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Brasil reforma estradas para escoar soja

JB, Economia & Negocios, p.A23
10 de Out de 2004

Brasil reforma estradas para escoar soja
Depois de 10 anos sem obras, governo vai investir US$ 570 milhões na recuperação de rodovias a tempo para safra de 2005
Kátia Cortes
Da Bloombreg News
O Brasil, segundo maior produtor mundial de soja, pretende investir US$ 570 milhões para reformar suas estradas antes da colheita da próxima safra do produto, pois a deterioração da infra-estrutura de transporte torna os exportadores do país menos competitivos.
De acordo com Paulo Sergio Oliveira Passos, secretário-executivo do Ministério dos Transportes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem de aumentar os investimentos em rodovias, ferrovias e vias navegáveis para manter o Brasil em uma posição de destaque no setor de exportações.
- O governo do Brasil tem adiado os investimentos em rodovias e portos por mais de dez anos para disponibilizar mais recursos para quitar a dívida do país, no valor de US$ 430 bilhões - afirma Passos.
Três quartos das estradas brasileiras pavimentadas - a maioria administrada pelo governo - apresentam buracos, sinalização inadequada, rodovias vicinais ruins ou traçados mal projetados, segundo uma pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes divulgada na quinta-feira.
Passos revela que o governo pretende investir R$ 1,6 bilhão (US$ 570 milhões) para consertar 11 mil quilômetros de estradas até março do ano que vem, quando a safra de soja do período 2004-2005 começa a ser colhida.
As medidas de emergência que o governo está tomando para recuperar as estradas não são suficientes. Precisamos de muito mais investimentos para mudar esse cenário crítico no Brasil - ressaltou Clésio Andrade, presidente da CNT, na apresentação do estudo.
0 programa do Ministério dos Transportes para reforma de estradas para escoamento da safra de soja está dentro do orçamento da pasta para este ano, que foi triplicado de R$ 712 milhões em 2003 para R$ 2,3 bilhões.
- Com os baixos preços dos mercados internacionais da soja, fica muito mais difícil arcar com altos custos de produção - diz Sergio Mendes, diretor da Associação Nacional de Exportadores de Grãos. - No Brasil, os custos do frete são tão altos que os produtores agrícolas preferem não aumentar sua área plantada.
Os produtores de soja brasileiros gastam em torno de US$ 34 por tonelada de produto só com custos de frete, cerca do dobro do que gastam os produtores dos Estados Unidos e da Argentina, que são os maiores concorrentes dos brasileiros. Essas altas despesas com os transportes aumentam em US$ 864 milhões os gastos anuais do setor de soja brasileiro, de acordo com o que mostra um estudo da Associação Brasileira dos Fabricantes de óleo Vegetal.
O Ministério da Agricultura prevê que a safra de soja do Brasil atingirá o recorde de 65 milhões de toneladas no ano que vem, contra as 49,8 milhões de toneladas de 2004, aumentando a pressão por melhorias nas rodovias nacionais.
- Às vezes perdemos oportunidades excelentes de exportar porque não somos rápidos o suficiente para chegar até nossos clientes - disse Cesar Borges de Souza, vice-presidente da Caramuru Alimentos, sediada em Itumbiara, Goiás, e quinta maior processadora de grãos e óleo de cozinha do país. - Estamos entrando num período difícil e precisamos melhorar nosso sistema.
O estudo da CNT foi realizado entre 28 de junho e 29 de julho passados e abrange 74.681 quilômetros de estradas pavimentadas do Brasil, incluindo 100% das estradas federais e partes de rodovias estaduais e mantidas pela iniciativa privada. Da quilometragem total percorrida, 65,4% não tinham sinalização suficiente, 56,1% apresentavam pavimentação precária e 39,8% não tinham estradas vicinais, segundo o estudo.
O setor de soja do Brasil conta com as rodovias para transportar cerca de 60% de sua produção. As ferrovias respondem por 33% desse transporte e as vias navegáveis, por 7%, disse Sergio Mendes, citando os números da Associação Nacional de Exportadores de Grãos.
Os Estados Unidos, maiores produtores mundiais de soja, utilizam as rodovias para transportar apenas 16% de seus grãos, as ferrovias para escoar 23 % e as vias navegáveis para movimentar 61% do produto. A Argentina, terceira maior produtora mundial, emprega estradas para movimentar 82% de sua soja, estradas de ferro para 16% e vias navegáveis para os 2% restantes.

Caminhos difíceis
Pavimentação 56,1% da malha rodoviária pavimentada está com o piso em estado deficiente, ruim ou péssimo
Sinalização 65,4% da extensão da malha apresentam sinalização inadequada
Acostamento 39,8% das estradas percorridas não possuem acostamento, enquanto 24,6% estavam com as placas cobertas por mato
Imperfeições 11,1% dos trechos apresentavam afundamentos, ondulações ou buracos
Resultado Geral 74,7% da extensão total das estradas pesquisadas pela CNT apresentaram algum grau de imperfeição (36,4% deficientes; 23,7% ruins; e 14,6% péssimas)

JB, 10/10/2004, p. A23

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