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Cacau com selo verde busca mercado externo

OESP, Economia, p. B18
02 de Jul de 2008

Cacau com selo verde busca mercado externo
Fazenda na Bahia consegue a primeira certificação de agricultura sustentável para o produto

Andrea Vialli

0 Brasil vai produzir cacau com "selo verde". De olho nos mercados europeu e americano, a Vale do Juliana Fazendas Reunidas, empreendimento localizado em Igrapiúna (BA), obteve em junho a primeira certificação agrícola para o produto no País - o selo Rainforest Alliance Certified, concedido pela certificadora Imaflora. 0 selo atesta que a produção agrícola obedeceu a preceitos socioambientais.
A certificação deve trazer mais valor a uma cultura que já sofreu com grandes pragas e hoje tenta recuperara rentabilidade. A fazenda Vale do Juliana fica na região conhecida como baixo sul da Bahia, que reúne 11 municípios. Localizada e numa área de preservação permanente (APA), a fazenda se tornou um teste para a produção no sistema agroflorestal - onde os produtos agrícolas são cultivados próximos à mata nativa.
Hoje, 70% da área da fazenda, de 4,6 mil hectares, é ocupada por Mata Atlântica, com o cultivo associado de palmito pupunha, banana e borracha. Com esse modo de produção, os cacaueiros crescem à sombra de seringueiras e outras árvores nativas, o que elimina a necessidade de desmatar para produzir.
Outro diferencial são as parcerias agrícolas. As famílias ali instaladas não são proprietárias da terra, mas administram em torno de dez hectares cada uma e dividem 50% dos custos de produção e dos lucros com os donos da fazenda. "A área é uma espécie de laboratório para um sistema de agricultura sustentável, e a proposta é replicar o modelo para outras comunidades no sul da Bahia", explica Rogério Arns, especialista em desenvolvimento comunitário da Fundação Odebrecht, que tem projetos sociais e trabalha no desenvolvimento das cadeias produtivas na região.
Em 1989, antes da praga da vassoura-de-bruxa, a Bahia produzia 400 mil toneladas de cacau. Em 2000, no auge da crise, não produzia mais que 96 mil toneladas. Para Lineu Siqueira Júnior, gerente de certificação da Imaflora, o selo verde do cacau deve dar um novo impulso à cultura. S um negócio de enorme potencial. 0 que falta é essa informação chegar ao consumidor: de que o País já produz um cacau produzido com respeito ao meio ambiente e remuneração adequada aos produtores."
INTERESSE
0 cacau com selo verde já desperta interesse. A produção é vendida para empresas que fazem o processamento das amêndoas e vendem à indústria de chocolates. Com a certificação, o empreendimento espera ganhar o mercado global.
"Estamos estudando desenvolver uma marca para o cacau e o chocolate produzidos aqui. A certificação hoje é exceção mas no futuro pode ser uma exigência para se fazer negócios", diz Paulo Sérgio Santos, líder do negócio cacau da Vale do Juliana. Segundo ele, o selo verde pode trazer um prêmio de até US$ 400 à tonelada de cacau, atualmente cotada em US$ 3 mil.

Agricultura sustentável

Certificação: 0 selo de agricultura sustentável Rainforest Alliance Certified é concedido no País pela Imaflora (www.imaflora.org.br) e atesta que a produção agrícola obedeceu a critérios sociais e ambientais
Critérios ambientais: Manutenção de áreas de mata nativa: conservação do solo e dos recursos hídricos e proteção da vida silvestre estão entre as normas que a propriedade deve seguir
Critérios sociais: Tratamento justo; boas condições de trabalho; saúde e segurança ocupacional e relações com a comunidade são alguns dos critérios sociais
Expansão: No Brasil, a área agrícola com certificação da Rainforest Alliance cresceu 60% em 2007. e chegou a 72 propriedades. A maior parte é composta por fazendas de café, mas o interesse cresce entre os produtores de laranja e de cana-de-açúcar

OESP, 02/07/2008, Economia, p. B18

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