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Carga pesada

O Globo, Ciência, p. 40
16 de Ago de 2013

Carga pesada
Tempestades elétricas cresceram 79% no Brasil em 60 anos, revela estudo inédito do Inpe

A incidência de raios aumentou fortemente nas grandes cidades brasileiras nas últimas décadas, indica pesquisa inédita do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Os cientistas do Inpe levantaram dados acumulados de 1910 a 2010 em 14 concentrações urbanas do país com mais de 500 mil habitantes e verificaram uma alta de 79% no número de dias com tempestades elétricas nos últimos 60 anos na comparação com a primeira metade do século XX. De acordo com o estudo, o período entre 1910 e 1950 teve em média, para cada ano, 43 dias com raios em cada uma das 14 cidades espalhadas por todas as regiões do Brasil, contra 77 em 2010.
Mas enquanto algumas cidades brasileiras praticamente não tiveram variação no número de dias com tempestades elétricas nas últimas décadas, como o Rio, onde foi registrada uma queda de 3%, outras viram um crescimento vertiginoso, como Natal, onde subiram 400%. Segundo Osmar Pinto Júnior, coordenador do Elat, o caso do Rio é especial tanto por questões geográficas quanto demográficas. Em 1910, a cidade já contava com mais de 2 milhões de habitantes e estava em franco processo de urbanização, apontado por ele como a principal causa do fenômeno.
- Além disso, o Rio está à beira-mar e rodeado por cadeias de montanhas, o que ajuda a minimizar os efeitos da urbanização - diz Osmar, que admite, porém, que a cidade pode estar sendo atingida por mais raios. - Existem indícios que as tempestades elétricas estão ficando mais fortes no Rio, mas nosso levantamento não verificou a intensidade delas, apenas a quantidade. J
á com relação a Natal e outras capitais litorâneas do Nordeste, os fortes aumentos percentuais são também um efeito estatístico, destaca Osmar:
- O litoral do Nordeste é uma região muito pouco sujeita a tempestades elétricas. Assim, qualquer oscilação provoca um grande aumento percentual.

URBANIZAÇÃO REFORÇA FENÔMENO
Osmar conta que a urbanização está por trás do crescimento nos dias com tempestades elétricas nas cidades. Em 1950, 64% dos brasileiros viviam em zonas rurais, contra 36% nas cidades. Já em 2010, 84% estavam em zonas urbanas e apenas 16% no campo.
- A urbanização criou dois fenômenos. O primeiro é o das ilhas de calor: à medida que a vegetação natural é substituída pelo asfalto e os prédios dificultam a circulação de ar, as cidades ficam muito mais quentes que o seu entorno, e qualquer pessoa que já viu um balão sabe que o ar quente é mais leve e sobe.
Dessa forma, o vapor d'água no ar esfria, vira gotículas e depois gelo. E a fricção entre estas partículas de gelo deixam elas carregadas eletricamente, daí temos os raios - explica ele, acrescentando que as ilhas de calor reforçam o processo ao fazer o ar quente subir mais rápido e alto, favorecendo a formação de gelo.
A outra consequência da urbanização que ajuda na elevação na incidência de raios é o aumento considerável da poluição atmosférica, principalmente a proveniente da queima de combustível por veículos, problema grave, por exemplo, em São Paulo, onde os dias com tempestades elétricas mais que dobraram nos últimos 60 anos.
- Com isso, são jogadas grandes quantidades de partículas no ar que facilitam a formação do gelo, já que também é necessária a presença de núcleos em torno dos quais ele possa se condensar - conta. - Assim, as ilhas de calor e a poluição geram mais gelo, então temos mais partículas batendo umas nas outras, mais carga se acumulando e, por fim, mais raios.
Segundo Osmar, o próximo passo das pesquisas será analisar a variação na intensidade das tempestades elétricas no país, assim como sua relação com fenômenos climáticos que afetam o Brasil, como La Niña, El Niño, a elevação da temperatura da água no Atlântico Sul e as mudanças climáticas:
- Apesar da urbanização, não podemos descartar que parte do aumento seja devido ao aquecimento global, mas ainda é difícil fazer a associação.

O Globo, 16/08/2013, Ciência, p. 40

http://oglobo.globo.com/ciencia/tempestades-eletricas-estao-mais-freque…

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