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Brasil lança neste mês novo satélite para monitoramento territorial

OESP, Vida, p. A13
03 de Set de 2007

Brasil lança neste mês novo satélite para monitoramento territorial
Missão é crucial para que o País continue a ter imagens da Amazônia; instrumentos atuais podem parar de funcionar

Herton Escobar

O novo satélite brasileiro CBERS-2B, desenvolvido em parceria com a China, será lançado entre os dias 19 e 21. As datas foram confirmadas durante o fim de semana pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e pela Academia Chinesa de Tecnologia Espacial (Cast), responsáveis pelo projeto. A missão é crucial para a continuidade do monitoramento da Amazônia, já que os dois principais satélites utilizados hoje no programa (Landsat-5 e CBERS-2) podem parar de funcionar a qualquer momento.

O lançamento será feito da base chinesa de Taiyuan, na província de Shanxi, ao sul de Beijing, com um foguete do tipo Longa Marcha. O CBERS-2B (Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres, em inglês) foi montado nos laboratórios do Inpe, em São José dos Campos, e seguiu de avião para a China em abril. Nas próximas três semanas, passará pelos testes finais e receberá combustível para, pelo menos, dois anos de serviço no espaço.

Equipado com três câmeras para observação nas faixas do espectro visível e infravermelho próximo, o CBERS-2B ficará em órbita a 778 quilômetros de altitude. O satélite, de US$ 200 milhões, é uma cópia de seus antecessores CBERS-1 e CBERS-2, lançados em 1999 e 2003, também com vida útil prevista de dois anos. O primeiro parou de funcionar em agosto de 2003. O segundo continua operacional, mas pode bater as botas a qualquer momento. Por causa de uma pane elétrica em junho do ano passado, apenas uma de suas três câmeras é mantida funcionando.

O Landsat-5, americano, também está com o prazo de validade vencido há quase 20 anos e pode pifar a qualquer segundo. Suas imagens, complementadas pelas do CBERS-2, são o principal instrumento do programa de monitoramento remoto da Amazônia (Prodes), usado para calcular as taxas anuais de desmatamento. O CBERS-2 é também usado no programa de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), uma importante ferramenta de fiscalização florestal nos últimos anos, além de uma série de outras aplicações de planejamento e monitoramento territorial em todo o País.

Se ambos os satélites pifarem, o Brasil ficaria sem olhos no espaço e seria obrigado a comprar imagens de outros sistemas, a um custo muito maior. Os próximos satélites da série CBERS (3 e 4) deverão ficar prontos só em 2009 e 2011. "Percebemos que entre o fim da vida do CBERS-2 e o lançamento do CBERS-3 havia a possibilidade de ficarmos um período sem satélites, o que interromperia serviços de fundamental importância para o País", disse ao Estado o diretor científico do Inpe, João Braga. "Temos que garantir a continuidade das imagens."

BACKUP

O CBERS-2B foi originalmente construído como uma cópia de teste do CBERS-2. "Num projeto de satélite, são sempre construídos dois: um para ser testado e outro para ser lançado", explica o coordenador do Programa Amazônia do Inpe, Dalton Valeriano. Diante da urgência de colocar um novo equipamento no espaço, entretanto, optou-se por lançar também a réplica. "Para nós ele vai funcionar como uma ponte", disse Valeriano.

A principal modificação do CBERS-2B é a substituição de uma câmera IRMSS por outra do tipo HRC, de alta resolução. Os investimentos no projeto foram divididos em 30% para o Brasil e 70% para a China. Já no caso dos CBERS-3 e 4, a partilha será de 50% para cada país. Várias partes do satélite foram construídas por empresas brasileiras, como os painéis solares.

Desde 2004, as imagens do CBERS são distribuídas gratuitamente para usuários brasileiros, o que fez do Brasil o maior fornecedor de imagens de satélite do mundo; são mais de 300 mil. Cerca de 1.500 instituições públicas e privadas utilizam o serviço.

Família de Satélites
CBERS-1: primeiro da colaboração Brasil-China, lançado em 14 de outubro de 1999, funcionou até agosto de 2003 (dois anos a mais que o previsto), com 3 câmeras

CBERS-2: idêntico ao CBERS-1; lançado em 21 de outubro de 2003, continua a funcionar com apenas uma das 3 câmeras

CBERS-2B: construído como versão de teste do CBERS-2, será lançado entre 19 e 21 deste mês, com vida útil prevista de 2 anos

CBERS-3: primeiro da "nova geração", com lançamento previsto para 2009; terá 4 câmeras e tecnologia superior

CBERS-4: deverá ser idêntico ao CBERS-3, com lançamento previsto para 2011

SSR-1: Satélite de Sensoriamento Remoto, rebatizado de Amazônia-1, em construção, com previsão de lançamento em 2010; será o primeiro satélite desse tipo 100% brasileiro

Equipamento vai ajudar a exploração sustentável
O lançamento do CBERS-2B também será importante para um novo programa de monitoramento da Amazônia que o governo federal espera implementar a partir de 2008. O sistema utilizará imagens do satélite para detectar e fiscalizar o corte seletivo de madeira, no qual apenas as árvores de maior valor comercial são removidas, sem destruição da cobertura florestal - o que dificulta a observação via satélite.

O sistema de Detecção de Exploração Florestal Seletiva (Detex), como foi batizado, será um dos mecanismos de monitoramento do programa de concessão de florestas públicas federais, que terá sua primeira licitação em outubro. Cerca de 1 milhão de hectares serão abertos para exploração pela iniciativa privada.

Uma nova metodologia desenvolvida pelo Inpe permite detectar os "pequenos" pátios (de até 50 metros) que são abertos para processamento das toras, e até a rarefação da copa da floresta. Com isso, o Serviço Florestal Brasileiro (SFB) espera monitorar a exploração legal dentro das áreas de concessão, assim como a exploração ilegal em outras áreas de floresta pública - principalmente no entorno das concessões.

"Temos que saber se a exploração está sendo feita dentro das áreas autorizadas ou não", disse o diretor do SFB, Tasso Azevedo. Em atividades ilegais, segundo ele, o corte seletivo é freqüentemente a primeira etapa do desmatamento. "Com o Prodes, nós vemos o desmatamento que já ocorreu. Com o Deter, vemos o desmatamento que está ocorrendo. Com o Detex, esperamos chegar com a fiscalização antes que o desmatamento comece", explica.

A tecnologia já está pronta. Falta concluir o mapeamento das imagens de 2007 para que o sistema entre em operação em 2008. "A concessão só vai ser economicamente viável se toda a atividade ilegal dos arredores for coibida", afirma Dalton Valeriano, do Inpe. Imagens de outros satélites também serão utilizadas.

OESP, 03/09/2007, Vida, p. A13

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