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Brincadeira de indio

CB, Super, p.4-5
17 de Abr de 2004

Brincadeira de índio
As crianças das aldeias adoram se divertir com brincadeiras, jogos e brinquedos muito parecidos com os de meninas e meninos da cidade
Brincadeira de peteca? perna de pau? 0 boliche que os americanos veneram? Quebra-cabeça? Jogo de dados? Bola de gude? Que coisa antiga! Muito antes de o homem branco chegar ao Brasil, descobrir as terras daqui e achar-se dono absoluto de tudo, as crianças de cor amarela, cabelo preto liso e escorrido, que não falavam português e andavam naturalmente nuas já brincavam assim. Elas não tinham os recursos que os brinquedos e jogos têm hoje, mas a essência era a mesma. Talvez até melhor. Até hoje, as crianças das aldeias brincam dessa forma.
Uma equipe de pesquisadores da empresa Origem Jogos Indígenas rodou por várias tribos e aldeias espalhadas pelo país. Filmou e produziu um documentário. Hoje, 19 de abril, data em que se comemora o Dia do índio, você vai conhecer essas brincadeiras, brinquedos e jogos.
A maioria deles é muito parecida com as brincadeiras que você faz no pátio da escola, em casa, na quadra ou no shopping. A descoberta só reforça a idéia de que herdamos muita coisa dessa gente, como tomar banho diário, a rede para tirar aquela soneca e a deliciosa tapioca.
Para saber a origem dos jogos, brinquedos e brincadeiras, os pesquisadores visitaram, com autorização da Funai, oito aldeias diferentes do país, como a tribo dos kamaiurá, no Alto Xingu, os Bororo da aldeia Meruri e os Pareci da aldeia JM, ambas em Mato Grosso, além dos Terena, da aldeia Cachoeira, em Mato Grosso do Sul.
Logo nas primeiras visitas, os estudiosos perceberam que crianças, jovens e adultos brincavam muito nas ruas das aldeias. 0 pesquisador Maurício Lima conta que o mais impressionante foi a semelhança da diversão dos índios com jogos comuns aos da sociedade brasileira. Foram descobertas mais de 40 brincadeiras.
Em algumas aldeias eles fazem até apostas, como no caso da Formoso, no Mato Grosso. Em todos os jogos de dados (eles chamam de rifa) apostavam flechas e cestos, mas atualmente preferem os cigarros, canivetes e sabonetes. Antes da pesquisa, acreditava-se que as brincadeiras dos índios eram apenas uma forma de passar às crianças ensinamentos de sobrevivência. Um exemplo pode ser visto no uso do arco e da flecha tanto para a caça quanto para se defender.
- Agora, sabemos que os índios têm atividades usadas só para passar o tempo - explica o pesquisador.
Na aldeia Meruri, no Mato Grosso, os Bororo já conheciam os jogos de estratégias e as crianças brincam de peteca e com o jogo cama-de-gato, com desenhos inspirados na cultura deste povo. Os Canela, no Maranhão, conhecem um quebra-cabeça considerado um clássico pela simplicidade da idéia e engenhosidade da solução. Eles chamam o jogo pelo nome de Ihkã Cahhêc Xá. Além disso, os pesquisadores registraram nesta aldeia muitas brincadeiras que as crianças da cidade praticam no dia-a-dia, como pular corda, batalha de pião, perna de pau, estilingue.
Já na aldeia Vendaval, à beira do rio Solimões, no estado do Amazonas, as crianças e adolescentes Ticuna utilizam jogos muito originais e materiais da Floresta Amazônica para criar seus brinquedos. Os campeonatos de bilboquê são muito disputados. O bilboquê é fabricado com castanha de uma fruta encontrada na floresta. No jogo de bola de gude, as regras são as mesmas que conhecemos, mas as bolinhas são feitas de barro e o nome do jogo é nigütaruü.
Os pesquisadores levaram 24 horas em avião e barco para chegar a uma aldeia dos Mayoruna, que fica no vale do rio Javari, na fronteira do Brasil com o Peru, no estado do Amazonas.Esse povo só foi localizado na década de 70. Conhece brinquedos como o pião, o zunidor e uma espécie de bumerangue, denominado na língua deles de bincate. As crianças utilizam muito o arco e a flecha no momento em que se preparam para a vida adulta. Os Mayoruna são muito bons caçadores e pescadores.

BOLICHE - Chamado de Tidymure pelo povo Paresis,o boliche é praticado só pelas mulheres. No centro da aldeia prepara-se uma pista retangular de aproximadamente 15 metros de comprimento e 1 metro de largura. Nas duas extremidades são fixados dois pinos de cada lado, feitos com uma haste de bambu e uma semente de milho no topo. A haste é enterrada na areia. No lugar da bola, os Paresis usam a fruta do marmeleiro.

PIÃO - Feito com a fruta yuaapong e varinha de bambu, o pião é lançado friccionando a varinha de bambu. Entre os índios da tribo Yawalapti, no Alto Xingu, o brinquedo é produzido com a fruta do tucum e com um furo para produzir o zumbido.

ADUGO - É como os índios bororo, da aldeia Meruri, no Mato Grosso, chamam esse jogo de tabuleiro. Mas eles jogam no chão, com o tabuleiro traçado na areia e usando pedras como peças. Uma peça representa a onça, e as outras 15, os cachorros.A peça que representa a onça é diferente das demais. Trata-se de um jogo de estratégia para dois jogadores, onde um deles atua com apenas uma peça, a onça, com o objetivo de capturar as peças do adversário.A captura é feita de forma semelhante ao jogo de damas, O outro jogador atua com as 15 peças, que representam os cachorros, com o objetivo de encurralar a onça e deixá-la sem possibilidade de movimentação.Jogos semelhantes ao Onça e cachorros são conhecidos por serem praticados pelo povo inca, no Peru, e também na índia e na China No Peru, as peças representam o puma (onça parda comum nos Andes) e carneiros. Na índia, tigres e cobras, e na China, senhor feudal e camponeses.

YWA YWA - É um jogo que mostra a grande habilidade do povo Kamaiurá na utilização do arco e da flecha. Um grupo de crianças lança um arco circular feito de fibra de buriti, que rola no chão enquanto outro grupo tenta atingir este arco.
TIPA - Desenha-se um círculo na areia onde se colocam 5 pedrinhas. Dois jogadores se revezam na tentativa de lançar as pedrinhas para cima usando uma colher de pau de forma a que elas caiam de volta dentro do círculo. Quem deixar uma das pedras cair fora perde a partida.
UI'UI - Jogo de habilidade e observação diferente de qualquer outro. Neste jogo, um fio feito com palha de buriti bem afinado é encoberto pela areia e os demais jogadores têm de descobrir em que direção ele se encontra.
RIFA - Trata-se de um jogo de dados muito usado nas aldeias do povo Paresis. O dado é esculpido em madeira, tem quatro faces, sendo que apenas uma delas é marcada com um X.As outras faces não têm qualquer desenho. Quando o dado fica com a face marcada com o X para cima, o jogador tem a chance de vencer a rodada. Mas o adversário sempre tem a chance de conseguir o empate.
PERNAS DE PAU - Com o uso de madeira local e uma tira de embirra, que serve para fixar dois pedaços de madeira menores onde se apóia o pé. O nó da tira é ajustado de acordo com a altura em que o índio fica apoiado. O brinquedo é chamado de Texware.
PIÃO - Feito com a fruta yuaapong e varinha de bambu, o pião é lançado friccionando a varinha de bambu. Entre os índios da tribo Yawalapti, no Alto Xingu, o brinquedo é produzido com a fruta do tucum e com um furo para produzir o zumbido.
PETECA - Feita com palha de buriti e recheada de folhas de algodão para ficar macia. Em cada aldeia a peteca tem um nome diferente. É conhecida como Popok na aldeia Kamaiurá, Paopao entre os Bororos e Pó-hyhpr para os indígenas Canela.
CAMA-DE-GATO - Neste jogo, chamado de Mojarutap Myrytsiowit, os índios Kamaiurá criam diferentes figuras, demonstrando habilidade manual e originalidade. Eles usam fio de tecido de buriti.As figuras são ligadas à cultura indígena, como morcegos, gaivotas, peixinhos, tucunaré e cobra.

CB, 17/04/2004, p. 4-5

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