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Caciques põem a boca no mundo

Folha de S. Paulo-São paulo-SP
05 de Set de 2002

Dois dos principais líderes indígenas do Brasil viajam pelo país e também fora dele batendo de ONG em ONG atrás de apoio para preservar a cultura indígena e a floresta amazônica. David Yanomami representa os interesses dos 2.900 ianomâmis remanescentes que vivem na divisa de Roraima com o Amazonas. Paulo Meriecureu é líder dos bororos, que vivem na aldeia Meruri (MT). Leia abaixo.

Folha - O que mais preocupa vocês?
Paulo Meriecureu - Preservar a cultura dos bororos. Vivemos a vida do branco, a maioria dos índios virou alcoólatra. A igreja, a missão salesiana, foi uma das responsáveis pela destruição da nossa cultura. Não podemos falar nossa língua nem dançar na aldeia. O padre colocou coisas na cabeça das pessoas, enche todos de culpa. Quem inventa o pecado é o próprio padre, que anda pecando também.

David Yanomami - Os mineradores levam doenças, bebida alcoólica e violência. Já morreram 40 assassinados.

Folha - Quais as suas prioridades?
Paulo - Queremos dividir o território dos bororos e assumir a responsabilidade pela parte sul, onde estou construindo uma aldeia cultural. Vamos voltar a viver em ocas, a plantar e a pescar. Três vezes por semestre, vamos nos apresentar e receber visitantes, uma espécie de ecoturismo indígena para arrecadar dinheiro. Só vai morar lá quem quiser ser bororo, quem não quiser pode ficar com o padre e tomar pinga. Começamos o projeto há nove anos, e os padres criaram um centro cultural cheio de computadores. Eles deixam os meninos jogarem, fazem tudo para tirar os jovens da gente.

David - Queremos formar agentes de saúde e também temos um projeto de educação para os ianomâmis. Para preservar a nossa cultura, precisamos aprender português e o uso de computador para redigir documentos para o presidente e para outros países denunciando a invasão da mineração e dos fazendeiros.

Folha - Por que você recebeu o Prêmio Global 500, da ONU?
David - Recebi esse prêmio em 92 em reconhecimento pela minha luta e liderança. Esse prêmio abriu meu caminho para viajar para outros países e divulgar os problemas da minha aldeia. Fui lá no chefão, na ONU, porque os pequenininhos daqui, o governo, não queriam resolver. Falei para o secretário do Ambiente da ONU que meus parentes estavam morrendo, que a natureza estava sendo destruída, então ele mandou o presidente Collor resolver o problema de demarcação da terra ianomâmi e tirar os garimpeiros.

Folha - Como as pessoas podem ajudar sua tribo?
David - Precisamos de um voluntário para ensinar português e de dois barcos a motor, um de 6,40 m e outro de 4 m, para trocar nossos produtos por ferramentas. Não existe estrada, o único acesso é por barco, e a cidade mais próxima fica a dois dias e meio de viagem.

Paulo - Podem nos contratar para fazer apresentações de canto e dança. O preço é a partir de R$ 5.000

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