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Carro leva 30% das pessoas, e responde por 73% da poluição

OESP, Metrópole, p. A8
23 de Mai de 2017

Carro leva 30% das pessoas, e responde por 73% da poluição
Análise inédita calcula o papel de cada modo de transporte na concentração de gases de efeito estufa na capital paulista

Giovana Girardi

A preferência dos paulistanos pelos carros particulares têm impacto não somente no trânsito da cidade, mas também sobre a qualidade do ar e o aquecimento do planeta. Análise inédita sobre a contribuição de cada modo de transporte de passageiros nas emissões de poluentes revela que os carros são responsáveis por 72,6% das emissões de gases de efeito estufa do setor, apesar de transportarem cerca de 30% dos passageiros. Valores semelhantes ocorrem para outros gases poluentes, que fazem mal à saúde.
Os dados, obtidos com exclusividade pelo Estado, fazem parte do Inventário de Emissões Atmosféricas do Transporte Rodoviário de Passageiros no Município de São Paulo, que será lançado nesta terça-feira, 23, pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema).
O levantamento mostra o impacto da escolha pelos carros em vários indicadores. Um deles é o de distância percorrida. O total de carros e o total de ônibus transportam volume parecido de pessoas na cidade (cerca de 30% contra 40%), segundo Pesquisa Origem e Destino. Mas, conforme os cálculos do Iema, os carros ocupam 88% do espaço das vias, ante somente 3% usados pelos ônibus.
"É bastante chocante quando se juntam todos esses números. Temos mais de 70% das emissões de gases estufa para transportar 1/3 dos passageiros, ocupando quase 90% do território da cidade", resume o pesquisador David Tsai. "É uma ineficiência tanto pelo uso do espaço público quanto pelo consumo de energia", diz.
Outra forma de ver isso é pela quantidade de gases de efeito estufa que é emitida por uma pessoa por quilômetros percorridos em cada modal. Andando sozinho de carro, o passageiro vai emitir 65,8 gramas de gás carbônico-equivalente (CO2-e) por quilômetro, quase quatro vezes mais do que faria se estivesse em um ônibus com outras pessoas (17 gramas).
Impacto total
O inventário oficial de emissões da cidade, organizado pela Prefeitura, já tinha mostrado que o setor de transportes respondia por 61% das emissões totais, segundo dados de 2011. O novo estudo inova ao mostrar o papel de cada modo de veículo, assim como as emissões distribuídas pela cidade e por horário ao longo do dia. Os dados estão disponíveis em plataforma online no site Inventário de Emissões Atmosféricas do Transporte Rodoviário de Passageiros no Município de São Paulo.
Para chegar a esse resultado, os pesquisadores trabalharam com estimativas de emissões com base em dados oficiais já disponíveis, como a quilometragem percorrida pelos veículos nas vias ao longo do dia, fornecida pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e fatores de emissões do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Procomve) adaptados para refletir o impacto de congestionamento nas velocidades. Via de regra, quanto mais tempo parado fica o veículo, mais ele emite poluentes.
A ferramenta, explica Tsai, tem como objetivo ajudar a encontrar as soluções mais adequadas para o transporte da cidade. "Antes de implementar uma medida como redução de ciclovias ou de faixas exclusivas de ônibus (como já ocorreu no Viaduto Nove de Julho) ou de mudança de tecnologia, como trocas de combustíveis, é possível checar com o inventário o impacto que elas podem ter", afirma. A ideia é que ele sirva, por exemplo, nas discussões sobre a nova licitação de ônibus que vai responder pelos próximos 10 anos.
O trabalho dialoga com outro estudo feito pelo Iema que mostrou que de 2012 para 2014 a velocidade de ônibus na capital cresceu em média 14% em locais que passaram a ser servidos com faixas de ônibus. Enquanto as emissões caíram de gases de efeito estufa caíram 5%. O trabalho está em: www.energiaeambiente.org.br/faixas.

Automóvel também emite gases que prejudicam saúde

O peso dos carros na poluição da cidade também ganha destaque quando se analisam os gases com potencial de causar danos à saúde, como o material particulado (MP) e os chamados hidrocarbonetos não metanos (NMHC), ambos relacionados com problemas respiratórios.
De acordo com o Inventário de Emissões Atmosféricas do Transporte Rodoviário de Passageiros no Município de São Paulo, dependendo do horário de circulação, os carros chegam a responder por mais de 80% das emissões de MP. Para este poluente, o município tem sistematicamente ultrapassado padrões de qualidade do ar. O mesmo se vê com o NMHC, do qual os carros chegam a ser responsáveis por 87% das emissões nos horários mais críticos de trânsito.
Os ônibus só lideram as emissões de óxidos de nitrogênio (79%), ligados à queima do diesel. Os NOx são precursores, junto com o NMHC, de ozônio, também prejudicial à saúde.

OESP, 23/05/2017, Metrópole, p. A8

http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,carros-transporta…

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