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Campanha pela homologacao da terra indigena Raposa Serra do Sol

CIR-Boa Vista-RR
09 de Mar de 2002

Comunidade Uiramuta reforca resistencia ao Quartel

"Tenho muito medo quando fico sozinha na minha casa. Choro muito depois que o Exercito chegou e os militares comecaram a construir esse quartel do lado da minha morada. Tem muita gente com medo depois daquele dia que disseram que iam invadir nossa aldeia [com helicoptero e carros de combate]. Mas,
enquanto eu viver nao saio daqui. Foi aqui que eu nasci e so saio quando morrer".

Estas palavras foram ditas em macuxi pela senhora Jorgina Pereira da Silva, 73, a moradora mais proxima das instalacoes do 6o Pelotao Especial de Fronteiras, cerca de 100 metros. A emocao e revolta de Jorgina Pereira da Silva refletem o sentimento de aproximadamente 14 mil indios macuxi,ingariko, wapichana e patamana que habitam a terra Raposa Serra do Sol,nordeste do estado de Roraima.

O coordenador da regiao das Serras, tuxaua Grigori Lima, traduzindo as palavras da "vovo macuxi", como a chama, diz que "se ela soubesse falar a lingua dos 'brancos' diria muito mais coisas". "Estou mais tranqüila porque ta existindo esse movimento e os parentes de outras comunidades estao aqui
para nos ajudar", acrescenta.

Desde o dia que o Exercito ameacou invadir a aldeia, 1o de marco, cerca de 40 indigenas, inclusive mulheres, das aldeias proximas a Uiramuta, revezam-se na vigilância da comunidade. "Sao indios das comunidades Caraparu, Maloquinha, Pedra Branca, Morro, Cana, Urinduk, Caracana, Makukem., Willimon, Enseada e daqui do Uiramuta, que estao trabalhando pela seguranca dos parentes. Tinha 'parentes' assustados que queriam deixar as
casas, mas eles nao vao mais sair", garante Gregori.

A ameaca do Exercito espalhou o medo por toda a regiao de Uiramuta, porem, aumentou a indignacao e resistencia contra a construcao do 6o Pelotao Especial de Fronteiras. A tensao e grande. Os indios, mesmo desfavorecidos de qualquer potencial belico, preparam-se para um eventual enfretamento, pois nao aceitam mais agressoes às suas terras.

Nova pista

O Exercito Brasileiro ameacou invadir a comunidade de Uiramuta para fazer levantamento topografico da area sul da aldeia (ver mapa anexo), em frente ao Pelotao Especial de Fronteiras, local onde a prefeitura daquele municipio
pretende fazer uma pista de pouso. Nesta area tem 35 casas de familias macuxi.

Os indios de Uiramuta denunciam varias investidas do Exercito e da prefeitura contra seus direitos constitucionais. A pretensao de construir nova pista ocorre porque, atraves de parceria com o governo do Estado, a prefeitura edificou uma escola a 20 metros da pista que opera atualmente.

Para evitar o enfretamento com os militares o tuxaua de Uiramuta, Orlando Pereira da Silva, reuniu a comunidade e outros tuxauas da regiao das Serras e decidiram permitir a entrada do topografo, desde que acompanhado pelos indigenas e funcionarios da Funai.

O topografo militar e tres soldados sendo um armado de fuzil entraram na aldeia, marcaram as coordenadas geograficas e colocaram piquetes exatamente no local aonde a prefeitura quer fazer a pista. Para o tuxaua Orlando, o comandante Pelotao, informou que faria apenas o levantamento das edificacoes
proximas ao quartel.

A comunidade decidiu construir casas na cabeceira da pista para evitar que a empreitada da Prefeitura e Exercito se concretize. Esta iniciativa podera atrair reacoes violentas contra os indigenas. "Nao tem outra alternativa, vamos fazer revezamento entre as comunidades para garantir a construcao das casas. Parentes de outras comunidades continuam chegando porque estao
preocupados com a ameaca que o Exercito fez", afirma Gregorio.

O tuxaua Orlando Pereira denuncia que se a pista for construida 35 familias serao retiradas da area que habitam a tempos imemoriais. "A tensao e grande, mas nao vamos recuar", garante.

Militares fazem instrucao de tiro na aldeia
O Exercito tem feito do terrorismo psicologico a principal forma de amedrontar a comunidade de Uiramuta e faze-la recuar da acao na Justica que pede o embargo do 6o Pelotao Especial de Fronteiras. A macuxi, Marlene Pereira Francisco, conta que quando vinha da roca viu um grupo de 13 militares fazendo instrucao de tiro no pe de uma serra dentro da comunidade.
Ela nao soube dizer exatamente o dia que aconteceu.

"Voltavamos da roca, eu, meus filhos e minha cunhada, por volta das tres da tarde quanto vimos 13 soldados fazendo instrucao no pe da serra. Ficamos assustadas e corremos para o mato. Desviamos o caminho ate chegar em nossa casa", explica Marlene.

Outro caso de intimidacao contado por Marlene Francisco e confirmado pelo tuxaua Orlando foi o salto de para-quedistas na aldeia. "Eles nunca avisam so pra assustar a gente", afirma Marlene.

O CIR repudia todas as intimidacoes do Comando do 6o PEF. Pedimos aos nossos parceiros e amigos que estejam atentos para apoiar a comunidade de Uiramuta. A homologacao da terra indigena Raposa Serra do Sol e a unica forma de resolver os impasses criados entre militares, indios e posseiros.
Conselho Indigena de Roraima
9 de marco de 2002

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