (os mais velhos gastam, no mínimo, 9 l). "É preciso regular a descarga", alerta Felipe Nobre, engenheiro da área de aplicação da Deca.E pode-se usar menos se forem adotadas válvulas ou caixas acopladas de duplo fluxo, que usam 3 l para fazer a limpeza de dejetos líquidos e 6 l para os sólidos. A Deca faz a válvula, e a Geberit, a caixa acoplada (R$ 400 e R$ 895, respectivamente, na H2C).A tecnologia mais nova, que começa a ser instalada em shoppings e em aeroportos, é o esgoto a vácuo, que economiza 90% da água usada no vaso. "Usa-se 1,5 l", diz o engenheiro Flávio Toshio Kimori, da fabricante Evac. Cada vaso sai por R$ 2.500.ReúsoQuem quer ir além pode reaproveitar a água da chuva e a que iria para o esgoto. O primeiro sistema, mais simples, recolhe e filtra a água que vem da calha e a direciona para um reservatório.Foi o que fez o gerente de Vendas Osny Almeida, que queria "evitar alagamentos na calçada e no quintal". "Uso 2.000 l por mês para lavar o carro, a calçada e o quintal e regar o jardim", conta Almeida, que gastou R$ 1.500.A implantação exige cuidados. "Dispositivos descartam a água do início da chuva, que pode ser contaminada ao lavar o telhado. Também é preciso desinfetar o líquido antes do uso, para evitar contaminações no reservatório", alerta a professora Marina Ilha, da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas.Já o tratamento de água de esgoto para reúso é bem mais caro. "Além do custo dos componentes, que chega a R$ 5.000, tem o da instalação e o da mudança na rede hidráulica", explica o professor José Carlos Mierzwa, do departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da USP.(DD E MI)

Universidades e governo elaboram critérios para classificar as construções Segundo o governo, podem-se economizar 30% em prédios prontos e 50% em novos Brasil regulamenta eficiência energética
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Para o ambiente manter o pique, é indispensável que a casa seja projetada para usar bem a energia. Afinal, dados do Ministério de Minas e Energia mostram que 48% do consumo de eletricidade no Brasil vem de construções residenciais, comerciais ou públicas.Essa não é uma tarefa difícil. Segundo as projeções do governo, há potencial para economizar cerca de 30% da energia gasta em prédios já construídos e até 50% nos novos. As armas para isso são projetos que saibam usar a luz e a ventilação natural e olho vivo na escolha de tudo que pode ser ligado na tomada.Outro reforço de peso é a certificação em eficiência energética das construções, que está sendo formulada em um convênio entre governo federal e universidades (como USP, Unicamp e Universidade Federal de Santa Catarina).O resultado será uma regulamentação baseada em indicadores referenciais mínimos de eficiência energética em construções e que embasará critérios para classificar prédios. Serão estipulados valores máximos de consumo ou mínimos de eficiência para tudo o que consumir energia.Para ajudar na tarefa, será usado um programa de simulação do desempenho térmico e energético de uma edificação, o EnergyPlus. O uso da ferramenta permitirá que os projetos de novas edificações ou de reformas sejam avaliados antes de sua execução.A certificação brasileira deverá ser voluntária, a exemplo do que acontece nos Estados Unidos, segundo o professor Roberto Lamberts, coordenador do Labeee (Laboratório de Eficiência Energética em Edificações) da UFSC. "Acreditamos que esses parâmetros vão movimentar o mercado", afirma Lamberts, já que serão um componente a mais a ser "vendido" nos projetos.Os índices precisarão levar em conta o clima de cada região. A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) aprovou recentemente a norma NBR 15.220-3, que divide as regiões do país em zonas de acordo com o clima, o que deve ajudar no trabalho.Estados Unidos, Canadá, México, Reino Unido e Austrália já contam com algum tipo de norma ou lei tratando da eficiência energética em edificações.Projeto adequadoO Brasil já tem uma lei que dispõe sobre a Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia, que trata também de máquinas e motores, mas o trecho que aborda as edificações ainda não foi regulamentado.Para Lamberts, no entanto, a regulamentação mínima não deverá ser muito elevada. "O usuário brasileiro consome uma sexta parte do que o norte-americano gasta. Ainda temos várias casas no Brasil com nível de conforto térmico abaixo do desejável." A previsão é que o texto das normas esteja pronto em um ano.Qualquer projeto pode prever ventilação, iluminação e isolamento térmico adequados. A simples instalação de persianas nas janelas dos quartos pode fazer uma boa diferença."Em Florianópolis [SC], é comum prever, em alguns projetos, apenas janelas de vidro nos quartos, o que obriga os moradores a instalar blecautes para bloquear a luz e, com o calor, ar-condicionado", diagnostica Lamberts.Teto brancoSe houver telhado sobre o imóvel, a dica de Lamberts é fazer isolamento na cobertura. "Podem-se pintar telhas de branco para manter a temperatura agradável."Já Teófilo Miguel de Souza, coordenador do Centro de Energias Renováveis da Faculdade de Engenharia da Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho), prega que teto, paredes e pisos sejam pintados na cor gelo ou branca.A edificação deve ainda ter janelas amplas e sistema de circulação de ar eficiente. Outro meio de economizar é usar aquecimento solar e lâmpadas fluorescentes compactas em abajures, em vez de iluminação no teto.É bom, no entanto, perguntar ao vendedor o tempo de vida útil do reator da fluorescente. Se for inferior ao da lâmpada incandescente, poderá não valer a pena."Na Europa e na Ásia são adotadas também medidas como comprar aparelhos eletroeletrônicos mais eficientes", diz Souza.(RGV)

Troca de aparelhos e fontes alternativas auxiliam economia Placa fotovoltaica e gás dispensam eletricidade
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Os aparelhos eletroeletrônicos são a chave para dar mais força à economia de energia. Para ajudar na escolha, o Ministério de Minas e Energia (MME) lançou o Procel (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica) e, com o Laboratório de Eficiência Energética em Edificações da UFSC, o projeto da Casa Eficiente.O objetivo é pesquisar soluções inovadoras para o uso racional de energia e servir de vitrina para tecnologias de ponta em eficiência energética e conforto ambiental (veja www.eletrobras.gov.br/ procel/site/home).A troca dos "gastões" de energia começa pelo chuveiro elétrico, que consome de 25% a 40% do total da casa e pode dar lugar ao aquecimento solar.Segundo Ricardo Rüther, coordenador da área fotovoltaica do Labsolar (Laboratório de Engenharia de Processos e Tecnologia de Energia) da UFSC, o gasto para instalar o sistema é de R$ 2.000 a R$ 3.000, e o retorno do investimento vem em quatro anos.A equipe do professor Teófilo Miguel de Souza desenvolveu um aquecedor solar inteligente, que leva a água a atingir temperaturas três vezes maiores e custa dez vezes menos que os convencionais.Seu custo aproximado é de R$ 300, segundo o professor. Seus componentes são os responsáveis pela queda no custo: o motor que movimenta a placa para acompanhar a trajetória do sol, por exemplo, é similar ao de uma furadeira elétrica. O grupo também projetou outro modelo de aquecedor, fixo, que é ainda mais econômico, pois não tem motor.
Em prédios, é difícil instalar o aquecedor solar. A solução é o aquecimento a gás, que proporciona cerca de 5% de economia na conta de energia elétrica.
O gás também abastece eletrodomésticos mais econômicos, como secadoras e geladeiras (veja quadro à esquerda). Mas essa opção não seduz os especialistas. "Em áreas urbanas, não faz muito sentido usar aparelhos a gás", critica Roberto Lamberts, da UFSC. Para ele, as geladeiras elétricas são muito eficientes.
Geração de energia
Outra opção para reduzir o consumo de eletricidade é a geração por placas fotovoltaicas, que transformam a luz do sol em energia elétrica. É o que vai acontecer quando a Casa Eficiente estiver pronta, conta Rüther.
"É possível gerar toda a energia de que uma casa precisa. Depende de espaço no telhado e da localização da casa", conta. O sistema, porém, ainda é muito caro.
Em países como Alemanha, Japão e Estados Unidos, já há incentivos nesse sentido. Na Alemanha, arrojada na área, o consumidor instala o sistema e, daí em diante, a tarifa de energia passa a custar cinco vezes menos do que a energia que ele "vende" ao governo.
"Vira um bom negócio", avalia Rüther. No Japão e nos Estados Unidos, o governo financia parcialmente a instalação da tecnologia. No Brasil, cada kWh residencial que provém da rede elétrica custa cerca de R$ 0,40. O kWh fotogerado custa R$ 0,70.
"Se houvesse incentivo de 50% do governo, o custo já seria competitivo. Na Europa, pessoas fazem grupos para financiar a tecnologia para uso coletivo."
Para não desperdiçar eletricidade, é bom ficar de olho em fios e cabos adequados para a instalação elétrica. Segundo Edson Martinho, consultor do Procobre (Instituto Brasileiro do Cobre), é importante observar se o cabo possui selos do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial) e de pelo menos uma certificadora.
O dimensionamento dos cabos é essencial para evitar desperdício e incêndios, pois o fio errado sobrecarrega o sistema. Em imóveis residenciais, o fio das tomadas deve ter no mínimo 2,5 mm2.
Para um chuveiro elétrico, o ideal é um fio de 6 mm2. Os disjuntores têm de ser de boa qualidade, com selo do Inmetro.(RGV)

Prensado em fôrmas ou como tijolo, barro dá bom conforto termoacústico
Material não é queimado, por isso não polui o ar como blocos e tijolos cozidos
Terra sai do chão e vai para a parede
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A matéria-prima não é nova: a terra vem sendo usada para fazer moradias desde a Pré-História. Mesmo assim, até hoje não há material mais saudável para erguer uma parede.
A terra crua leva a vantagem de não ser poluente, não consumir energia na produção e ter baixo custo, enquanto tijolos cozidos e blocos cerâmicos e de concreto demandam bastante energia para serem produzidos e poluem o ar com emissões de gás carbônico.
Os especialistas apontam outras vantagens consideráveis na construção com terra: o bom isolamento térmico e acústico do ambiente, o caráter de não-propagação do fogo e a alta resistência.
A crise energética e as discussões sobre os efeitos da poluição do ar vêm estimulando estudos sobre novas técnicas para a aplicação do barro na construção civil. Mas, no Brasil, a técnica não reconquistou a popularidade dos tempos coloniais.
"É uma questão cultural. No atual contexto de consumismo, todos sonham em poder comprar produtos comercializados nas lojas", opina Akemi Ino, coordenadora do Habis (Grupo de Pesquisa em Habitação e Sustentabilidade), da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC-USP).
Técnicas de construção
Ao contrário do que muitos pensam, é possível construir uma casa de terra com as mesmas qualidade e aparência das que utilizaram tijolos ou blocos.
"As pessoas partem do princípio de que o objetivo de construir com terra é economizar. Isso está errado. A maior motivação é ser sustentável", diz o arquiteto Paulo Montoro, entusiasta da técnica e dono de um sobrado construído em taipa de pilão (terra socada com pilão dentro de fôrmas).
Entre as técnicas mais utilizadas na construção com terra, estão o adobe (veja como é feito no quadro acima), a taipa de pilão, o tijolo prensado e a taipa de mão.
Na taipa de pilão, uma mistura de terra é apiloada em camadas em uma fôrma tipo sanduíche, tornando-se um bloco monolítico, que será a parede. Na taipa de mão, o barro é estruturado em armações de bambu.
Para fazer tijolo prensado, a terra é compactada em uma prensa (manual ou não) e colocada para secar na sombra.
Custo
Segundo Montoro, o preço da construção depende do sistema utilizado. "Pouca gente conhece as técnicas, é preciso encontrar o tipo de terra certo, há muitas variáveis. Isso tudo pode até encarecer a obra", alerta o arquiteto.
"A terra é de graça. Dependendo do método e com mutirão na construção, o custo pode ser zero", defende o engenheiro Edmilson Federzoni, embora ele admita que a mão-de-obra é fator encarecedor. "É rara em São Paulo."
Outra coisa que encarece esse tipo de construção é a indisponibilidade de terra de qualidade. Isso obrigaria o empreiteiro a "importá-la" (e gastar com o transporte) ou incrementá-la com aditivos, como cal, areia e até soro de leite.
Federzoni está capitaneando o projeto da Ecovila Clareando, na cidade de Piracaia (90 km de São Paulo), que prevê a construção de 80 a 85 residências que deverão seguir as diretrizes de sustentabilidade da Agenda 21 mundial (usar materiais ecologicamente corretos, de preferência produzidos nas redondezas).
O local deverá comportar casas de vários padrões, afirma. "Estamos montando uma equipe que veio de uma cidade do interior da Bahia, onde todas as casas são de adobe, para fazer os tijolos para nós. Então, o custo será somente o da mão-de-obra nesse quesito", conta Federzoni.
Os preços finais vão variar de projeto para projeto, mas, de maneira geral, ele acredita que acabarão ficando inferiores aos das casas convencionais. "Os materiais que realmente influenciam o custo final de uma obra são os acabamentos. Tentaremos fazer uma otimização desses itens."(RENATA DE GÁSPARI VALDEJÃO)

Entulho de alvenaria vira areia e brita e é usado no concreto para base de pisos
Duas áreas de transbordo reciclam e vendem agregados na Grande São Paulo
Restos de obra viram concreto de novo
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A preocupação com a sustentabilidade não acaba na definição dos materiais que serão usados na obra. Para fechar o ciclo, é importante saber o que será feito com os restos do canteiro e com o entulho gerado em demolições.
Em São Paulo, construções e reformas geram 17 mil toneladas de entulho por dia, volume que representa o dobro do que é descartado no lixo domiciliar.
Cerca de 95% desse volume vem de obras privadas. Desse total, 85% são transportados por empresas particulares, e o restante (15%) acaba virando problema de limpeza pública: é despejado em áreas públicas ou terrenos por transportadores "autônomos".
Em 2002, o governo federal deu início à tentativa de organizar esse quadro. A resolução 307, do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), estabeleceu que os geradores de resíduos da construção civil devem ser responsáveis por seu entulho (saiba mais no quadro acima).Ela também prevê que o engenheiro e o dono da obra possam ser multados se a transportadora for flagrada despejando o conteúdo de caçambas em área irregular.
A resolução entrou em vigor neste ano e foi o pontapé inicial para que os municípios implantassem planos de gerenciamento desses resíduos. Em São Paulo, porém, esse projeto ainda não virou lei, o que dificulta a punição de quem não seguir as diretrizes da resolução.
Entulho reciclado
O que sai de uma obra pode ser usado em outra. Isso porque os restos de alvenaria demolida podem ser moídos e peneirados, substituindo matérias-primas como areia e brita para fazer concreto, o que reduz a extração desses recursos da natureza. Esse concreto reciclado geralmente é usado como base para pavimentação.
Na Grande São Paulo, duas ATTs reciclam esse entulho e vendem agregados reciclados. Os ecopontos encaminham o que recebem para a reciclagem (veja quadro acima).
Os quatro ecopontos (Bresser, Tatuapé, Pinheiros e Santo Amaro) recebem até 1 m3 de entulho. Outros dois deverão ser inaugurados nos bairros de Vila Prudente e São Miguel Paulista.
Ainda é pouco: a cidade recicla apenas 500 toneladas, 3% do que produz por dia. Belo Horizonte, que tem o melhor índice do país, recicla 20% do entulho.
Novas ATTs
São Paulo tem só duas ATTs legais, mas oito estão em licenciamento. Desde outubro, o processo ficou mais ágil. Uma portaria do prefeito José Serra (PSDB) permite conceder licenças provisórias, que saem em até 15 dias.
O dono da ATT tem um ano para regularizar o empreendimento e, se provar que está com o licenciamento definitivo em curso, sua licença será renovada.
"Isso vai desobstruir o processo", elogia o arquiteto Tarcísio de Paula Pinto, responsável pelos planos de gestão das prefeituras de São Paulo e de Guarulhos e consultor técnico do Conama.
Para quem não mora perto de nenhum ecoponto ou ATT e vai fazer uma reforma, a dica na hora de contratar um serviço de recolhimento de entulho é verificar na prefeitura se o serviço é cadastrado (pelo telefone 156 ou pelo site www.limpurb.sp.gov.br). É importante pedir uma cópia do Controle de Transporte de Resíduos (CTR), que indica qual foi a destinação do entulho.
O contratante deverá exigir que o material seja levado a um local adequado, pois poderá ser responsabilizado legalmente se isso não ocorrer. Para combater a clandestinidade, a prefeitura regulamentou as caçambas. Sua permanência máxima nas ruas passará de cinco para três dias.(RENATA DE GÁSPARI VALDEJÃO)

FSP, 27/11/2005, Especial-Construcão, p. 1-10

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