VOLTAR

Cacique guarani promete ampliar tribo e resistir a possível retirada

Agência Estado-São Paulo-SP
Autor: José Maria Tomazela
18 de Nov de 2001

Área de preservação de mata atlântica teria sido prometida pelos antepassados

Sentado no tronco de um guapiruvu centenário, derrubado a machado, o cacique Aílton Garcia, de 40 anos, fuma o cachimbo da paz cismando com uma possível guerra. Depois de conduzir índios guaranis para a "terra sem mal", uma espécie de região prometida na crença dos antepassados, ele planeja a ampliação da tribo e a resistência a um eventual despejo determinado pela Justiça. "Aqui o passarinho canta, a gente reconhece. É aqui que vamos ficar até os cabelos de todos nós ficarem brancos", decreta.
Os índios já desmataram cerca de 10 hectares para construir suas ocas e plantar lavouras de milho, mandioca e feijão. As moradias, de pau-a-pique e cobertas com folhas de palmeiras, espalham-se por duas grandes clareiras entre os Rios Quilombo e Saibadela.
Na mais antiga habitação moram o cacique e sua família, a mulher Agostinha e os filhos Graziele, de 13 anos, Lúcia, de 10, Juliana, de 7, Nardinho, de 5, e Renato, de 1. Foi ali que Garcia recebeu a reportagem do Estado. A equipe chegou protegida por dois policiais florestais e seis guarda-parques. Havia a informação de que os índios estavam em pé de guerra depois que souberam da ação de reintegração de posse.
Os visitantes foram recebidos por Luis Karaí, um índio de 24 anos, considerado o "policial" da aldeia. O cacique, arredio a princípio, logo ficou à vontade. Aílton disse que todos da tribo são nascidos no Brasil. "Eu sou do Mato Grosso e cresci no Espírito Santo", disse em português fluente.
Sobrenomes - O cacique contou que encontrou as outras famílias no litoral sul, há 12 anos. "Vieram de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, mas nenhuma da Argentina." Os sobrenomes castelhanos - Ortega, Garcia, Aguilar - vieram dos antepassados, segundo ele.
Hoje, os pequenos Ildo, de 8 anos, e sua irmã Roseli, de 5, já não vão ao rio para o banho diário. Como os outros índios, usam a torneira na frente da oca, cuja água vem do Rio Manoelzinho, represado por uma empresa contratada da Funai. Troncos de guaiuvira, cedro e angico ainda verdes testemunham o desmatamento recente. Estruturas de madeira em fase de montagem indicam que novos moradores estão a caminho. Há paus e galhos calcinados pelo fogo.
Segundo o biólogo, os guarda-parques já não vêem uma onça-pintada que vivia por ali. Os monocarvoeiros, as jacutingas e os macucos escassearam. O cacique diz que os índios só caçam quando não chega a cesta básica da Funai.
Ele espera agora a instalação de uma escola para a tribo. "Escola da cidade não é boa porque ensina outros costumes."

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.