OESP, Nacional, p. A10
16 de Jan de 2007
Caiovás fazem refém na Funai
Grupo pressiona para transferir corpo de índia assassinada para fazenda invadida pela tribo
João Naves
Os índios guaranis-caiovás fizeram refém, ontem, o administrador regional da Fundação Nacional do Índio (Funai), Gildo Martins, 46 anos, para forçar uma decisão sobre o traslado do corpo da índia Churitê Lopes, 70 anos. Ela foi assassinada dia 8 na Fazenda Madama, em Mato Grosso do Sul, quando participava, juntamente com 80 caiovás, da invasão da propriedade, que, segundo os índios, ocupa parte da Aldeia Jaquapery.
Alegando que a vida dos 800 indígenas que habitam a aldeia ficou desequilibrada depois do crime, os líderes da invasão querem que ela seja enterrada dentro da propriedade rural, situada entre os municípios de Amambaí e Coronel Sapucaia, extremo sul do Estado, na divisa com o Paraguai. O conselho da tribo defende que sem esse procedimento a paz não voltará.
O procurador da República em Dourados, Charles Stefan Pessoa, solicitou à Justiça Federal do município autorização para o procedimento. O pedido foi negado. Ele apelou para o Tribunal Regional Federal, em São Paulo, que também indeferiu o pedido. A índia Churitê foi, então, enterrada na aldeia.
A decisão foi comunicada aos índios no dia 9, quando resolveram continuar o bloqueio, iniciado um dia antes, da rodovia MS-289, que liga Amambaí a Coronel Sapucaia. Ontem, por volta de 7h30, o administrador da Funai em Amambaí foi até o local para tentar resolver a situação e acabou refém dos manifestantes, que acrescentaram mais uma exigência para liberar a estrada: a libertação de quatro caiovás presos na Delegacia de Polícia Civil de Amambaí, acusados de furtos de máquinas da Fazenda Madama.
O procurador Pessoa foi para o local do bloqueio às 16h, tentar solucionar o impasse, juntamente com o antropólogo Marcos Homero, do Ministério Público Federal, mas as negociações fracassaram.
A Polícia Rodoviária Estadual em Amambaí confirmou que o bloqueio continuava.
A Assessoria de Comunicação Social do Ministério Público Federal negou as suspeitas de que o procurador e o antropólogo também teriam sido feitos reféns dos caiovás.
OESP, 16/01/2007, Nacional, p. A10
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