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Autor: Clenon dos Santos
20 de Ago de 2024
Maior liderança indígena do Brasil faz palestra sobre direitos indígenas no Centro Audiovisual do Museu Nacional dos Povos Indígenas, que também exibe a exposição 'Xingu: Contatos'
Exatos 59 anos separam o Raoni Metuktire da fotografia que estampa as paredes da exposição Xingu: Contatos , em Goiânia, com o líder indígena de hoje, então com os seus 92 anos. Guerreiro defensor do meio ambiente e dos povos originários, o militante está na capital goiana desde a segunda-feira (19) para participar das atividades do Centro Audiovisual do Museu Nacional dos Povos Indígenas (CAud), no Setor Pedro Ludovico.
A trajetória de luta, o semblante e a idade já avançada conferem ao cacique Raoni uma espécie de entidade viva brasileira. Não é fácil estar diante de tal nome, primeiro porque o líder indígena só se expressa em sua língua nativa, o kayapó. É preciso de intérprete para acompanhá-lo em entrevistas e palestras. Segundo porque suas falas articuladas e expressivas parecem querer dizer muito mais do que quando é traduzido.
"Muitos só pensam em destruição, derrubam as árvores, exploram as terras e o resultado é o que estamos vendo agora. Já conheci alguns espíritos da floresta e da água e eles sempre dizem que se continuarem sendo ameaçados, vão atacar. Isso não é bom para ninguém", conclama o cacique quando perguntado sobre as mudanças climáticas e as tragédias ambientais que têm acontecido no Brasil, caso das enchentes do Rio Grande do Sul e da seca no Rio Madeira, o mais longo e importante afluente do Rio Amazonas.
Vestido com o cocar de penas amarelas, chinelas havaianas e camisa social, além do seu tradicional labret, adorno no lábio inferior, Raoni observa de perto as imagens da exposição em cartaz até o dia 13 de outubro, no Centro Audiovisual. O espaço, inaugurado no início de julho, tem o intuito de se tornar um ponto de cultura ativo na realização de exposições, palestras, cursos e workshops, além de oficinas para a população indígena do Centro-Oeste.
"A exposição audiovisual tem muita importância para que as gerações futuras possam compreender as diferentes histórias. A fotografia e o vídeo não acabam, serão reproduzidos para sempre", diz Raoni, que enxerga nas imagens selecionadas para a exposição Xingu: Contatos uma forma de interpretar a cultura indígena. "O que eu quero é que as gerações se respeitem, vivam sem conflitos", completa.
Raoni tem uma proximidade com Goiás desde os tempos do seu nascimento, no Estado do Mato Grosso, e, depois, como liderança indígena e representante dos povos em Brasília (DF). O caiapó conta que já ouviu as diversas histórias narradas por outros povos originários da região goiana sobre o extermínio e o lamento dos que hoje não podem contar suas memórias.
"Antigamente eu vinha muito para Goiás, quando a população ainda era pequena e não existia tantas pessoas que habitam essa terra como agora. Tudo cresceu por aqui", adianta o cacique, que rememora lendas e histórias dos indígenas goyá que viveram há muitos séculos na região da Serra Dourada. "Lembro de encontrar uma indígena goiana em Brasília que me contou sobre o extermínio de sua família. Mataram seu pai, sequestraram seus familiares", lamenta o guerreiro.
O militante participa das atividades do Centro Audiovisual no mês em que se comemora o Dia Internacional dos Povos Indígenas. "O meu desejo é que as populações indígenas aprendam a contar suas próprias histórias. Essas imagens da exposição precisam ser levadas para as aldeias", salienta. Além de participar da roda de conversa na tarde de terça-feira (20), Raoni também integra a mesa de qualificação de fotografias do acervo do Museu Nacional dos Povos Indígenas.
Sobre a Amazônia e sua preservação, a maior luta de Raoni ao longo de toda sua trajetória histórica de militância ambiental, o cacique entende a importância de se propagar a sua luta para a posteridade. "O meu pensamento do futuro é uma floresta verde, com todos nós respirando ar puro. Se a árvore continuar em pé, haverá sombras para as próximas gerações", reitera o guerreiro.
Memória revisitada
A trajetória de luta e resistência dos povos indígenas pode ser vista na exposição Xingu: Contatos , idealizada pelo Instituto Moreira Salles (IMS). A mostra, que conta com fotografias, cartografia e materiais audiovisuais, foi exibida pela primeira vez na sede do órgão em São Paulo entre 2022 e 2023.
A exposição fica aberta ao público Centro Audiovisual do Museu Nacional dos Povos Indígenas (CAud) até o dia 13 de outubro e apresenta cerca de 150 materiais que provêm do acervo de diferentes instituições. As imagens, muitas produzidas desde o final do século 19, passaram por processos de requalificação.
Já nesta quarta-feira (21), o Centro Audiovisual promove a sessão especial do filme O Contato, do cineasta Vicente Ferraz, que estreou na última semana nas salas de cinema no Brasil. Rodado no Amazonas e falado em quatro línguas indígenas, o longa acompanha o cotidiano de três famílias dos povos indígenas yanomami, arapaso e hupda que vivem em São Gabriel da Cachoeira, região que concentra 23 povos e que falam 18 idiomas.
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