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Campo investe na certificação

OESP, Agrícola, p. 6-7
05 de Mai de 2010

Campo investe na certificação
Selo socioambiental já é quase uma exigência para produtores interessados em vender para o mercado externo

Fernanda Yoneya

Produtores que já atendem ao padrão de qualidade de mercados exigentes como Europa, Ásia e Estados Unidos podem ter na certificação socioambiental um novo diferencial para exportar.
Esse tipo de certificação, que atesta o cumprimento de normas sociais e ambientais no processo de produção, ainda é pouco conhecido no Brasil, mas tem demanda crescente em países onde o consumidor busca e valoriza artigos que tenham sido produzidos respeitando esses princípios. "A certificação socioambiental na agricultura é recente no País, tem sido uma demanda dos importadores e pode até se tornar condição para exportar", diz o agrônomo Lineu Siqueira Júnior, gerente-geral de certificação do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).

O Imaflora, representante no País da Rede de Agricultura Sustentável (RAS), é a entidade que concede o selo Rainforest Alliance, reconhecido no mercado internacional. O processo de certificação baseia-se em dez princípios voltados à produção agrícola sustentável.
A busca pela certificação tem crescido no País. Em 2004, apenas dois empreendimentos tinham a certificação Rainforest Alliance. Em 2009, o Imaflora totalizou 68 empreendimentos certificados pela RAS. Em 2008, segundo o Imaflora, eram pouco mais de 70 mil hectares certificados. Hoje, são quase 100 mil hectares, sendo 91.500 hectares só com café. O restante abriga chá, cacau, laranja e palmito.
"No café, a certificação pegou", diz o agrônomo Edson Roberto Teramoto, do Imaflora. "Tanto que alguns produtores recebem de 10% a 15% a mais pela saca certificada." É o caso da Cambuhy Agrícola, em Matão (SP). "A certificação agrega entre R$ 20 e R$ 30 a mais pela saca", diz o diretor-geral da Cambuhy, José Luiz Amaro Rodrigues. De uma produção média de 7 mil sacas/ano, a Cambuhy exporta 100% - 80% para a Holanda e 20% para o Japão.
Rodrigues explica que a certificação foi uma demanda dos importadores. "Eles perguntaram se tínhamos o selo Rainforest Alliance e fomos atrás." De um total de 14 mil hectares, a Cambuhy tem 3.500 hectares de reserva legal e 821 hectares de áreas de preservação permanente. Rodrigues diz que a fazenda precisou mudar pouca coisa para obter a certificação, pois muitos dos princípios e critérios socioambientais exigidos já eram seguidos.
"Criamos fichas de rastreabilidade para monitorar o processo, do plantio até o armazenamento, passando pela colheita, lavadores, terreiros, secadores e tulha", diz o supervisor agrícola da área de café da fazenda, Miguel Gilmar Donegá.
Cooperativa. Em Monte Carmelo (MG), a busca pela certificação socioambiental de propriedades de cooperados foi iniciativa da Cooperativa Agrícola de Monte Carmelo (Copermonte), diz o gerente técnico Eduardo Mesquita Bueno. Há um ano, cerca de 2 mil hectares, de 11 produtores, foram certificados. "Mercados como Japão, EUA e Europa exigem rastreabilidade, querem saber onde e como foi produzido determinado café", diz Bueno. "A certificação também é uma ferramenta de gestão eficiente, pois tudo tem de ser documentado."
Segundo o diretor-presidente da Copermonte, Creuzo Takahashi, com a certificação, o ágio sobre a saca já chegou a R$ 30. Takahashi diz que outros cooperados estão animados com a possibilidade de obter o selo. "Por enquanto, 20% da produção é certificada, de um total de 350 mil sacas e 300 cooperados." Para estimular outros produtores, a cooperativa paga a primeira auditoria e oferece consultoria gratuita.
Para o agrônomo Felipe Kiyohara, um dos responsáveis pela certificação das fazendas de chá da Yamatea Indústria e Exportação Ltda., em Registro (SP), o selo socioambiental também se tornou importante ferramenta de gestão. "O que, antes da certificação, sabíamos só de cabeça, agora está tudo registrado."
A Yamatea, que tem três fazendas certificadas, em 660 hectares, sendo 250 hectares plantados, foi auditada no início do ano e o selo deve sair este mês. A certificação foi obtida em grupo, com outra empresa de chá, a Hélio Amaya & Cia. Ltda., também em Registro.
Pequenos. As duas empresas, que têm áreas próprias e trabalham com pequenos produtores, são as únicas fábricas que estão produzindo chá preto no Vale do Ribeira, num total de 2 mil toneladas/ano, 90% exportados. Kiyohara conta que pode conseguir US$ 0,10 a mais por quilo de chá certificado. "Sabemos que o produtor argentino de chá certificado está contente, mas como o nosso sistema de produção é diferente do deles, esse valor é pouco. Vamos conversar com a indústria e chegar a um acordo." Ele diz que a empresa se profissionalizou e que mudou a forma de gestão. A área de produção também teve que diminuir em favor do ambiente. Segundo o agrônomo, 30 hectares deixaram de ser cultivados para se tornar áreas de preservação.

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Água recebeu tratamento especial

A água recebeu tratamento especial na Cambuhy, exigência da certificação. Foi instalado sistema de tratamento de água nas colônias, onde moram alguns funcionários. Na oficina de máquinas, a água utilizada por um lavador é tratada, por conter graxa e óleo. "Essa água não pode simplesmente escorrer da oficina, sem destino certo", explica o diretor-geral da fazenda, José Luiz Amaro Rodrigues.
Segundo Rodrigues, o principal investimento foi com o sistema de tratamento de água e efluentes. "Gastamos cerca de R$ 120 mil, incluindo esse sistema de tratamento, a sinalização das instalações, item que é muito importante no processo de certificação, reciclagem e destinação de embalagens", calcula. O processo de certificação da fazenda incluiu, ainda, treinamentos e capacitação de funcionários e colaboradores. "Fizemos uma integração, para explicar a todos os trabalhadores o que é a certificação socioambiental e quais são as vantagens. Compreendendo a lógica do processo, fica mais fácil aplicar os princípios no dia a dia da propriedade." / F.Y.

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Na Bahia, cacau e palmito pupunha

Mesmo sem garantia de conseguir um preço diferenciado pelo produto certificado, duas fazendas de cacau na Bahia investiram no selo socioambiental de olho no mercado. Hoje, a M. Libânio Agrícola, no município de Gandu, e a Fazendas Reunidas Vale do Juliana, em Igrapiúna, são as duas únicas produtoras de cacau certificado com o Rainforest Alliance.
O representante da Vale do Juliana, Paulo Sérgio Santos, conta que a fazenda fez uma parceria com uma empresa asiática que transforma a amêndoa em liquor ? massa de cacau, matéria-prima para a indústria ? e vende para o Japão. "Como essa empresa asiática também é certificada, quando obtivemos o selo pudemos criar uma identidade, de que o cacau produzido aqui tem credibilidade."
Inspeções. As auditorias feitas pelo Imaflora incluem entrevistas com os funcionários, inspeções de instalações e verificação de atendimento a normas ambientais e sociais. "Foram três dias de auditoria. Além da entrevista com funcionários, é preciso ter em dia a documentação de gestão, social e ambiental da fazenda. E, no campo, é preciso obedecer à legislação ambiental e de segurança do trabalhador, como condições seguras de trabalho."
"A certificação serviu para validar o trabalho socioambiental que já era feito", diz o diretor da M. Libânio, Eimar Sampaio Rosa. Certificada há dois anos, a propriedade possui 2.200 hectares ? 627 hectares são cultivados e 1.200 hectares são de mata atlântica.
Outra experiência na Bahia é com a certificação de palmito pupunha. Há três anos, a Cooperativa dos Produtores de Palmito do Baixo Sul da Bahia certificou a produção de 38 cooperados (335 hectares), o equivalente a 1,9 milhão de hastes por ano. "Só de mata nativa, são 3 mil hectares. Além de um projeto em Rondônia, somos os únicos produtores de pupunha certificados no mundo", diz o responsável, Alexandre Félix. / F.Y.

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Até suco feito com laranja de Matão foi exportado

Inicialmente obtida para atender ao mercado importador de café da Cambuhy, a certificação socioambiental teve seu alcance estendido para a laranja produzida em Matão. Recentemente, foi feita a primeira exportação de suco de laranja concentrado certificado produzido com a fruta da fazenda. Foram exportadas para Ásia e Europa 200 toneladas de suco - a Cambuhy forneceu 50 mil caixas de laranja certificada. "Somos a única fazenda de laranja certificada com o Rainforest Alliance", diz José Luiz Rodrigues. A fazenda foi procurada por uma empresa holandesa, cujo foco é a produção de sucos com certificação ética. "No caso da laranja, é um mercado desconhecido", diz o diretor da Strauss Associados, empresa que intermediou a exportação do suco certificado, Daniel Strauss. "Compramos a fruta e terceirizamos uma indústria em São Carlos (SP), que entrou com a infraestrutura para processar a laranja." Toda a cadeia de custódia foi auditada. "Todos os processos são segregados, da produção à estocagem, pois a certificação ética só é viável se o produto tiver qualidade." / F.Y.

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OESP, 05/05/2010, Agrícola, p. 6-7

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