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Carência de doutores atrapalha o Pará

Folha do Progresso (PA) - http://migre.me/kS7A
22 de Fev de 2010

A carência de profissionais com formação especializada no Pará é uma das principais barreiras que impedem o desenvolvimento da região. Atualmente, o Estado conta com 83.401 alunos de graduação; 2.247 de mestrados; 636 de doutorado e 1.504 doutores, segundo dados da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará (Fapespa). Os números, porém, estão bem abaixo do esperado ou do necessário.

'Se nós fossemos fazer uma conta, precisaríamos, no mínimo, triplicar a quantidade de doutores, em um curto prazo', afirma o professor doutor Ubiratan Holanda Bezerra, presidente da Fapespa. Ele destaca que o doutor é peça fundamental para uma série de funções ligadas ao desenvolvimento.

'É elemento 'capitalizador' de recursos e grupos de pesquisas que vão gerar desenvolvimento às empresas', afirma. Ao se fazer comparação com outros estados brasileiros, o problema enfrentado pelo Pará fica mais explícito. Só o Estado de Santa Catarina, por exemplo, conta com 3.360 mestrandos, 2.061 doutorandos e 3.100 doutores.

Com suas riquezas naturais, minerais e energéticas, o Pará tem tudo para se tornar modelo de desenvolvimento fortemente atrelado ao uso da ciência e tecnologia. Mas, para isso, ainda precisa investir pesado na formação de recursos humanos.

Ubiratan explica que a grande maioria dos cursos de doutorado está centrada na Universidade Federal do Pará (UFPA). 'Tem que ampliar esses cursos para outras instituições', reforça.

Para isso, a instituição conta com quatro parques de ciência e tecnologia: Guamá, Tocantins (Marabá), Tapajós (Santarém) e Tucuruí.

'É um ambiente privado, onde as pessoas se instalam em busca de tecnologia para inovar nos seus produtos', explica Ubiratan. Além disso, a Fapespa oferece 370 bolsas para mestrado e 180 para doutorado. Neste mês, os interessados podem se candidatar para uma das 25 bolsas para doutorado e 60 para mestrado, através do site da instituição (www.fapespa.pa.gov.br).

Os esforços, porém, ainda estão longe de conseguir zerar o déficit de doutores e mestres no Estado. 'É preciso fazer programas de formação, aumentando o número de vagas dos atuais cursos, e criar atrações para os doutores vindos de fora', diz Ubiratan Holanda. Segundo ele, as áreas de engenharia, tecnológicas e de mineração são as que precisam ser mais incentivadas.

O diretor do Museu Paraense Emílio Goeldi, Nilson Gabas Junior, afirma que existe outro problema crônico: a dificuldade de manter os melhores pesquisadores e doutores no Estado.

'É tão difícil que a gente faz concurso, a pessoa passa, mas logo abre outro concurso lá fora e ela vai embora', lamenta. A maioria dos que hoje ajudam no desenvolvimento científico e tecnológico da região vem de outros Estados ou países.

Um deles é o norte-americano Denny Moore, PhD em Antropologia e Linguística pela City University of New York, é exceção (ver matéria nesta página).

Só candidatos de fora em concurso

No último concurso do Museu Goeldi, os sete candidatos inscritos para as duas áreas de pesquisador (Antropologia Social e Botânica) eram de fora. Além disso, dos 55 doutores lotados no Museu Goeldi, oito são de fora do Pará.

O próprio diretor do Goeldi, Nilson Gabas Junior, pesquisador em linguística indígena, é natural de Campinas, em São Paulo. Isto é resultado de uma situação considerada, no mínimo, irônica para uma região como a Amazônica. Não existe sequer programa de doutorado em botânica na Região. Apenas mestrado.

'Isso tem uma causa: você ainda não tem bons programas estruturados em nível de doutorado. Tem áreas que o Brasil é carente, como arqueologia e linguística indígena', diz Gabas Junior.

Ele afirma que mecanismos mais eficientes de atração e manutenção de pesquisadores sempre foram uma demanda histórica, não só de entidades de pesquisa como da própria sociedade.

'O que está na pauta é mudança climática, biodiversidade, desenvolvimento sustentável e preservação de movimentos culturais. Portanto, existe uma carência maior para tudo que está ligado à essas áreas', conclui o pesquisador.

AMAZÔNIA

Enquanto uns vão embora atrás de estabilididade e melhor oportunidade de emprego, há quem resista às dificuldades impostas e permaneça na região pelo simples prazer de pesquisar a Amazônia e poder colocar em prática, na maior floresta do mundo, tudo o que aprendeu entre as quatro paredes de instituições de ensino Brasil afora. É o caso do norte-americano Denny Moore, PhD em Antropologia e Linguística pela City University of New York.

Ele chegou ao Pará em 1986, como bolsista. Passou 14 anos trabalhando como temporário, fazendo pesquisa, treinando alunos e ajudando no desenvolvimento do Estado. Tendo no currículo uma Medalha de Honra ao Mérito do CNPq (1995) e uma bolsa MacArthur ('Prêmio de Gênio', 1999) dos Estados Unidos, várias ofertas de emprego apareceram, tanto no Brasil quanto no exterior. Mas ele recusou todas.

'É interessante o trabalho na Amazônia. A gente aprende coisas constantemente - e é uma região que precisa de cientistas -, sente que está contribuindo com alguma coisa. A gente faz mais impacto aqui, onde tem mais necessidade. Tem a possibilidade de desenvolver ciência na Amazônia', explica.

Denny afirma, entretanto, que os cientista não procuram outros Estados atrás de melhores ofertas, mas sim por não encontrarem vagas em uma região que tanto precisa deste tipo de profissional.

'Várias pessoas bem qualificadas querem trabalhar aqui, mas não tem vaga. No meu caso, eu passei 14 anos aqui, sem emprego, apesar da falta de linguistas, num Estado com 25 línguas indígenas. Finalmente abriu vaga e entrei. As pessoas falam em desenvolver a Amazônia, mas não fazem o necessário para isso acontecer. O futuro da instituição realmente depende da aquisição de mais cientistas. Tem muito talento no Pará que precisa de cuidado e bom treinamento para alcançar seu potencial. Dos bolsistas da área de linguística, 18 já se doutoraram em centros excelentes. A Amazônia não tem que ficar atrás das outras regiões', reforça.

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