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Cão ajuda bióloga em projeto de preservação

OESP, Vida, p. A17
13 de Mai de 2008

Cão ajuda bióloga em projeto de preservação
Trabalho visa mapeamento de espécies ameaçadas do cerrado

Cristina Amorim

Um novo método é usado no cerrado para acompanhar espécies ameaçadas: cães. Se historicamente os farejadores eram usados na caça, hoje eles ajudam na conservação, conforme mostra uma experiência realizada no Parque Nacional das Emas (GO).

A bióloga americana Carly Vynne, do Centro para Biologia da Conservação da Universidade de Washington (EUA), trabalhou com até quatro cães para buscar fezes de animais selvagens em uma área de 3 mil quilômetros quadrados, na parte oeste do parque e no entorno, em propriedades rurais nos municípios de Costa Rica (MS) e de Chapadão do Céu (GO). O projeto é parte de seu doutorado. Ela recebeu apoio da Universidade de Brasília (UnB) e da ONG Conservação Internacional (CI).

O treinamento dos animais é semelhante ao feito para que encontrem drogas. Quando encontram as fezes, como prêmio recebem uma bola de tênis para brincar.

Enquanto isso, Carly coleta o material para análise de uma série de fatores, como dieta, stress hormonal e parasitas. Ela marca a localização em um aparelho de GPS (sistema de posicionamento global) para mapear a ocorrência de espécies como onça-pintada, onça-parda, lobo-guará, tamanduá-bandeira e tatu-canastra.

"É um método não invasivo, pois não é necessário capturar e sedar os animais - o que, no caso de espécies mais raras, é difícil", explica Ricardo Machado, diretor do Programa Cerrado da CI. "É também mais rápido porque, em pouco tempo, é possível acumular um grande volume de dados, o que não acontece no caso de armadilhas fotográficas, e mais barato do que a abordagem de animais para instalar aparelhos de radiotelemetria."

FRAGMENTAÇÃO

O trabalho já dá resultados. Carly percebeu, por exemplo, que há menos trânsito de animais nas fazendas que mantêm menos de 30% de sua área preservada - ali, é obrigatória a manutenção de 20% da propriedade sem desmatar, como reserva legal, mais as áreas de proteção permanente (APPs), como margens de rios.

Espécies mais sensíveis à fragmentação da vegetação, como a onça-pintada, praticamente não circulam fora dos limites do parque - uma ilha de cerrado cercada por pastagens e plantações de soja, algodão e, mais recentemente, cana-de-açúcar. Esse tipo de informação pode ser usado para traçar estratégias de conservação, como a formação de trechos contínuos de mata, que permitam a circulação das espécies.

"Os dados são interessantes para mapear onde devemos recuperar áreas degradadas", diz Machado. "Além disso, nossa intenção é buscar recursos para replicar a experiência em outras regiões do Brasil." Estudos realizados pela mesma ONG indicam que mais da metade do cerrado, o segundo bioma mais extenso do País, já foi desmatada e o restante corre o risco de desaparecer até 2030, se o ritmo de corte e queima continuar. A onça-pintada, a onça-parda, o lobo-guará, o tamanduá-bandeira e o tatu-canastra estão na lista brasileira de espécies ameaçadas de extinção.

OESP, 13/05/2008, Vida, p. A17

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