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Camara debate biosseguranca sob pressao

OESP, Nacional, p.A8
02 de Mar de 2005

Câmara debate biossegurança sob pressão
De um lado, defensores do projeto alegam ter apoio de cinco ministros de Lula; do outro, a Igreja Católica vê um golpe contra a vida
Com apoio de cinco ministérios, os defensores do projeto de Lei da Biossegurança deflagraram ontem uma operação para enfraquecer os que são contrários à proposta, entre eles o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), e aprovar hoje em plenário o texto que toma mais flexíveis as regras para a produção e comercialização de organismos geneticamente modificados (OGMs) e autoriza a pesquisa com células-tronco embrionárias para fins terapêuticos.
O relator do projeto, o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), disse ontem que os ministros Aldo Rebelo (Coordenação Política), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), Roberto Rodrigues (Agricultura), Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia) e Humberto Costa (Saúde) apóiam o projeto. Segundo ele, há uma divisão na Esplanada dos Ministérios, já que Marina Silva (Meio Ambiente) e Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) vêem com restrição o texto que abre as portas para a venda de produtos transgênicos.
Ontem na Câmara o que se viu foi um cenário de disputas com forte apelo emocional. De um lado, adultos e crianças,com distrofia muscular, em cadeiras de roda. Liderados pela coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano da USP e presidente da Associação dos Pacientes com Distrofia Muscular, a cientista Mayana Zatz, todos eles defendem as pesquisas sonhando com uma vida melhor.
Do outro lado, leigos católicos e o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), d. Odilo Pedro Scherer, que querem barrar o projeto com o argumento de que o uso de células-tronco embrionárias é um golpe contra a vida, porque elas serão retiradas de embriões humanos guardados em laboratórios de fertilização. Segundo cálculos de cientistas, há, no País, cerca de 30 mil embriões humanos que não usados pelos casais com dificuldades para ter filhos.
Nas conversas com cientistas, leigos e religiosos, Severino deixou clara a sua posição. Disse ser contra o texto de Perondi, porque sua religião, a católica, condena os estudos com células-tronco. Ele garantiu que não vai barrar a votação, mas pretende expor, em plenário, sua opinião.
Segundo Jorge Pinheiro (PL-DF), a bancada evangélica, formada por 46 deputados, está dividida, mas os 16 parlamentares da Igreja Universal do Reino de Deus decidiram votar a favor da proposta. "Votar contrário é estar na contramão da vida."
Alguns deputados da bancada evangélica chegaram a propor que o projeto fosse fatiado. "Fatiar não aceito. Só vão conseguir isso se me destituírem da função de relator", avisou Perondi, da bancada ruralista.

OESP, 02/03/2005, p. A8

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