A Tarde-Salvador-BA
26 de Set de 2002
O cacique Ailson dos Santos, de 42 anos, pertencente à tribo Truká, de Pernambuco, foi eleito no dia 23, em plenária realizada na cidade de Paulo Afonso, como representante indígena no Comitê do São Francisco, órgão que passará a gerenciar, de maneira integrada e socialmente responsável, os recursos hídricos da Bacia do São Francisco em toda sua extensão. O cacique, conhecido também por seu nome original Yssô Truká, conquistou 26 dos 42 votos computados na plenária, que contou com representantes de todas as comunidades indígenas localizadas nas margens do São Francisco, o que equivale a um total de 42 mil índios dos Estados da Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Sergipe e Alagoas.
Em cima da confraternização, os índios mostram-se conscientes do papel que podem desempenhar no comitê: "Essa eleição já é um grande avanço na nossa batalha, mas queremos muito mais. Queremos proteger aquilo que é nosso e vamos defender a aplicação imediata de R$ 300 milhões que foram destinados à revitalização do rio e ainda não vimos
chegar", disse Yssô Truká. Também foram eleitos na plenária os suplentes indígenas: Sandro Tuxá, (da tribo Tuxá, da
Bahia) e José Nunes (dos Xokós, de Alagoas). Os dois prometeram não medir esforços para dar apoio às iniciativas do cacique Truká junto ao comitê, que conta com um total de 60 membros, eleitos também em processo democrático entre pescadores, irrigantes, agricultores, prefeitos, empresas de saneamento urbano e outros segmentos relacionados diretamente com o São Francisco nos cinco Estados. No total de integrantes, Minas Gerais conta com 19 delegados, a Bahia, com 12, Pernambuco, com oito, Sergipe e Alagoas, com seis, cada um.
A plenária indígena contou com a coordenação do Instituto Manoel Novaes para Desenvolvimento do São Francisco (Iman), apoio da Funai (Fundação Nacional do Índio) e foi realizada em duas etapas. Na noite do dia 22, os índios assistiram palestras sobre a história da presença indígena no São Francisco e sobre a contribuição cultural dada pelas tribos, ainda hoje. No dia 23, foram escolhidas as lideranças, depois submetidas a voto direto pelos 42 povos representados. Muitos dos índios fizeram questão de comparecer à reunião, que aconteceu no Hotel Belvedere, com sua indumentária característica, incluindo cocares e colares. Alguns chegaram a fumar cachimbo para festejar a escolha do seu representante, enquanto uma tribo realizou danças sagradas ao final da cerimônia.
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