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Cai índice de malária entre os Yanomami

Folha de Boa Vista - http://www.folhabv.com.br/fbv/noticia.php?id=69630
Autor: ANDREZZA TRAJANO
05 de Set de 2009

Os registros de malária entre os Yanomami e Ye'kuana, em Roraima e no Amazonas, apresentaram redução de 44% de janeiro a julho deste ano, em comparação ao mesmo período do ano passado, considerando ainda o surto em Auaris ocorrido há dois meses, segundo o médico sanitarista da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Oneron Pithan.

Há seis anos não havia registro da doença com transmissão em Auaris. Os poucos casos encontrados eram provenientes de indígenas da Venezuela e de garimpos, que não se disseminaram. Hoje já são quase 500 casos nos últimos dois meses.

Mas o surto epidêmico está diminuindo, afirma. O pico foi há vinte dias, quando 97 exames foram confirmados em uma única semana. Na semana passada, foram mais 24 casos. Das 34 comunidades Yanomami, 11 apresentaram a malária. Atualmente a doença está restrita a sete comunidades.

"A partir dessa semana, a malária está se restringindo à região do Kolulu, rio abaixo, mas ainda vão aparecer casos pontuais, de índios que se contaminaram um ou dois meses atrás", informou. Pithan explicou que para combater a doença é feita diariamente a borrifação concomitante com a nebulização aeroespacial, na tentativa de matar os mosquitos infectados.

"Este trabalho deve ser feito junto às comunidades, detectando todos os pacientes portadores, mesmo que não tenham sintomas, o que representa a maioria. Também deve ser feito busca ativa junto ao controle vetorial semanal, com o objetivo de interromper a transmissão", disse, esclarecendo que a busca ativa consiste em colher o sangue de toda a comunidade para realização da lâmina.

"Dessa forma, temos detectado em média 70% dos casos de malária, ou seja, são pessoas que não têm sintomas e que se a gente não buscasse essa metodologia, a situação estaria pior", ressaltou.

A previsão, conforme o médico, é que dentro de quatro meses a doença seja controlada. Para isso, estão sendo 'fechadas' portas de entradas de índios Yanomami da Venezuela, que neste caso, seriam os responsáveis pelo retorno da doença e consequente surto em Auaris.

"O grande desafio são inúmeros indígenas venezuelanos que estão buscando assistência em Auaris. Já fizemos mais de 400 lâminas em Yanomamis e Ye'kuanas de lá. Foi da Venezuela que veio a família portadora da malária. Temos pelo menos quatro portas de entradas importantes que estamos estruturando com vigilância, onde todos os índios que venham do país vizinho terão que fazer lâmina e passar por tratamento para entrar no Brasil", disse.

"Esse é um grande desafio que tem que ser tratado, porque eles estão sem assistência do lado venezuelano, onde existe uma pressão constante, principalmente por causa dos vários garimpos da Venezuela, que acabam atingindo as comunidades indígenas. Além disso, temos suspeitas que indígenas da região do Parafuri [em Roraima, a sudeste de Auaris] tenham contraído a doença em garimpos brasileiros", destacou.

O médico retificou ainda uma informação prestada por ele anteriormente, sobre a atuação dos órgãos federais. "Peço aos órgãos oficialmente encarregados que notifiquem a Polícia Federal e outras instituições, como Ibama e Incra, para ações intersetoriais que interferem na saúde dos povos indígenas, para que a atividade possa ser atingida de forma efetiva", disse referindo-se a existência de garimpo, extrativismo e projetos de colonização.

Exército também atua no combate à malária

Desde que foi detectado o surto de malária em Auaris, o 5o Pelotão Especial de Fronteira (PEF), instalado na região, tem atuado no combate à doença e na prestação de assistência médica aos indígenas doentes. O tenente Júnior Fernandes de Souza é o comandante do PEF.

A equipe de saúde é composta de um médico, um dentista, um farmacêutico, um bioquímico, dois técnicos em enfermagem, e quatro soldados auxiliares trabalham no atendimento, borrifação, nebulização aeroespacial e na busca ativa da doença (coleta de sangue e realização do exame).

O trabalho é feito nas comunidades indígenas Sanumã, Ye'kuana Nova e Velha, Taila, Karanau e também na área do 5o PEF. Quando necessário, os militares descem pelos rios de canoa para atender os índios.

Funasa diz que está colaborando com transição

O coordenador regional da Funasa, Marcelo Lopes, informou que entregará a saúde indígena à Secretaria Especial de Atenção à Saúde Indígena, com o serviço em plena atividade e melhor condição estrutural dos polos-base.

"Temos acompanhado todo processo de transição, colocando à disposição do Ministério da Saúde as informações necessárias, com profissionais de décadas de experiência, com a responsabilidade ainda dos processos vigentes. Tenho sentimento de dever cumprido, porque toda a equipe se dedicou tempo integral à saúde indígena", enfatizou.

Com relação à dificuldade de infraestrutura do polo de Auris, denunciado pelos indígenas e detectado pela reportagem, afirmou que já existe um planejamento para reforma da unidade. "As pessoas precisam entender que hospital dentro de área indígena não é como na área urbana. É de acordo com a cultura, com o modo de vida dos Yanomami, para que eles possam acender suas fogueiras, atar suas redes, dento das enfermarias de internação", observou, acrescentando que as madeiras soltas serão trocadas na próxima semana.

Com relação à reclamação de que os agentes de saúde não têm ido às comunidades, Lopes reconheceu a deficiência e prometeu agir. "Reconhecemos que a contratação que temos executado é um modelo precário, ou seja, temos que pagar o pessoal através de diária. Mas esse foi o único mecanismo que a coordenação encontrou para não atrapalhar o serviço. A partir da reclamação dos indígenas temos trocado os profissionais, embora essa rotatividade gere desconforto. Com certeza, essa questão será sanada com a contração dos convênios", disse o coordenador da Funasa.

Posterior a transição, a Funasa se dedicará apenas ao saneamento básico em municípios com menos de 50 mil habitantes, que é o caso das 14 cidades roraimenses, com exceção de Boa Vista. Para este ano, a Funasa tem previstos R$ 40 milhões para investir no serviço.

EDUCAÇÃO - Na educação, os índios de Auaris têm aulas apenas com professores indígenas. "Primeiro temos que manter nossa língua, nossos costumes, tradição. Aqui se dá aula utilziando o nome dos bichos, árvores, rios. Depois é que podemos pensar no português", explicou Davi Kopenawa.

Em outras comunidades Yanomami, como Palimiu e Alto Mucajaí, em Roraima, Marari e Novo Demini, no Amazonas, a organização não-governamental Missão Evangélica da Amazônia (Meva) atua na assistência educacional e religiosa.

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