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Caiovás-guaranis queimam casas em fazendas ocupadas

OESP, Nacional, p.A9
28 de Jan de 2004

Caiovás-guaranis queimam casas em fazendas ocupadas
Delegado sobrevoa região e confirma destruição em propriedades no MS
José Maria Tomazela
Enviado Especial

IGUATEMI - Os índios caiovás-guaranis queimaram uma casa e um galpão usado como depósito na Fazenda São José, invadida desde o fim de dezembro no município de Japorã, na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai. Outra casa foi demolida na Fazenda São Miguel e um barracão foi parcialmente destruído na Chaparral. Móveis e utensílios domésticos estão espalhados ao redor de duas casas da Fazenda Remanso saqueadas pelos índios.
Os estragos foram constatados ontem pela equipe do delegado regional da Polícia Civil, Claudinei Galinari, durante um sobrevôo na área. Segundo o delegado, foram vistos poucos índios nas 14 fazendas ocupadas pelos guaranis. Havia um grupo tomando banho numa represa, próximo da Aldeia Porto Lindo, e alguns indígenas aparentemente vigiando as áreas. "Não há nenhuma concentração de guaranis, nem mesmo na Fazenda São Jorge, onde costumam se reunir." O delegado acredita que eles podem estar escondidos na mata.
Segundo Galinari, seria inexplicável o desaparecimento do grande contingente que se encontrava no início da semana na área, quando lá compareceu o procurador da República Ramiro Rockembach da Silva.
O delegado esteve na região para averiguar denúncias de que o gado das fazendas está sendo levado para o Paraguai e trocado por armas. O rebanho se juntou em uma parte da área, pois as cercas estão danificadas. Galinari enviará um relatório ao secretário da Segurança Pública do Estado, Dagoberto Nogueira. Por determinação do secretário, policiais civis e militares, com apoio do Departamento de Operações de Fronteira (DOF), vão realizar bloqueios nas rodovias. Policiais e agentes sanitários já apreenderam 350 quilos de carne num caminhão. Segundo o delegado, não foi possível descobrir se a carne provém do gado das fazendas.
Acordo - Os fazendeiros recusaram ontem proposta apresentada pelo juiz federal Odilon de Oliveira, no Fórum de Dourados, visando um acordo com os índios para a desocupação das sedes das fazendas.
Conforme a proposta, os índios liberariam a entrada dos produtores rurais para cuidar do gado e lavouras, mas permaneceriam nas fazendas, em áreas distantes pelo menos 600 metros das sedes. Segundo o criador José Maria Varago, da Fazenda São José, não há possibilidade de retomar a produção com os índios na propriedade. Uma nova rodada de negociações está prevista para hoje.

PF apura denúncia sobre milícia armada
JOÃO NAVES DE OLIVEIRA
Especial para o Estado
CAMPO GRANDE - A Polícia Federal iniciou ontem investigações sobre as denúncias do prefeito de Japorã, Sebastião Aparecido de Souza (PSDB), de que fazendeiros que têm propriedades invadidas pelos índios caiovás-guaranis estão formando grupos armados para expulsar os invasores. Segundo o superintendente regional da PF em Mato Grosso do Sul, Wantuir Jacine, todos os acusados serão identificados e intimados a prestar esclarecimentos na Delegacia de Polícia Federal de Naviraí, cidade próxima de Japorã.
O delegado da PF responsável pelas questões indígenas, Jonas Rossati, foi enviado à área de conflito, entre Japorã e Iguatemi, para acompanhar as investigações e analisar a situação nas 14 fazendas ocupadas pelos caiovás.
Conforme queixas registradas na Polícia civil, estão ocorrendo furtos e roubos nos imóveis ocupados. Bois, burros e cavalos são os mais visados pelos ladrões, segundo os fazendeiros.
Uso da força - Ontem, durante reunião no prédio da Justiça Federal em Dourados, o advogado dos fazendeiros, Geones Miguel Ledesma Peixoto, solicitou ao juiz federal Odilon Oliveira, que presidia a audiência, que constasse em ata o entendimento de seus clientes sobre a determinação judicial que concede a reintegração de posse aos proprietários e ainda não foi cumprida pela Justiça. "O advogado Dr. Geones representando seus constituinte, à vista da situação fática, deixa registrado sua queixa quanto à omissão do poder público em relação à efetivação da desocupação das propriedades, o que daria a entender que o Estado estaria legitimando o uso da força pelos proprietários", registrou Oliveira.
Também estavam presentes à reunião os procuradores Ramiro Rockenback da Silva e Charles Estevan, o administrador regional da Funai em Amambaí, Willian Rodrigues, o advogado dos índios, Luiz César Azambuja e o advogado da União, Carlos Erildo.
Hoje, o grupo de trabalho formado por membros do Ministério Público Federal, da OAB e da PF fazem a primeira reunião para tratar do conflito na região.

OESP, 28/01/2004, p. A9

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