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Via Campesina cerca usina da Vale

OESP, Nacional, p. A10
12 de Mar de 2008

Via Campesina cerca usina da Vale
Em nova onda de protestos, movimento age em sete Estados e resiste à desocupação em Estreito, entre MA e TO

Roldão Arruda

Após a jornada de luta das mulheres, que atingiu 17 Estados, com protestos contra o agronegócio, a Via Campesina iniciou ontem uma nova onda de ações no País - desta vez contra a construção de usinas hidrelétricas. Foram registradas manifestações em sete Estados. A mais ousada foi a ocupação da principal via de acesso ao canteiro de obras da Usina de Estreito - na divisa entre os Estados do Tocantins e do Maranhão.

A Polícia Militar foi chamada e tentou, sem sucesso, negociar com representantes da Via Campesina e do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) a retirada dos quase 300 invasores. De acordo com Cirineu Rocha, da coordenação do MAB, a ocupação deve prosseguir até que o governo aceite discutir a pauta de reivindicações dos movimentos.

O representante do MAB também disse que outros manifestantes deveriam chegar hoje à área da usina. Diante da ameaça, a PM passou a vigiar as outras entradas, para impedir novas invasões.

Os advogados da usina recorreram à Justiça com uma ação de reintegração de posse. No início da noite ontem, o juiz Gilmar Everton Vale, de Estreito, atendeu ao pedido, determinando a reintegração a partir de hoje, sob pena de multa.

A pauta que os invasores desejam negociar com o governo é extensa. Inclui temas como o reassentamento das famílias deslocadas pela represa, a situação dos quilombolas e grupos indígenas na região, um novo levantamento sobre impacto ambiental e até o valor das tarifas de energia a ser cobrado, entre outros.

Em entrevista ao Estado, o presidente do Consórcio Estreito Energia, concessionário da hidrelétrica, José Renato Ponte, classificou a invasão como "lamentável". Ele também observou que a maior parte dos invasores não é da região. "Vieram de fora, para conturbar o clima de bom entendimento e transparência que conseguimos com os moradores", afirmou.

Estreito terá capacidade total de 1.087 MW e faz parte do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). É uma das mais importantes obras na área de energia elétrica em andamento no País, devendo iniciar as operações em 2010.

ATRASO

Mas, segundo o presidente do consórcio, a invasão pode atrasar o cronograma da obra. Ele também manifestou preocupação quanto à segurança das pessoas no local da invasão. "Tenho medo de conflitos com os trabalhadores da obra, dos quais 80% são da região. Também preocupa o fato de termos explosivos e fios de alta tensão na área, além de maquinário pesado em movimentação."

O consórcio responsável pela obra é formado pelas empresas Vale (30%), Alcoa (25,5%), Tractebel (40%) e Camargo Corrêa (4,5%). Esta foi a segunda vez na semana que a Vale foi atingida por ações da Via Campesina. Na segunda-feira, seus militantes tinham paralisado uma ferrovia da empresa em Minas.

As manifestações iniciadas ontem pela Via Campesina e o MAB devem prosseguir até sexta-feira - Dia Internacional de Luta contra as Barragens. De acordo com o material de divulgação sobre a data distribuído pelas duas organizações, no Brasil as grandes hidrelétricas já expulsaram cerca de 1 milhão de pessoas de suas terras e, destas, 70% não foram devidamente indenizadas.

Na Hidrelétrica de Machadinho, entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul, um grupo de manifestantes acampou pela manhã diante do portão principal. Eles não impediram, no entanto, o trânsito de pessoas e veículos. Em conversa com dirigentes da empresa, disseram que o objetivo é chamar a atenção para os problemas decorrentes da construção de hidrelétricas.

No Paraná, manifestantes tentaram ocupar a Usina Hidrelétrica de Salto Santiago. Impedidos pelos seguranças, realizaram um ato de protesto diante dos portões.

Em Porto Velho (RO), os militantes conseguiram entrar na área da Unidade Termelétrica Rio Madeira, onde montaram acampamento. No Ceará, ocuparam um canteiro de obras do Canal da Integração - que deverá levar as águas do Açude Castanhão para o complexo portuário e industrial de Pecém, onde se localizam algumas empresas siderúrgicas. Segundo o MAB, o que está ocorrendo ali é a "privatização da água".

No Rio Grande do Sul, moradores de dois bairros de Erechim deslocaram-se até a sede da empresa responsável pelo fornecimento de energia elétrica no Estado para reivindicar sua inclusão na chamada lista da tarifa social - que permite descontos de até 65%. Na Paraíba, comunidades de João Pessoa também começaram a se mobilizar ontem para reivindicar tarifas diferenciadas.

Segundo o MAB, as tarifas sociais para consumidores que utilizam pouca energia estão previstas em lei, mas as concessionárias relutam em cumpri-la.

OESP, 12/03/2008, Nacional, p. A10

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