OESP, Vida, p. A16
23 de Mai de 2006
Brasileiro está atento ao ambiente, mas não colabora
Pesquisa do Vox Populi mostra que população não se dispõe a ajudar
Lígia Formenti
A consciência ambiental do brasileiro aumentou de forma significativa nos últimos quatro anos, revela pesquisa feita pelo Vox Populi em todo o País. O maior volume de informações sobre queimadas, desmatamento ou poluição, no entanto, não reverteu em mudança de comportamento.
O brasileiro ainda resiste em alterar seus hábitos, sobretudo se isso traz reflexos em seu bolso. Poucos estão dispostos a pagar taxas ou contribuições para reduzir os riscos ambientais ou financiar causas que protejam a natureza, mostra o estudo.
"Talvez as pessoas tenham insegurança sobre a aplicação adequada do dinheiro", avalia a coordenadora da pesquisa, Sâmia Crespo. O trabalho, divulgado ontem, analisou 2.200 entrevistas, 83% delas feitas entre a população residente em centros urbanos. O estudo comparou resultados de análises semelhantes, feitas nos anos de 1992, 1997 e 2001.
Apesar da maior consciência das pessoas, meio ambiente ainda não figura entre as maiores preocupações dos brasileiros. O tema ocupa o 12o lugar no ranking, com 6% das respostas, o mesmo posto de 2001. Perde até para a falta de ética, que teve 7% dos votos. Em primeiro lugar na preocupação está o desemprego (58%), seguido de violência (57%) e saúde (38%). Segundo Sâmia, outro fator de maior consciência é o porcentual de pessoas que já ouviram falar de termos como transgênicos, biodiversidade ou área protegida.
MUDANÇA DE HÁBITO
A maior preocupação dos entrevistados foi com desmatamento, 65%, conclusão semelhante à de 2001. A porcentagem na época, no entanto, era menor: 49%. Em seguida, veio a contaminação de rios, lagos e praias. Neste ano, 43% admitiram ter essa preocupação, ante 29% em 2001. A região que mais desperta preocupação é a Amazônia, seguida pela mata atlântica e, mais atrás, o Pantanal.
A disposição das pessoas para mudar hábitos teve aumento pouco significativo. A maior expansão ficou por conta da separação do lixo para reciclagem: passou de 68% em 2001 para 78%, em 2006. Em contrapartida, o número de gente disposta a reduzir o consumo de energia elétrica caiu: passou de 57% para 51%.
O mesmo fenômeno se deu com a redução do consumo de gás. Em 2001, 21% diziam-se animados a realizar essa tarefa. Agora, esse grupo passou a 17%. Mas é quando a mudança envolve dinheiro que o ânimo de proteger a natureza cai de vez. Somente 7% estão dispostos a pagar impostos para despoluir rios, 4% admitiriam contribuir com organizações que cuidam do meio ambiente e 10% aceitariam pagar mais caro por frutas e legumes cultivados sem produtos químicos.
LISTA
Três anos depois do lançamento da idéia, o governo apresentou ontem uma lista de espécies brasileiras para tentar evitar o registro no exterior de plantas típicas do País. A proposta surgiu depois do embate entre Brasil e uma empresa japonesa que registrou o nome cupuaçu no exterior. O País ganhou a batalha jurídica, mas amargou prejuízo significativo até o registro da marca ser cancelado.
País trabalhará pela 'extinção zero'
Para evitar problemas desse tipo, durante dois anos um grupo interministerial se dedicou a formar uma lista com nomes que agora serão apresentados a escritórios internacionais de registro - equivalentes ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual existente no Brasil - e organismos internacionais, como a Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI).
A lista tem 3 mil nomes, dentre os quais capim, louro, erva pimenteira e açaí. O grupo vai continuar se reunindo para incluir mais nomes.
Para marcar o Dia da Biodiversidade, celebrado ontem, o Ministério do Meio Ambiente anunciou algumas novidades. A ministra de Meio Ambiente, Marina Silva, apresentou a criação da Aliança Brasileira para Extinção Zero, formada pela parceria com a Fundação Biodiversitas, ONGs, instituições governamentais e institutos de pesquisa para criação de uma estratégia de preservação das espécies. "Estudos mundiais mostram que o ritmo de extinção de espécies em alguns casos é de 100% a 1.000% maior do que o que seria registrado naturalmente", afirmou o secretário de Biodiversidade e Florestas, João Paulo Capobianco. Hoje no Brasil existem 627 espécies de fauna e flora em extinção.
O governo também anunciou o ingresso do País numa estratégia mundial para combater espécies invasoras. A participação começou no ano passado, quando um grupo iniciou o levantamento de quantas espécies exóticas saíram do controle no Brasil e hoje ameaçam fauna e flora locais. As conclusões foram alarmantes. O País hoje tem 543 espécies "importadas" que ameaçam a economia, o ambiente e a saúde humana. Entre elas há 176 organismos terrestre, 66 marinhos e 49 de águas continentais. O mexilhão dourado, por exemplo, chegou ao Brasil em água de lastro, usada para dar estabilidade aos navios.
OESP, 23/05/2006, Vida, p. A16
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