O Globo, Ciencia e Vida, p.40
13 de Mar de 2004
BRASIL VAI TESTAR FEIJÃO TRANSGÊNICO
Variedade desenvolvida pela Embrapa promete trazer economia para o paísBRASÍLIA. O Brasil poderá plantar comercialmente em três anos feijões geneticamente modificados (transgênicos), resistentes ao mosaico dourado, uma das principais pragas dessa cultura no país. O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) deu ontem autorização para a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), responsável pelo desenvolvimento da planta, começar os testes de campo. Já na segunda-feira os pesquisadores Josias Faria, da unidade de Arroz e Feijão da empresa, e Francisco Aragão, da Embrapa Recursos Genéticos, começarão o cultivo experimental numa área no interior de Goiás, a 12 quilômetros de Goiânia. A intenção é testar a planta, até agora mantida apenas em estufa, em ambiente natural. Também serão realizados testes em outros estados, para que sejam avaliadas variações climáticas e de solo e a adaptação da semente. Nos próximos três anos, período pelo qual vale a licença, os pesquisadores irão fazer estudos de segurança alimentar e também de viabilidade comercial. Faria explica que foram desenvolvidas mais de uma linhagem do feijão e a meta é descobrir qual funciona melhor em campo.O mosaico dourado é hoje uma das principais pragas que afetam o feijão. O vírus, transmitido pela mosca branca, entra na planta e começa a produzir uma enzima. Quando atinge um determinado estágio, o próprio vírus começa a se reproduzir e mata o feijoeiro. A praga pode chegar a destruir 100% de uma plantação. Em muitas regiões, os produtores estão deixando o feijão para plantar soja, milho e outras culturas por causa da praga explicou Aragão. Hoje, a única forma de combater o mosaico é com aplicações seguidas de agrotóxicos o que não só sai caro como prejudica o meio ambiente. Essa pesquisa é muito importante para os plantadores de feijão. O custo dos pesticidas é muito alto disse Amauri Dimárzio, secretário-executivo do Ministério da Agricultura. Os pesquisadores conseguiram colocar no feijão um gene modificado da enzima que o vírus induz a planta a produzir. Com isso, mesmo quando contaminada, a planta considera que já tem nível suficiente da enzima e não a produz mais, o que impede o vírus de se reproduzir. Essa é a segunda autorização que a Embrapa recebe para fazer a pesquisa de campo com alimentos transgênicos. A primeira foi para o mamão transgênico resistente a vírus, em novembro de 2003, que está sendo plantado em Cruz das Almas, na Bahia.
O Globo, 13/03/2004, p. 40
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