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Casa de rezas marca criação de pólo indígena

Estado de S. Paulo-São Paulo-SP
Autor: CLÁUDIO VIEIRA
25 de Abr de 2003

Opy inaugurada no sábado deve receber, com apoio da Unesco, caciques de todo o País

Jacupé, do Arapoty: "Queremos manter os nossos valores, que é o que vale ser respeitado"

Com um ritual de purificação, o Instituto Arapoty inaugurou no sábado, Dia do Índio, a opy (casa de rezas) da Aldeia do Saber Sagrado, em Itapecerica da Serra. Segundo o diretor da organização, Kaká Werá Jacupé, trata-se do primeiro passo para transformar o espaço em uma aldeia modelo, um pólo para discussão de propostas para os povos indígenas brasileiros, envolvendo sábios e chefes de diversos aldeamentos. "Para os guaranis, a opy é o centro de toda a aldeia."

Para marcar o evento, foi queimado tabaco, que serviu para consagrar as pessoas presentes e as portas leste (onde o sol entra), oeste (onde o sol se põe), norte (lugar dos ancestrais) e sul (espaço dos espíritos que curam) da opy. Durante o evento, também foram soltos periquitos, em meio a preces por paz, serenidade e harmonia.

Em setembro, com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), o local receberá um atyguaçu, um conselho para o qual se esperam representantes de 80 representantes de povos guarani, pataxó, cariri e caigangue de todo o País. "Queremos apresentar propostas para o desenvolvimento das tribos, mantendo os valores, que é o que vale ser preservado, o respeito à terra, às culturas, às diferenças", diz Jacupé.

Cursos - Ao mesmo tempo, se busca trazer a sociedade para conhecer esses valores. A opy, por exemplo, foi construída durante um workshop de três meses com moradores da região. No local, haverá ainda programas pagos de plantas medicinais, educação ambiental, danças sagradas e cultura indígena.

Com apoio da prefeitura, de doações particulares, de empresas e de ONGs como o SOS Mata Atlântica, o Arapoty pretende estabelecer ali viveiros de espécies nativas. "Vamos reflorestar um área de 100 mil metros quadrados, anteriormente ocupada por uma carvoaria", diz o engenheiro agrônomo Marco Antonio de Melo Galan, responsável pelos espaços verdes municipais. "Essa área, no novo Plano Diretor, está definida como reserva ecológica, podendo ter, no mínimo, lotes de 20 mil metros quadrados."

O Arapoty, que mantém um escritório na Universidade de São Paulo (USP), na Cidade Universitária, preocupa-se em repensar a convivência do índio com a comunidade. "Antigamente, ele vivia do ecossistema, isolado. Aqui no Sudeste, até seu artesanato, de cipós e taquaras, estava voltado para objetos utilitários. Hoje, com 5% do território natural antigo, precisa aprender a criar novas formas de subsistência", afirma Jacupé, um tapuia criado pelos guaranis.

Para Jacupé, em regiões urbanas o processo de integração urbana não é mais contornável. Deve-se trabalhar a conscientização dos jovens para garantir a manutenção da cultura. "O jovem índio não tem muito interesse nas raízes, mas têm interesse em sobreviver."

A solução seria desenvolver um artesanato que não seja apenas utilitário, mas tenha fins comerciais que permitam a manutenção dos aldeamentos.

Tupinambás - O futuro dessas comunidades também passa por um "reconhecimento etnológico", pois cada vez mais a cidade vai ocupando espaços em sua vida. "Antigamente, pensava-se que os tupinambás haviam sido extintos após um grande embate com os brancos em Cabo Frio, no século 16. No entanto, uma parte do grupo escapou da morte e hoje há pessoas em Cabo Frio que, com o apoio de historiadores, vêm solicitando o reconhecimento de sua etnia como tupinambá", diz Jacupé

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