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Campanha da CNBB quer mudar lei sobre água

OESP, Geral, p. A12
26 de Fev de 2004

Campanha da CNBB quer mudar lei sobre água
Campanha da Fraternidade alerta sobre necessidade de preservar os recursos hídricos

DEMÉTRIO WEBER

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou ontem sua Campanha da Fraternidade 2004, cujo tema é Água, Fonte de Vida, e imediatamente começou a buscar adesões para um abaixo-assinado que defende mudanças na legislação do País. Com o objetivo de. evitar a privatização dos recursos hídricos, a CNBB espera reunir 1 milhão de assinaturas e propor ao Congresso a discussão de uma Lei do Patrimônio Hídrico Brasileiro, ou a alteração pontual de leis já existentes.
"Propomos uma mudança no espírito da lei. O pano de fundo é entender a água não só como recurso a ser usado, mas como patrimônio a ser preservado", disse Roberto Malvezzi, da coordenação da Comissão Pastoral da Terra e um dos autores do texto-base da campanha. O lançamento contou com a presença dos ministros Marina Silva (Meio Ambiente), Patrus Ananias (Desenvolvimento Social e Combate à Fome), e José Fritsch (Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca). A CNBB não convidou, no entanto, nenhum representante do Ministério das Cidades, responsável pela política nacional que prevê a participação de empresas privadas na gestão do saneamento e abastecimento de água.
A campanha chama atenção para o fato de que 50% das residências no Brasil não têm coleta de esgoto e que não há uma política nacional para captação de água da chuva - embora existam leis que tratam do tema, como o Código de Águas (1934), a Lei Brasileira de Recursos Hídricos (1997) e a lei que criou a Agência Nacional de Águas. Nesse caso, seria necessário unificá-las ou alterá-las.
A CNBB sugere mudanças para enfatizar a gestão pública e o controle social sobre as águas no País. O trecho da Lei de Recursos Hídricos que diz que a "água é um bem de domínio público", por exemplo, passaria a "água é um bem da União, de domínio público e um direito universal, cabendo ao poder público e à sociedade sua gestão."
Cisternas - Marina Silva disse que o governo pretende construir 1 milhão de cisternas no semi-árido até o fim de 2006. Segundo ela, o número de cisternas instaladas até agora só garante o fornecimento de 10 litros de água por dia para cada morador, enquanto o mínimo determinado pela Organização Mundial da Saúde é 40 litros.
Na avaliação do especialista Aldo Rebouças, o planeta não enfrenta uma crise de água, mas de abastecimento. A diferença, segundo ele, é que há água suficiente para todos, mas o recurso é freqüentemente desperdiçado, poluído e mal distribuído. O resultado: cerca de 40% da população mundial não tem acesso à água adequada. Isso inclui regiões áridas e grandes metrópoles como São Paulo, onde há muita água na natureza, mas pouca na torneira. "A quantidade de água é mais do que suficiente para nossas necessidades", disse Rebouças, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. "O desafio é usá-la racionalmente."
Vaticano - Em sua tradicional mensagem enviada aos bispos brasileiros na Quaresma, divulgada ontem pela Rádio Vaticano, o papa João Paulo II advertiu contra o desperdício. "Dom de Deus, a água é um direito de todos. Como não é um recurso ilimitado, é necessário cuidar dela, dando especial atenção nessas partes do mundo, e não só no Brasil, onde isso ocorre pouco. Seu uso racional e solidário exige a colaboração de todos os homens de boa vontade com as autoridades", afirmou o papa. (Colaborou Herton Escobar, com EFE)

OESP, 26/02/2004, Geral, p. A12

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