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Cantareira deve gerar energia já em 2012

OESP, Metrópole, p. C3
08 de Ago de 2010

Cantareira deve gerar energia já em 2012
Usinas podem abastecer 100 mil pessoas, mas especialistas temem impactos ambientais

Diego Zanchetta e Eduardo Reina

A construção de cinco pequenas centrais hidrelétricas no Sistema Cantareira está assustando o interior paulista. Com medo de impactos ambientais, prefeitos, ambientalistas e agricultores começam a se mobilizar contra o projeto da Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp). O receio é que usinas na Região Metropolitana de São Paulo comprometam a vazão de rios que abastecem 3 milhões de pessoas em 62 municípios da Bacia do Piracicaba, incluindo Atibaia, Bragança Paulista e Campinas.
O plano é construir uma das usinas perto do Horto Florestal, na zona norte da capital, ao lado da Estação de Tratamento de Água (ETA) Guaraú. A outra deve ficar no vertedouro da Cascata, no Rio Juqueri Mirim, em Mairiporã, ao lado da ETA Atibainha.
O principal receio dos moradores do interior é de que a usina que será instalada na capital comprometa o nível dos rios e represas que estão do outro lado da Serra da Cantareira, a 700 metros de altitude. A água desses mananciais é bombeada para São Paulo por meio da Estação Elevatória Santa Inês, cujas tubulações foram construídas dentro das rochas da serra.
Ambientalistas dizem que o volume de recursos hídricos retirado hoje das represas do interior para a capital - 33 metros cúbicos por segundo, dos quais 31 m³/s originados dos formadores do Piracicaba (Jaguari e Atibaia) - vai aumentar com a construção da hidrelétrica na zona norte de São Paulo. Duas das cinco usinas já receberam licença da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Faltam agora as licenças de instalação e os relatórios de impacto ambiental. As outras três ainda estão em fase de planejamento pela Sabesp.
Dos reservatórios da Cantareira sai a água para o abastecimento de 8,5 milhões de moradores da capital e de dez municípios vizinhos. No interior e na Grande São Paulo, 11,5 milhões de habitantes dependem hoje da água que brota nas encostas dos cinco rios - Jaguari, Jacareí, Cachoeira, Atibainha e Juqueri - que integram o sistema atualmente, formado por seis represas. No início do anos 1970, com a falta de recursos hídricos na capital, a Sabesp resolveu buscar água na região de Atibaia.
"No momento em que a empresa deveria pensar em buscar outras fontes de captação para São Paulo, ela quer produzir energia com a água que já é rara para o abastecimento humano", reclama Rodrigo Fercundini, presidente da organização não-governamental (ONG) Juqueri Vivo e morador de um condomínio ao lado da Represa Atibainha, em Nazaré Paulista. "Sabemos que mesmo as pequenas hidrelétricas podem secar cachoeiras nas montanhas da serra e causar impacto para peixes, lontras e capivaras. Tivemos um caso em Joinville, onde secou a Cachoeira do Piraí. O impacto nunca ocorre perto da usina, mas sim nos rios que estão acima dela, a mais de cem quilômetros de distância", alerta.
Desconhecimento. Responsável pela gestão conjunta do Sistema Cantareira com a Sabesp desde 2004, conforme outorga concedida pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), o Consórcio das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí informou não ter sido comunicado sobre o projeto.
"Nada chegou para nós até agora. A outorga do sistema é só para o abastecimento de água, não existe uma concessão para a produção de energia. Teria de ser revisto o modelo de outorga. De qualquer forma, não conheço o projeto", afirmou o secretário executivo do Consórcio, Dalto Favero Brochi.
A Sabesp argumenta que não haverá desvio no curso dos mananciais que compõem o Cantareira. No caso da usina de Mairiporã, por exemplo, a empresa diz que será aproveitada a queda d"água do vertedouro que faz a transferência de água entre as Represas Atibainha e Paiva Castro. Mas a Prefeitura de Atibaia considera que a presença das usinas aumentará a umidade do ar na região, o que poderia comprometer a produção local de frutas.
30 anos. A previsão é de que as duas usinas entrem em operação em janeiro de 2012. Com capacidade de gerar energia elétrica para 100 mil pessoas (7,1 megawatts), as duas miniusinas poderão render R$ 8 milhões por ano para a Paulista Energia Ltda., concessionária formada pelas empresas Tecniplan e Servtec, que ganhou as concessões de produção e venda pelo período de 30 anos.

Para entender

O Sistema Cantareira começou a ser constituído em meados de 1970 pelo governo de São Paulo para abastecer as torneiras dos moradores da Região Metropolitana. Permitia a reversão de água da Bacia do Piracicaba para a Bacia do Alto Tietê. Seis represas formam o complexo com os Rios Jaguari, Jacareí, Cachoeira, Atibainha e Juqueri (Paiva Castro). Inaugurado em 30 de dezembro de 1973, iniciou operação no ano seguinte. O sistema ocupa área de 2.279,5 km² em 12 municípios. Quatro cidades ficam em Minas - Camanducaia, Extrema, Itapeva e Sapucaí Mirim - e oito em terras paulistas: Bragança Paulista, Franco da Rocha, Caieiras, Joanópolis, Nazaré Paulista, Mairiporã, Piracaia e Vargem.

OESP, 08/08/2010, Metrópole, p. C3

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100808/not_imp591992,0.php

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