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Cachoeira de Iauaretê é oficialmente reconhecida como patrimônio imaterial do Brasil

ISA
Autor: Lucia Alberta e Andreza Andrade
23 de Out de 2006

Em São Gabriel da Cachoeira (AM), ao som das flautas indígenas, os Tariano e Tukano comemoraram a entrega do certificado de registro da Cachoeira de Iauaretê, no Alto Rio Negro, como Patrimônio Imaterial do Brasil. O registro inaugura o Livro de Lugares, do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Agora é oficial, a Cachoeira de Iauaretê, localizada no rio Uaupés é Patrimônio Imaterial do Brasil. A cerimônia de entrega do certificado aconteceu na última quarta-feira, dia 18, em São Gabriel da Cachoeira (AM). O registro inaugura o Livro de Lugares, do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ligado ao Ministério da Cultura, e celebra o reconhecimento da Cachoeira de Iauaretê - conhecida como Yaiwa poea (em Tukano), Yawipani (em Tariano), Yauaretê (em Nheengatu), e Cachoeira das Onças (em Português) - como lugar sagrado dos povos indígenas da região.

O evento contou com a presença de Márcia SantAnna e Ana Gita de Oliveira representando o Iphan, e representantes da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), do Instituto Socioambiental (ISA) e das principais lideranças indígenas do distrito de Iauaretê.

Durante a cerimônia, as lideranças indígenas relembraram toda a trajetória de luta para o reconhecimento e disseram que aquele momento marca uma nova história para os povos indígenas do Alto Rio Negro. "Depois de 78 anos, nós povos indígenas de Iauaretê, estamos revitalizando a nossa cultura e lutando para que permaneça viva", afirmou Luiz Aguiar, liderança tariano.

Aguiar relembrou ainda que todos os povos de Iauaretê precisam continuar reivindicando os diversos bens culturais que ainda se encontram fora das suas comunidades, a exemplo das peças e enfeites sagrados levados por missionários salesianos no início do século passado - e que hoje estão no Museu do Índio em Manaus. Precisamos repatriar as nossas peças e levá-las para a nossa maloca, para que os nossos jovens vejam como os nossos antepassados viviam”. A maloca tariano foi inaugurada no final do ano passado em Iauaretê e hoje é símbolo de revitalização da cultura indígena local. Com a repatriação das peças e enfeites, a maloca também se tornará um "museu vivo", que contribuirá para ações educativas de expressão cultural dos povos indígenas daquela região.

De acordo com Geraldo Andrello, antropólogo do ISA que acompanhou o processo de registro, o momento representa o início de um extenso plano de salvaguarda que será desenvolvido também no âmbito da escola tariano e das demais escolas indígenas localizadas nas imediações da Cachoeira da Onça. Este plano consiste em realizar uma série de ações que irá promover a conservação e a divulgação desse bem cultural. As ações se concentrarão em mapear outros lugares sagrados, publicar livros nas línguas indígenas, apoiar os Projetos Políticos Pedagógicos das escolas indígenas da região, produzir material áudio-visual, entre outras. "O momento agora é de elencar, junto às lideranças indígenas, quais são as prioridades para dar início ao plano de salvaguarda", diz Andrello.

Márcia SantAnna, do Iphan, iniciou sua fala dizendo que é uma das prioridades do órgão federal dar visibilidade para regiões mais distantes dos grandes centros e a região norte já vem se destacando em diversas ações em curso. O trabalho com povos indígenas vem se estendendo desde o Amapá com o registro do grafismo e pintura corporal Waiãpi, até o Alto Rio Negro, com o registro da Cachoeira das Onças.

A boa notícia dada pela diretora do Iphan às lideranças presentes na cerimônia se refere as providencias jurídicas que o órgão vem implementando para iniciar o processo de repatriação dos enfeites sagrados que estão no Museu do Índio em Manaus. "E esta é apenas uma das muitas ações que o instituto irá trazer, com o apoio das parcerias com a Foirn, ISA e associações locais de Iauaretê, para a salvaguarda do patrimônio hoje registrado", afirmou Márcia SantAnna. Todas as instituições e associações indígenas envolvidas receberam o certificado. Muito emocionados, os indígenas comemoram a entrega do documento com cantos e danças tradicionais.

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