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Brasil lidera ranking de desmatamento do Bird

OESP, Geral, p. A16
14 de Fev de 2004

Brasil lidera ranking de desmatamento do Bird
Banco sugere que se desvie o 'excessivo foco' sobre os madeireiros para os criadores de gado

SANDRA SATO

O Banco Mundial (Bird) divulgou ontem o estudo Causas do Desmatamento da Amazônia Brasileira, depois da constatação de que o Brasil foi o líder do ranking do desmatamento em 2000 entre 188 países e levando em consideração o potencial econômico da região. Segundo o documento, o Brasil desmatou 22.264 quilômetros quadrados de floresta, quase o dobro do segundo colocado, a Indonésia (13.124), e bem à frente do terceiro, o Sudão (9.589).
Já em 2002, a destruição da floresta, que tem 5 milhões de quilômetros quadrados, subiu para 25.400 km2, de acordo com dados do governo federal.
O estudo sugere que, nas políticas de combate ao desmatamento na Amazônia, os fiscais deveriam reduzir "o excessivo foco sobre os madeireiros como agentes do desmatamento" e se preocupar mais com os criadores de gado. Os pecuaristas são, segundo o Bird, responsáveis por mais de 75% dos cortes na floresta. Seu lucro supera o obtido por produtores de Tupã (SP), considerada um termômetro para a pecuária no Brasil.
Enquanto um criador de gado de Ji-Paraná (RO) ou de Alta Floresta (MT) tem receita líquida anual superior a R$ 132 por hectare, um pecuarista de Tupã obtém R$ 65,32, de acordo com o Bird. Intensidade de chuvas, alta temperatura e escala de produção na Amazônia favorecem a pecuária.
Os três Estados com maior índice de destruição da floresta - Pará, Mato Grosso e Rondônia - contribuíram para o crescimento de 100% do rebanho nacional. O relatório, já apresentado a ministros e ambientalistas, observa que as exportações de carne no País passaram de 350 mil toneladas em 1999 para 900 mil em 2002. "A pecuária é altamente rentável, mas não quer dizer que seja desejável socialmente", diz o responsável pelo estudo, economista Sergio Margulis.
A atividade tem alto custo ambiental e não é boa distribuidora de renda, diz o economista. Ele estima que os custos sociais dos desmatamentos girem em torno de US$ 100 por hectare ao ano (perto de R$ 300,00). O valor foi calculado comparando recursos ambientais perdidos com benefícios que poderiam trazer para a população a partir da exploração madeireira, não madeireira, o ecoturismo, a bioprospecção e a estocagem de carbono.
"Os custos do desmatamento são maiores do que os ganhos privados dos pecuaristas", conclui Margulis. Já os pequenos proprietários, apontados com vilões da floresta em avaliações anteriores do governo federal, são identificados no estudo como "fornecedores de mão-de-obra ou intermediários que esquentam a posse da terra".
Para conter o desmatamento, o Bird propõe a cobrança de uma taxa de US$ 15 a US$ 20 por hectare desmatado e mudanças no Fundo de Participação dos Estados e Municípios, hoje rateado de acordo com a renda e o tamanho da população. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, comentou que essa proposta coincide com a que está em estudo pelo governo - a de assegurar compensação para Estados e municípios que conservem a natureza. O documento do Bird também ressalta a importância da realização de zoneamentos ecológicos.

OESP, 14/02/2004, Geral, p. A16

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