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Canal artificial em Maricá é alvo de polêmica

O Globo, Rio, p. 11
18 de Jun de 2007

Canal artificial em Maricá é alvo de polêmica
Projeto com a proposta de ligar o mar à lagoa da região, provocando a salinização de suas águas, divide ambientalistas

Fernanda Pontes

O Além de receber um megaempreendimento de resorts, um condomínio residencial e uma marina para mil barcos, o terreno de oito quilômetros quadrados da Área de Proteção Ambiental (APA) de Maricá será cortado por um canal artificial, que ligará o mar à Lagoa de Maricá. Com cerca de 200 metros de comprimento e 50 de largura, o canal provocará a salinização das águas da lagoa. A novidade, porém, foi recebida com ressalvas por ambientalistas.

A intervenção anunciada pelos empreendedores ainda está sendo estudada e poderá sofrer alterações, segundo o coordenador do projeto, o engenheiro Carlos Llamazares. Pelo programa inicial, o canal ficará a 150 metros de distância da marina permitindo a entrada e saída das embarcações.

Projeto prevê construção de entroncamento de pedra
Como o mar na região é agitado, dificultando a passagem dos barcos, será construído um entroncamento em pedra, em forma de funil, engordando a faixa de areia da praia. O píer poderá ter até 300 metros de extensão. Para o ambientalista Gerhard Sardo, a construção de um píer sobre o mar será benéfico para o município, que sofre com o avanço das ondas na costa. Por outro lado, ele condenou a construção do canal:

- Essa ligação com o mar vai alterar profundamente o ecossistema lagunar de Maricá. Até a vegetação de restinga poderá ser prejudicada. Já o quebra-mar, eu acho será bemvindo porque beneficiará a região costeira, que sofre com as ondas nas ressacas.

Para o professor de engenharia costeira da Coppe/ UFRJ, Paulo Cesar Rosman, a abertura de um canal vai ajudar a salvar a lagoa.

- O sistema lagunar de Maricá está moribundo. Se deixar dessa forma, o processo de degradação é inevitável - disse o professor, que fez uma simulação de como ficaria a lagoa de Maricá, a pedido do grupo de empreendedores.

Rosman alertou, entretanto, que apenas a ligação entre o mar e a lagoa não vai solucionar o problema. A melhora da qualidade ambiental do lugar depende também da dragagem das lagoas e da interrupção de lançamento de esgoto.

- A construção do canal vai mudar drasticamente as águas da lagoa, mas para melhor - diz ele, que citou a Lagoa de Saquarema como um exemplo bem sucedido desse tipo de intervenção.

Como O GLOBO mostrou na semana passada, o tipo de ocupação da APA de Maricá poderá ser decisiva na preservação de flora e fauna da região, que abriga espécies endêmicas. O terreno foi comprado no ano passado por um grupo luso-espanhol, que pretende investir R$ 8 bilhões no megaempreendimento.

Nos planos de empresários, a melhoria do saneamento
Para construir numa região tão rica em flora e fauna, eles anunciaram uma série de contrapartidas para Maricá. Entre elas, levar saneamento básico para o município, que hoje trata apenas 15% de seu esgoto, lançado nos rios. A dragagem de todo o complexo lagunar também está nos planos dos empresários, que estimam gerar 40 mil empregos. 0

Ecologistas pedem ajuda ao Ministério Público
Movimento de Itaipuaçu teme ocupação de área protegida por resort, condomínio e marina

O Movimento Ecológico de Itaipuaçu entrou com representação no Ministério Público estadual e na Procuradoria da República pedindo instauração de inquérito civil em relação às obras na Área de Proteção Ambiental (APA) de Maricá. No documento enviado na semana passada ao MP, líderes do grupo ecológico pediram que as áreas de preservação permanente dentro da APA sejam protegidas.

Pelo projeto, que será chamado de Fazenda São Bento da Lagoa, serão erguidos três resorts com até 500 quartos, centro empresarial, condomínio de casas e de prédios, campo de golfe e vila de pescadores. O objetivo é ocupar uma área de 2,2 milhões de metros quadrados do terreno, de oito milhões de metros quadrados.

Favorável à ocupação ordenada da APA, o ambientalista Gerhard Sardo acredita que a construção de resorts poderia ser boa para o município, que teria mais empregos e contaria com programa de saneamento. Para Sardo, porém, a intervenção na APA é bem maior do que ele imaginava.

- Não sabíamos que o projeto contemplava condomínio de casas, centro empresarial e marina para mil barcos. A população de Maricá achava que tratavase apenas de um complexo de resorts. Se os empresários construírem tudo isso que estão planejando, não vai sobrar nada da APA - disse Sardo.

Construção de resorts é tema de audiência
A construção de resorts na Costa do Sol - há também projetos na Praia de Tucuns, em Búzios, e na Praia do Peró, em Cabo Frio - será discutida em audiência pública, organizada pelo presidente da Comissão de Meio Ambiente da Assembléia Legislativa, André do PV. O encontro será no dia 25, às 14h, na própria Alerj.

O Globo, 18/06/2007, Rio, p. 11

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