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Brasil reforça o controle na Região Amazônica

Zero Hora-Porto Alegre-RS
Autor: KLÉCIO SANTOS
18 de Nov de 2002

Fronteira com a Colômbia é vigiada

O Brasil está multiplicando as tropas militares na Amazônia. Sem alarde, novos pelotões de fronteira são criados, patrulhas fluviais reforçadas e bases aéreas ampliadas.

Existem hoje cerca de 23 mil militares na região, mais do que o dobro de há cinco anos. A guerra civil colombiana e a expansão do narcotráfico levaram até à retomada de projetos quase extintos, como o Calha Norte.

O reforço militar - principalmente na faixa de 1,6 mil quilômetros de fronteira com a Colômbia - confere à região novo status e muda a estratégia de defesa nacional. Uma ameaça de conflito no Cone Sul é coisa do passado. A prioridade agora é a Amazônia. Esta mudança ganhou força a partir de 2000, quando Geraldo Quintão assumiu o Ministério da Defesa.

- A Amazônia é um problema imediato, que obrigou o país a repensar a defesa nacional em função do que é iminente - aponta o diretor do Núcleo Estratégicos da Unicamp, Geraldo Cavagnari.

Uma das preocupações é com o aumento do êxodo na fronteira em caso de grande ofensiva militar do governo colombiano contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Cavagnari diz que as Farc não são inimigo declarado, mas podem usar o território brasileiro como área de refúgio em caso de acirramento do conflito.

Exército e Polícia Federal têm informações de que os guerrilheiros transformaram a área fronteiriça com o Brasil em região estratégica e criaram uma Frente Amazônica, com efetivo estimado em 320 homens armados e mais 80 milicianos que dão apoio logístico.

- Os guerrilheiros controlam principalmente os corredores fluviais - rios que correm entre a Colômbia e o Brasil, como o Caquetá e o Iça, que desembocam em afluentes do Amazonas - revela o delegado da PF Mauro Spósito, coordenador da Operação Cobra, criada para inibir o narcotráfico.

Uma das regiões mais críticas é a de São Gabriel de Cachoeira, na região conhecida como Cabeça do Cachorro. A cidade, no lado esquerdo do Rio Negro, será um pólo de vigilância com presença de Exército, Aeronáutica e Marinha.

Do lado colombiano, as Farc operam nas imediações através das Frentes 1 e 16 com cerca 800 guerrilheiros e 200 milicianos. Eles abastecem as Farc com suprimentos básicos como remédios e alimentos, adquiridos no Brasil.

- Não há como controlar o ingresso de civis ligados às Farc em nosso território - admite um militar graduado do Ministério da Defesa.

A expansão militar também prevê reforços na fronteira com o Suriname - conhecida rota de tráfico de armas que abastece os guerrilheiros das Farc - e da Guiana.

- Em cada ponto teremos um pelotão. Não para combater, mas para vigiar. Os pelotões também servem para vivificar a Amazônia - diz o gerente do Programa Calha Norte, coronel Roberto de Paula Avelino.

A idéia é aliar à capacidade de pronta resposta em caso de conflito, a ocupação ordenada da área.

VIGILÂNCIA
Medidas que reforçam o controle na região:

o São Gabriel da Cachoeira, cidade de 30 mil habitantes, será transformada em pólo de vigilância na fronteira com Colômbia e Venezuela.

o Até o final do ano, a região conhecida como Cabeça do Cachorro terá uma nova base aérea, dois pelotões de fronteira do Exército e um porto.

o A Base Aérea de Uaupés aumentará a eficácia do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam), baseado em 32 radares e satélites, cujas imagens alcançam a Bolívia.

o A terraplanagem da pista de pouso de 2,5 mil metros está em andamento. Até o final do ano será instalado o hangar da futura base, que integrará a infra-estrutura do Sivam e poderá receber grandes aviões de transporte - como Hércules e Búfalo - e caças.

o Em São Gabriel também está sendo construído o porto de Camanaus, com recursos do Calha Norte. Com inauguração prevista para este mês, facilitará a fiscalização da Marinha sobre os rios da região.

o O Exército já tem cinco pelotões de fronteira na área e está criando mais dois: Pari-Cachoeira e Tunuí. Os pelotões são considerados órgãos remotos do Sivam, uma forma de participação integrada do Exército nas células do sistema.

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