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Cacique de Nonoai teme retomada de rixa entre brancos e índios na região

Zero Hora - http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/
Autor: Carlos Wagner
03 de Jun de 2010

O cacique da reserva indígena de Nonoai, José Orestes Nascimento, 60 anos, o Zé Lopes, vive uma situação embaraçosa. Um de seus nove filhos foi preso suspeito de ter facilitado a fuga dos bandidos que assaltaram um banco em Gramado dos Loureiros. Outro é vice-prefeito da cidade.

Zé Lopes comanda a tribo dos índios caingangues, formada por 3,6 mil pessoas divididas em cinco aldeias espalhadas pelos 25 mil hectares da reserva nos municípios de Nonoai, Planalto e Gramado dos Loureiros. A mesma comunidade, em 1978, se envolveu em uma guerra com as 1,5 mil famílias de agricultores brancos que viviam como intrusos em suas terras. Como resultado da guerra entre os dois grupos, restaram velhos ódios de parte a parte. Por telefone, Zero Hora falou com o cacique. A seguir trechos da entrevista.

Zero Hora - Um dos seus filhos, Marcos, é um dos presos suspeitos de terem facilitado a fuga dos assaltantes do banco. Outro, Erpone Nascimento, é vice-prefeito da cidade. O senhor é o cacique da tribo. O que irá acontecer?

Zé Lopes - O meu coração de pai está partido. O meu filho preso estava cortando lenha no mato acompanhado por um outro índio, o Nilson Inácio. Os bandidos chegaram e forçaram o amigo do meu filho a levá-los. A polícia veio e prendeu os dois. Agora há uma monte de brigadianos chutando as portas das casas dos índios na reserva. Acredito na palavra do meu filho e do amigo dele, que não estão envolvidos até que alguém me prove o contrário. Não é correto o que está acontecendo aqui.

ZH - Seu outro filho, que é vice-prefeito, como reagiu?

Zé Lopes - Ele está tão assustado com a situação como o resto da tribo.

ZH - No que o seu filho preso trabalhava?

Zé Lopes - Ele era uma espécie de secretário lá na prefeitura. Fazia de tudo um pouco.

ZH - O senhor é o cacique da maior tribo de caingangues do Estado. Esta é a primeira vez que acontece de indígenas serem apontados como suspeitos de envolvimento em assalto a bancos. O que o senhor fará?

Zé Lopes - Vou agir como cacique. Não como pai. A comunidade tem uma boa relação com os brancos que vivem nas cidades ao redor. Temos o maior interesse em esclarecer tudo. Mas não vou admitir que os brigadianos continuem assustando as mulheres e as crianças na área. E nem a presença da Polícia Civil. Amanhã, eu vou falar com o Ministério Público Federal para pedir que a Polícia Federal esclareça o caso.

ZH - Em 1978 houve um grande confronto entre os caingangues e os brancos da região. Na época, 1,5 mil famílias de agricultores viviam como intrusas na reserva e foram expulsas. Em decorrência do episódio ficaram muitas mágoas de lado a lado. O senhor teme que este assalto a banco venha a reabrir velhas feridas?

Zé Lopes - O perigo existe. Vamos torcer para que tudo seja esclarecido rapidamente para não dar tempo que as velhas feridas sejam reabertas.

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