GM, Saneamento & Meio Ambiente, p. A9
01 de Mar de 2004
Campanhas querem estimular consumo racional
Só a Sabesp investiu R$ 4 milhões em ações publicitárias; entidades, ONGs e iniciativa privada alinham discursos.
O estado crítico a que chegaram os reservatórios que abastecem a Grande São Paulo, em especial o sistema Cantareira, está motivando um esforço conjunto da iniciativa privada e entidades não governamentais para alertar a população sobre a necessidade premente de racionalização do consumo de água. Este é o principal argumento da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) no esforço para evitar o racionamento no sistema Cantareira.
Com as chuvas que caíram na região metropolitana no mês de fevereiro, em especial durante o carnaval, o nível do reservatório chegou a 13,9%, quase um alívio para a companhia, que registrava 6% da capacidade há duas semanas. Sobre o sistema, o índice pluviométrico acumulado no mês foi de 253,9 mm, superior à média histórica de fevereiro, que é de 209 mm. No entanto, se comparado aos anos anteriores, o nível ainda é preocupante: no mesmo período do ano passado, o reservatório estava a uma capacidade de 49,3%.
A companhia investiu R$ 4 milhões na campanha "Olha o nível!" que começou em janeiro nos meios de comunicação de massa (TV, rádio, jornal) e, em fevereiro, teve as ações de promoção intensificadas, passando a abranger outdoors e distribuição de folhetos explicativos em locais de grande concentração de pessoas, como praças, estações do metrô e estádios de futebol. As ações englobam ainda reuniões com grandes consumidores para intensificar o consumo racional com colocação de adesivos em frotas, por exemplo.
Outro ponto alto da campanha foi a reunião com o Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis e Condomínios Residenciais e Comerciais (Secovi) para direcionar a campanha às administradoras de condomínio, já que muitos moradores não se sentem motivados a economizar água, por não receberem uma conta de água individualizada. A Sabesp destinou para a entidade 5 milhões de folhetos, que serão distribuídos para locadores e locatários. A empresa está realizando ainda blitze em bares e casas noturnas de São Paulo, onde são feitas distribuições de adesivos da campanha, criada pela agência Giovanni FCB.
Cultura do desperdício
"A expectativa é de que a população consiga economizar 25% de água, o que é possível, dado o desperdício generalizado", diz Luiz Carlos Aversa, superintendente de comunicação da Sabesp. Segundo ele, nas regiões mais ricas da capital paulista, o consumo per capita chega a 240 litros. A classe média consome em torno de 180 litros por pessoa, enquanto nas regiões mais carentes, o consumo é de 100 a 120 litros. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda um consumo per capita diário de 120 litros.
De acordo com Luiz Carlos Aversa, reverter a "cultura do desperdício" brasileira é um desafio porque as tarifas de água são baratas - a conta mínima, de um consumo de até 10 mil litros, é de R$ 9,60. Além disso, ainda não houve a necessidade de um racionamento rígido, como aconteceu com o setor elétrico em 2001.
"Depois do racionamento de energia elétrica, as companhias de energia observaram que a redução do consumo se manteve em torno de 30%. Seria ideal se conseguíssemos o mesmo efeito com a água", diz Aversa. Pela primeira vez no histórico de campanhas da companhia, o apelo à economia de água nas atividades do dia-a-dia é mais incisivo, e o tom deverá ser mantido se o problema de abastecimento se acirrar e o racionamento se tornar inevitável.
A atualidade do tema levou a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) a adotá-lo na Campanha da Fraternidade de 2004, lançada na última quarta-feira de cinzas. É a segunda vez que a CNBB escolhe um assunto de caráter ambiental: em 1979, o slogan foi "Preserve o que é de todos".
Com o objetivo de alertar para o consumo consciente em todo o estado, a Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio) também lançou, há duas semanas, campanha para o uso racional da água. Serão distribuídas em todo o estado mais de 2.000 cartilhas, por meio dos 145 sindicatos filiados à entidade, com os "10 mandamentos" do consumo consciente.
Jorge Badra, membro do Conselho de Habitação e Urbanismo da Fecomércio, conta que o ponto de partida da iniciativa foi o estudo "Água e Energia: Inibidores do Progresso", realizado pela entidade há três anos, que já apontava para os riscos do consumo desenfreado dos recursos naturais. "Se o Brasil atingir o crescimento econômico que os economistas esperam, não haverá recursos naturais para sustentar essa situação", afirma.
Levar essas informações a um número cada vez maior de pessoas foi o objetivo da parceria feita entre a Bombril, a Aguilla Produção e Comunicação e a TV Cultura na produção e exibição do documentário de 30 minutos "Água: Consumo Consciente", exibido na TV Cultura e que terá reprises ao longo do ano. A intenção é distribuir cópias gratuitas para escolas, comunidades e órgãos do governo, como os Ministérios da Saúde e do Meio Ambiente e a Agência Nacional das Águas (ANA).
"A questão da água hoje é apavorante, porque muitas pessoas não abandonam a cultura do desperdício. Por isso, esse documentário tem o caráter de multiplicar noções de educação e consumo consciente", diz o publicitário Gilnei Rodrigues, diretor da Aguilla.
Os custos com a produção do documentário ficaram a cargo da Bombril, que iniciou, neste ano, uma ampla campanha de responsabilidade social tendo a água como tema, por ser "o mais antigo produto de limpeza do mundo", nas palavras de Erica Stoll, gerente de produto da empresa. Entre as ações, estão a distribuição de 40 mil panfletos com dicas de consumo racional para os consumidores cadastrados no Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) da empresa, e também para cerca de 600 fornecedores e 3.000 funcionários das três fábricas da Bombril - São Bernardo do Campo (SP), Recife (PE) e Sete Lagoas (MG).
No mês de janeiro, a empresa patrocinou apresentações da companhia de teatro de fantoches Trucks, com o objetivo de levar o tema água às crianças no litoral sul de São Paulo. "No mês de março, as ações institucionais deverão ser intensificadas, em comemoração ao Dia Mundial da Água, 22 de março", diz Erica. Os investimentos na campanha, não divulgados, estão contidos na verba para marketing, ações institucionais e em pontos de venda (PDV) da Bombril, que é de R$ 30 milhões ao ano.
Movimento Cuide
O Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, organização não-governamental que há três anos vem trabalhando em parcerias com a iniciativa privada para difundir práticas de consumo sustentáveis, lançou o Movimento Cuide, durante os desfiles do São Paulo Fashion Week, em fins de janeiro. "A iniciativa trabalha com oito temas do cotidiano para mostrar aos consumidores que é possível consumir de forma responsável", diz Aron Belinky, gerente geral do Instituto Akatu. Entre eles, estão água, desperdício de alimentos, responsabilidade social empresarial, pirataria, geração de lixo e sustentabilidade.
As ações previstas para todo o ano de 2004 englobam projetos direcionados a comunidades e mensagens que serão veiculadas em outdoors, publicidades em salas de cinema, jornais e revistas, produzidas pela agência de publicidade Leo Burnett. Durante o Fashion Week foram distribuídas sacolas para divulgação do movimento com o slogan "Consuma, sem consumir o mundo em que você vive" e frases específicas para cada tema abordado. A boa aceitação do brinde levou a ONG a comercializar as sacolas, que estarão disponíveis a partir da segunda quinzena de março, em pontos de venda ainda a serem definidos. Dentro da temática da água, a frase que estampará a sacola será: "Se todos os habitantes de São Paulo fecharem a torneira ao escovarem os dentes, todo dia será economizada água equivalente ao que cai nas cataratas do Iguaçu por nove minutos".
GM, 01/03/2004, Saneamento & Meio Ambiente, p. A9
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