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Captura irregular ameaça pesca da lagosta no país

FSP, Agrofolha, p. B10
25 de Jul de 2006

Captura irregular ameaça pesca da lagosta no país
Quantidade de crustáceos diminui, e barcos nem saem dos portos no Nordeste
No Ceará, exportações caíram 55% em maio sobre o mesmo período de 2005; custo elevado desestimula pescadores artesanais

Kamila Fernandes

A pesca da lagosta, como atividade econômica, está ameaçada de extinção no país. A maioria dos barcos que deveriam estar no mar para a captura do crustáceo, que ficou protegido durante os quatro primeiros meses do ano para a reprodução -o período do defeso-, continua ancorada nos portos das cidades pesqueiras do Nordeste. Não há lagosta suficiente para ser pescada.
A pesca predatória tornou a lagosta artigo cada vez mais raro no mar nordestino. Antes, um barco chegava a capturar cem quilos por dia. Agora, não chega a 40 quilos por mês, em alguns casos.
Os reflexos disso chegaram às exportações. Principal Estado exportador do crustáceo, o Ceará vendeu, em maio, 55,3% menos do que no mesmo período de 2005. O mês é significativo por ser o primeiro logo depois do defeso, quando a produção da lagosta deveria ser alta.
A situação é semelhante no restante do Nordeste. Em maio, as exportações na região foram 50,8% menores do que no mesmo mês de 2005. A queda na captura da lagosta se tornou histórica. Em 20 anos, as perdas já somam mais de 63%.
Os resultados da pesca da lagosta não são suficientes nem para cobrir os custos com a empreitada, no caso dos barcos motorizados. Como é necessário ficar vários dias no mar e a longas distâncias, é preciso comprar óleo, diesel, gelo, alimentação, iscas e mecanismos de captura.
Os custos para o pescador artesanal, que pesca em barcos sem motor, como jangadas, são bem menores, mas, ainda assim, não está valendo a pena ir ao mar. A pequenas distâncias da costa, que é onde ele pesca, a lagosta está ainda mais rara.
Na Prainha do Canto Verde, comunidade de pescadores, em Beberibe (a 100 km de Fortaleza), apenas quatro embarcações continuam no mar, atrás de lagosta. Boa parte dos 150 pescadores do vilarejo desistiu do crustáceo e está tentando sobreviver com a pesca de outros peixes. Alguns, porque só sabem pescar lagosta, ainda sobrevivem com o apoio do seguro-desemprego, pago nos meses do defeso, de janeiro a abril.
"A pesca da lagosta está ameaçada de extinção, não a lagosta. Se hoje o Estado decidir colocar todo o setor em ordem e toda a pesca começar a ser feita de modo correto e com responsabilidade, será possível voltar ao normal em três ou quatro anos", disse René Scherer, líder da comunidade.
Para pescar a lagosta, é necessário ter uma autorização da Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca. Pode-se usar como mecanismos de captura o manzuá, o cogo ou a cangaia, que são armadilhas com malha superior a cinco centímetros, de forma a não pegar peixes e crustáceos pequenos demais.
O que é mais utilizado, porém, é o compressor, por capturar a lagosta com mais facilidade. Tal equipamento é proibido, considerado predatório por danificar a própria vegetação marinha, além de ser perigoso para quem o manuseia: um mergulhador, chamado de cafanguista, respira por meio de uma mangueira e utiliza um botijão de gás para isso.
Para a fiscalização da pesca, o Ceará possui só oito fiscais.

FSP, 25/07/2005, Agrofolha, p. B10

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