VOLTAR

Candidatos querem formar 'bancada da ciência'

FSP, Ciência, p. B6
03 de Set de 2018

Candidatos querem formar 'bancada da ciência'
Briga contra corte dos investimentos de governos na área une os cientistas

Fernando Tadeu MoraesGabriel Alves
SÃO PAULO

Uma das novidades nas eleições deste ano é a candidatura de cientistas ou pessoas próximas à academia para o legislativo federal, distrital e estadual. Historicamente raro no país, o engajamento de pesquisadores na política ganhou volume após a desidratação do orçamento federal da ciência nos últimos anos.
"Decidi me candidatar em razão da política de austeridade econômica implementada nos últimos dois anos, que tem prejudicado muito a ciência, a tecnologia e a educação", diz a matemática Tatiana Roque (PSOL-RJ), professora da UFRJ que disputa uma vaga na Câmara dos Deputados.
Embora cada um dos candidatos-cientistas desfraldem bandeiras próprias, todos pretendem lutar para aumentar o investimento público em ciência e tecnologia.
"Hoje o país gasta mais ou menos 1% do PIB em ciência e tecnologia. Precisamos aumentar 0,5% do PIB por ano até chegar a algo como 3%, 3,5% do PIB -valor que a Coreia do Sul investe, por exemplo", diz o bioantropólogo Walter Neves (PPL-SP), professor aposentado da USP e candidato a deputado federal.
Outra bandeira comum é o combate à Emenda Constitucional 95, que institui o chamado teto dos gastos, que limita o investimento público em diversas áreas, como Ciência e Tecnologia.
As candidaturas são bem-vistas pelos presidentes das duas principais entidades de cientistas do país, a ABC (Academia Brasileira de Ciências) e a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).
"Acho positivo que pessoas envolvidas com ciência se interessem por participar da política. Isso é melhor do que a ideia que surgiu há algum tempo de criar um partido da ciência, pois um partido não pode ter um único tópico em sua agenda", diz Luiz Davidovich, presidente da ABC.
A proposta de um partido também não agrada Ildeu Moreira, presidente da SBPC. "A gente vê com bons olhos as candidaturas, mas o mais importante é ter no parlamento pessoas com mais sensibilidade e que levem adiante as posições da comunidade científica, sejam cientistas ou não."
Apesar de não apoiar partidos ou candidaturas individualmente, a SBPC se comprometeu a divulgar os nomes de todos aqueles que aderirem às posições da associação em seu site na internet. Segundo a entidade, a lista deve estar no ar nesta semana.
A presença de pesquisadores no Congresso e nas assembleias legislativas, além de aumentar a representatividade da ciência nas esferas políticas, pode também trazer mais racionalidade aos debates ali travados.
"Os cientistas podem contribuir orientando e fomentando políticas fundamentadas em evidências empíricas, e não em achismos ou argumentos puramente ideológicos", afirma o físico Alexandre Costa (PSOL-CE), professor da Universidade Estadual do Ceará que tenta se eleger para a Câmara dos Deputados.
Mas quantos cientistas são necessários para formar uma "bancada da ciência"? "Se dois se elegerem, já dá para fazer muito barulho, mas, para tentarmos sair do caminho da barbárie, o ideal seria meia dúzia ", diz Walter Neves. "O objetivo de ter uma bancada da ciência é não deixar que as pautas relativas à área fiquem sempre em segundo plano e mostrar que elas são prioritárias", diz Tatiana Roque.

FSP, 03/09/2018, Ciência, p. B6

https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2018/09/candidatos-querem-formar-…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.