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Brasil tem recorde nos encalhes de baleias

FSP, Ciência, p. C13
14 de Dez de 2010

Brasil tem recorde nos encalhes de baleias
Jubartes que foram parar no litoral somam 96 até o fim do mês passado
Número mais que dobra pior registro anterior, de 43 animais, em 2007; causas do fenômeno ainda não estão claras

Elida Oliveira
De São Paulo

O Brasil registrou recorde de encalhes de baleias jubartes (Megaptera novaeangliae) no litoral em 2010.
Até novembro -fim da temporada de encalhes-, foram contabilizados 96 casos em que essas baleias chegaram até a costa, vivas ou mortas. O número é 123% maior que o recorde de 2007, quando houve 43 encalhes.
Os casos se concentram no litoral da Bahia (36) e do Espírito Santo (30), locais de reprodução da espécie. Filhotes são as principais vítimas.
Embora diversas espécies de baleias frequentem a costa do Brasil, o aumento de encalhes aconteceu somente com as jubartes.
De acordo com Milton Marcondes, do Instituto Baleia Jubarte, a espécie está se recuperando de anos de caça predatória, e a população aumentou. Com mais indivíduos no mar, maior o número de carcaças levadas até a praia pela maré.
No entanto, outras causas são consideradas. Marcondes cita o aquecimento global, que pode estar diminuindo a oferta de krill -crustáceo parecido com um pequeno camarão, base da alimentação das jubartes. Com a escassez do alimento, os animais ficam debilitados e geram filhotes mais fracos.
Outra possibilidade é a introdução de algum vírus ou bactéria que esteja enfraquecendo a população.
Além disso, alguns animais aparecem na praia com sinais de colisão com barcos.
É muito difícil salvar a vida dos animais que chegam à praia. Mesmo quando resgatadas, a tendência é que eles voltem e acabem morrendo.

REDE DE RESGATE
O responsável pelo programa de conservação de cetáceos no ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), Paulo Flores, diz que a situação é mesmo preocupante.
"Há dificuldade em definir a causa da morte, que vai desde o estado do animal -que pode chegar ao litoral em decomposição, dificultando a necrópsia- até o tamanho das baleias, complicadas de manusear", diz. Às vezes, é preciso até explodir o cadáver
No ICMBio, o CMA (Centro Nacional de Pesquisa de Conservação de Mamíferos Aquáticos) está formando uma rede de estudiosos no país unindo universidades, ONGs e aquários interessados em trocar informações.
Há contato ainda com pesquisadores internacionais, segundo Flores, para comparar se em outras costas também houve mais encalhes.
Depois das jubartes, as baleias de maior incidência no Brasil são as francas. Neste ano houve cinco encalhes.
Embora o número seja bem superior ao do ano passado, quando houve só um encalhe, o aumento não causa alarme, afirma Karina Groch, diretora de pesquisa do Projeto Baleia Franca.

Saiba mais
Explodir a baleia é opção para eutanásia

Ricardo Mioto
De São Paulo

O bicho encalhado é tão grande que segue incólume à injeção letal -não que fosse ser necessário um caminhão-pipa de medicamentos, mas seu corpo, com mais de 20 toneladas, demanda doses muito altas, e mesmo assim nunca se sabe se vai dar certo.
Atirar também não serve -mesmo que uma tropa se posicionasse, a baleia sentiria dor: não há tiro fatal em um bicho de mais de 10 metros, não há Bope que resolva.
Em setembro, então, a Austrália resolveu fazer a eutanásia de uma jubarte muito debilitada com explosivos na sua cabeça. A técnica não é inédita, mas a feiúra da cena faz com que ela seja evitada.
Na mesma época, em Santa Catarina, biólogos sacrificaram uma baleia de 40 toneladas. Para evitar explosivos, usaram injeção, mas só deu certo na segunda tentativa.

FSP, 14/12/2010, Ciência, p. C13

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe1412201002.htm
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe1412201003.htm

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