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Brasil emitiu 3 por cento dos gases-estufa

OESP, Vida, p.A16
09 de Dez de 2004

Brasil emitiu 3% dos gases-estufa
Total corresponde às emissões de 1990 a 1994; o País vai à COP-10 com a promessa de reduzi-lo
Gerusa Marques
O Brasil vai reafirmar, na 10.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-10), seu compromisso com programas que reduzam a emissão de gases poluentes e colaborem com a diminuição do aquecimento do planeta. Em comunicado a ser apresentado amanhã, em Buenos Aires, palco da conferência, o governo brasileiro apresentará projetos já adotados no País, como o Programa Nacional do Álcool, e as iniciativas tomadas para a conservação de energia estimular o uso de fontes renováveis, além dos esforços para combater o desmatamento na Amazônia.
Também será apresentado pelo Brasil um inventário sobre a emissão de gases poluentes no País, entre 1990 e 1994. O inventário foi divulgado ontem pelos ministros da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, da Casa Civil, José Dirceu, das Minas e Energia, Dilma Rousseff, e do Meio Ambiente, Marina Silva. O documento mostra a quantidade de gases emitidos no início dos anos 90, como o gás carbônico, conseqüência do desmatamento e da queima de combustíveis fósseis, e do metano, resultante de atividades agropecuárias.
De acordo com o inventário, a emissão de gás carbônico aumentou de 979 milhões de toneladas, em 1990, para 1,03 bilhão de toneladas em 1994. O desmatamento foi responsável por 70% dessa emissão. Em segundo lugar, com 23%, vem o uso de combustíveis fósseis, especialmente no transporte e na indústria. Em 1994, o País emitiu ainda 13,2 milhões de toneladas de gás metano, vindas principalmente (77%) da agricultura.
O Protocolo de Kyoto, assinado em 1997, que entra em vigor no início do ano que vem, não exige dos países em desenvolvimento compromisso de redução ou limitação de emissões de gases de efeito estufa. No entanto, o Brasil vai mostrar em Buenos Aires que criou regras para pôr em andamento o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, proposto na Convenção de Kyoto. "Queremos contribuir para o esforço mundial de combate à emissão de gases de efeito estufa", disse Eduardo Campos, ressaltando que, no período abrangido pelo inventário, o Brasil foi responsável por apenas 3% das emissões mundiais de gases.
Na exposição que fará amanhã aos mais de 80 países presentes na conferência, o governo deve fazer uma apresentação das áreas de desmatamento em todos os biomas brasileiros. Na Amazônia, de acordo com a ministra Marina Silva, o governo vem conseguindo reduzir o ritmo de destruição da cobertura florestal. Segundo ela, de 2002 para 2003 o desmatamento aumentou 28%: "Em 2003, conseguimos fazer com que se brecasse o ritmo, reduzindo esse índice para 2%." A ministra afirmou que a tendência é de estabilidade para diminuição em 2004.
Na área de energia, segundo Dilma Roussef, o Brasil apresenta "vantagens significativas", já que 43,8% de sua matriz energética é de fontes renováveis, como biomassa, eólica, solar e de pequenas hidrelétricas. Esse porcentual está bem acima da média mundial, de 13,6%, e da verificada nos países desenvolvidos, de 6%. Dilma citou também o lançamento do uso comercial do biodiesel, que será misturado, a uma proporção de 2%, no diesel de petróleo.
Ela destacou ainda o uso do etanol (álcool), menos poluente do que a gasolina, como combustível nos automóveis. Segundo a ministra, o consumo de etanol pode ser duplicado em 2005 com a expansão dos carros com motores flex fuel, que utilizam mais de um combustível.

Relatório internacional traz previsões pessimistas
Ariel Palácios
Os países pobres, que atualmente sofrem problemas econômicos, populacionais, de alimentação e de epidemias, terão de preparar-se para tempos piores ainda nas próximas décadas. A afirmação está num relatório preparado pelo Banco Africano de Desenvolvimento, pelo Banco Asiático de Desenvolvimento, pela Diretoria-Geral de Desenvolvimento da Comissão Européia, pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, entre outros organismos internacionais.
O relatório - divulgado durante a COP-10 - sustenta que a mudança climática "é uma realidade que afetará cada vez mais os pobres" e que essas alterações darão "mais vulnerabilidades às vulnerabilidades já existentes". O estudo indica que as mudanças no clima intensificarão a freqüência e a magnitude de fenômenos meteorológicos extremos, como as secas, inundações e tempestades.
Os cenários são dantescos e levariam milhões de habitantes de megalópoles como Manila (Filipinas), Bangcoc (Tailândia), Xangai (China), Jacarta (Indonésia) e Dhaka (Bangladesh) a serem deslocados de suas moradias por futuras inundações.
O relatório sustenta que na América Latina haverá inundações e secas com mais freqüência, além de redução do volume dos rios na Cordilheira dos Andes. Ecossistemas e colheitas estarão em perigo, elevando as complicações econômicas dos países da região.
Musical
No meio das ásperas discussões sobrou ontem tempo para ironia. O Greenpeace apresentou uma paródia do musical de 1952 Cantando na Chuva, como alerta para as fortes tempestades que assolam diversas partes do planeta.
Na portenha versão 2004, Gene Kelly foi substituído por um dublê do presidente George W. Bush, que sob uma chuva artificial, exibiu a clássica coreografia com seu guarda-chuva.

Países insulares fazem apelo em Buenos Aires
A Aliança de Pequenos Estados Insulares pediu na COP-10 medidas efetivas para combater a mudança climática. Segundo a aliança, o efeito dos ciclones e furacões no Pacífico e Caribe afetou muito os meios de vida dos habitantes e é preciso que as nações ricas lhes enviem recursos para enfrentar a situação. Os mais ameaçados são os países ao nível do mar, pois se estima alta das temperaturas de até 5,8oC no século 22, o que faria a água subir e cobrir muitos territórios.

Carros bicombustivel
48 mil carros compunham a frota de veículos flex fuel, menos poluentes, em 2003
249 mil carros desse tipo rodam neste ano no Brasil
5 bilhões de litros de álcool devem ser exportados pelo País a partir de 2010

Protocolo de Kyoto
Sucesso do acordo depende de países ricos
A maior responsabilidade no cumprimento do Protocolo de Kyoto, assinado em 1997, que vai vigorar a partir do início de 2005. após ratificação concluída com a adesão da Rússia, neste ano, é dos países desenvolvidos, que devem reduzir suas emissões em 5% em relação aos níveis de poluição de 1990. Essas metas deverão ser atingidas no primeiro período de compromisso do protocolo, entre 2008 e 2012.

OESP, 09/12/2004, p. A16

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