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Brasil questiona Venezuela sobre óleo

O Globo, Sociedade, p. 23
24 de Out de 2019

Brasil questiona Venezuela sobre óleo
Brasil vai à OEA cobrar explicação sobre óleo vazado
Governo federal recorre à OEA para pedir explicações do país vizinho

LEANDRO PRAZERES E VINICIUS SASSINE
sociedade@oglobo.com.br
BRASÍLIA

No 54o dia do derrame de petróleo que já contaminou 88 municípios nos nove estados do Nordeste - e segue se expandindo, sem que se saiba sua origem ou quando irá parar -, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, fez um pronunciamento em rede nacional para apresentar as ações tomadas até agora pelo governo federal.

Salles afirmou que o presidente Jair Bolsonaro enviou uma solicitação formal à Organização dos Estados Americanos (OEA) para que a Venezuela se pronuncie sobre a origem do óleo que tem chegado às praias nordestinas desde 30 de agosto.

- Amostras do material coletado foram analisadas em laboratórios especializados que identificaram que esse material não foi extraído do território nacional, mas provém, conforme demonstrado por análise técnica, de poços e misturas de origem venezuelana - disse Salles, em seu pronunciamento.

Segundo o ministro, a investigação conduzida pelo governo brasileiro visa determinar as causas e origens do óleo para, com isso, "fazer cessar o seu aparecimento no litoral brasileiro, mas também obter informações que nos permi- tam responsabilizar aqueles que tenham contribuído para esse desastre ambiental".

A informação de que o óleo que vem chegando ao litoral brasileiro tem origem venezuelana se baseia em análises da Petrobras e da Marinha e vem sendo divulgada há pelo menos três semanas por diferentes integrantes do governo, inclusive pelo próprio presidente. Esta é, no entanto, a primeira medida formal tomada pelo governo para iniciar o processo de responsabilização pelo desastre.

A decisão de pedir esclarecimentos à Venezuela acontece duas semanas depois de o governo do presidente Nicolás Maduro negar qualquer envolvimento com o acidente. No dia 10 de outubro, a empresa estatal de petróleo venezuelana, PDVSA, emitiu um comunicado em que classificou as afirmações de Salles sobre a origem do óleo como "infundadas".

Nas últimas semanas, diferentes órgãos do governo, como Marinha, Polícia Federal, Ibama, e até órgãos estrangeiros,
Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente

Hamilton Mourão, presidente em exercício como a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (Noaa), vêm tentando identificar a origem do vazamento do petróleo, sem sucesso.

As suspeitas mais fortes são a de que ele tenha ocorrido em algum navio que tenha navegado pela costa brasileira nos últimos meses. Uma nova estimativa da Marinha avalia que o vazamento possa ter ocorrido a uma distância de 270 e 600 quilômetros da costa, tendo como ponto de partida os estados da Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Até então, as estimativas variavam entre 600 e 800 km.

A Marinha avalia como suspeito um conjunto de 30 embarcações de dez países que navegavam na região provável do vazamento. Todas as nações já foram contatadas pela Força, para que informem detalhes que possam ajudar na elucidação da causa da tragédia. Até agora, mais de mil toneladas de óleo já foram retiradas das praias dos nove estados do Nordeste.

O Ibama confirmou ontem à noite que 88 municípios e 233 localidades foram afetados pelas manchas de óleo. O informe aponta o crescimento de locais afetados na Bahia. A área mais ao sul do estado onde houve registro foi a Praia de Arakakaí, no município de Santa Cruz Cabrália, que fica a cerca de 20 quilômetros de Porto Seguro.

PROTESTO
Membros do Greenpeace Brasil realizaram ontem um protesto em frente ao Palácio do Planalto contra a política ambiental do governo do presidente Jair Bolsonaro. Exibindo placas com inscrições como "Pátria queimada, Brasil" e "Brasil manchado de óleo", os manifestantes simularam os resultados de queimadas na Amazônia e do derramamento de óleo que atingiu praias do Nordeste.

Dezenove pessoas foram detidas quando deixavam o local. No Twitter, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, chamou os manifestantes de "ecoterroristas".

O presidente em exercício Hamilton Mourão ironizou a manifestação, dizendo que chamará a ONG para atuar no combate ao derramamento:

- Vou convidar o Greenpeace para recolher o óleo lá, ao invés de jogar o óleo aqui - afirmou, ao deixar o Palácio do Planalto no início da tarde.

Mourão, no entanto, reconheceu que o protesto faz parte da democracia.

- Protesto é protesto, democracia é isso aí. Única coisa que eu acho é que você pode fazer um protesto sem bloquear o trânsito.

Já o líder do PSL na Câmara dos Deputados, Eduardo Bolsonaro (SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, disse que os manifestantes faziam uma "baderna":

- Estavam emporcalhando. Fazem da pauta ambiental uma política para atingir Bolsonaro. Damos parabéns à Polícia Militar por acabar com essa baderna.

"O presidente da República determinou que fosse encaminhada uma solicitação formal à OEA para que a Venezuela se manifeste sobre o material coletado" "Vou convidar o Greenpeace para recolher o óleo lá, ao invés de jogar o óleo aqui (em frente ao Palácio do Planalto). (Mas) Protesto é protesto, democracia é isso aí" "(Os manifestantes) estavam emporcalhando. Fazem da pauta ambiental uma política para atingir Bolsonaro. Damos parabéns à PM por acabar com a baderna"
Eduardo Bolsonaro, deputado federal (PSL-SP)

O Globo, 24/10/2019, Sociedade, p. 23

https://oglobo.globo.com/sociedade/bolsonaro-recorre-oea-para-cobrar-ex…

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