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Caos no clima ameaca um milhao de especies

O Globo, Ciencia e Vida, p.28
08 de Jan de 2004

Caos no clima ameaça um milhão de espéciesRoberta JansenO aquecimento global pode levar pelo menos um milhão de espécies terrestres à extinção até 2050, alerta o maior estudo internacional já realizado sobre o tema publicado na última edição da Nature”. No pior cenário analisado pelos cientistas, a metade de todos os animais e plantas terrestres poderia desaparecer. Especialistas das Nações Unidas alertaram para o fato de que tamanha destruição poderia ameaçar bilhões de pessoas em todo o mundo que dependem diretamente da natureza para sobreviver. — No melhor dos cenários, que na minha opinião é irreal, com o mínimo de mudanças climáticas e levando-se em conta que as espécies ocupariam novas áreas, 9% das espécies seriam extintas — afirmou o coordenador do estudo, Chris Thomas, da Universidade de Leeds. Como estima-se que existam dez milhões de espécies, a perda mínima, de cerca de 10%, representaria a extinção de um milhão de plantas e animais até 2050. — As conclusões são muito consistentes e alarmantes — disse Stuart Pimm, especialista em extinções e biodiversidade da Universidade de Duke, nos EUA. Corte na emissão de gases minimizaria problema O estudo foi realizado em seis grandes regiões do mundo, entre elas a Amazônia e o cerrado brasileiros, com base em 1.103 espécies. Usando modelos matemáticos, os cientistas consideraram o que aconteceria com cada uma delas em cenários de aquecimento global mínimo, médio e máximo — de acordo com as previsões do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas. O resultado final foi então extrapolado de acordo com a estimativa mais aceita de que há dez milhões de espécies de animais e plantas terrestres. — Os estudos mostram que as mudanças climáticas têm impacto muito grande no equilíbrio dos ecossistemas — afirmou a bióloga Heloisa Helena de Oliveira, diretora de parcerias corporativas da Conservação Internacional. — O regime de chuvas, as temperaturas e os tipos de vegetação são influenciados pelo clima. Por isso, quando há alterações climáticas, isso afeta diretamente a estrutura dos ecossistemas e existe a possibilidade de extinção de espécies. Mudanças na distribuição de plantas, por exemplo, têm efeitos sobre toda uma floresta, inclusive seus animais. Heloísa frisa que os anfíbios são extremamente sensíveis a mudanças de clima. — A tendência de aumento no ritmo de extinção desses animais está relacionada a mudanças climáticas — disse. — Por serem espécies de sangue frio, eles não controlam a temperatura corporal, que se altera de acordo com o ambiente. Para o co-autor do estudo Lee Hannah, as estimativas deixam claro que as mudanças climáticas são a maior ameaça à sobrevivência das espécies. — A combinação de mudanças climáticas com perda de habitat é preocupante. As alterações no clima podem forçar a mudança de espécies, mas se os potenciais novos habitats já estão destruídos, elas não terão para onde ir. De acordo com os cientistas, uma redução na emissão dos gases que provocam o efeito estufa, sobretudo do dióxido de carbono, poderia salvar muitas espécies do desaparecimento.

Cerrado pode perder 2 mil espéciesO cerrado brasileiro é um dos biomas mais ameaçados do mundo, segundo o estudo publicado na Nature”. A pesquisadora brasileira Marinez Ferreira de Siqueira, do Centro de Referência em Informação Ambiental, que participou do estudo, diz que a perda de espécies vegetais exclusivas do cerrado será de 39% a 48%. — Se fizermos uma projeção para o número de total de espécies de árvores do cerrado, que passa de 900, chegamos a números da ordem de centenas de espécies ameaçadas. Se pensarmos no total de plantas do cerrado (que pode chegar a 10.000), esse número pode passar para a ordem de milhares de espécies ameaçadas — afirmou a bióloga. Isso teria um efeito direto na fauna: — Meu trabalho não levou em consideração os animais, mas é obvio que uma possível extinção de uma espécie vegetal pode acarretar uma série de alterações na fauna associada a ela. Além disso, frisa a bióloga, como boa parte do cerrado já foi devastada — mais de 65% de sua área original foi modificada — as espécies poderão ter poucas alternativas de mudança. O estudo da Nature” frisa ainda a importância de ampliar áreas de proteção na Amazônia para garantir o habitat.(R.J.)

O Globo, 08/01/2004, p. 28

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