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Brasil é o país que mais avança em índice de desenvolvimento

OESP, Vida, p. A28-A30
05 de Nov de 2010

Brasil é o país que mais avança em índice de desenvolvimento
Segundo ONU, foram 4 posições em um ano; porém, com desigualdades levadas em conta, média nacional despenca

Lígia Formenti / Brasília

O Brasil foi o país que mais avançou no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) preparado pelo Programa das Nações Unidas. Foram quatro posições a mais em comparação ao ano passado. Com isso, o Brasil passa a ocupar a 73ª colocação, de um total de 169 países - desempenho suficiente para que ele integre o grupo de nações consideradas de desenvolvimento humano elevado.
No entanto, quando são levadas em conta as desigualdades regionais - como a concentração de riqueza em uma parcela pequena da população, ou a falta de acesso universal a saúde de qualidade ou saneamento básico -, o Brasil perde 15 posições. Este segundo ranking, batizado de IDH-D, que leva em conta as disparidades nacionais, foi elaborado pela primeira vez neste ano, e por isso não é possível fazer comparações com anos anteriores.
O índice tradicional, criado há 20 anos, leva em conta dados dos países em saúde, educação e rendimento. Por esse quesito, o desempenho do Brasil é significativo, sobretudo diante do cenário de estagnação mundial revelado pelo estudo. Dos 169 países analisados, 116 mantiveram a posição de 2009 e 27 tiveram desempenho pior. Além do Brasil, outros 25 melhoraram a classificação.
Feito pelo Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento (Pnud), o índice tem uma escala de 0 a 1. Quanto mais próxima de um, melhor a situação do país. O Brasil alcançou índice 0,699. Noruega, a primeira colocada, 0,938. O pior indicador foi do Zimbábue: 0,140.
Série histórica. Para poder fazer um acompanhamento histórico do desempenho dos países, integrantes do programa calcularam o IDH do Brasil na última década, todos pela mesma metodologia. "São esses números que podem ser confrontados. E, por esse aspecto, o Brasil cresceu bastante", explica Flávio Comim, economista do Pnud.
O salto do Brasil se deve ao desempenho apresentado nas taxas de expectativa de vida, renda e escolaridade média de pessoas com mais de 25 anos. De 1980 a 2010, a esperança de vida do brasileiro passou de 62,5 anos para 72,9. A média de anos estudados de pessoas com mais de 25 anos passou, no período, de 2,6 para 7,2 anos. O rendimento nacional bruto passou US$ 7,929 em PPP para US$ 10.607 em PPP. Para entender melhor, o IDH não usa a conversão real do dólar, mas o quanto se pode comprar com ele, chamado de paridade do poder de compra (PPP, em inglês).
"O País cresceu de forma harmônica, em várias áreas. Não foi algo pontual", afirma Comim. Para ele, isso é que contribuiu para o desempenho nacional apresentado este ano.
Entrave. O que ainda amarra a colocação nacional é a qualidade da educação, avaliada pelo novo índice "anos de estudo esperados" - uma espécie de expectativa de vida educacional. Ao longo dos últimos cinco anos, o número de anos escolares esperado caiu de 14,5 para 13,8.
Apesar da evolução durante o ano, o Brasil continua a exibir um IDH menor do que a média da América Latina e Caribe, que é de 0,704. A comparação com alguns países vizinhos também é desfavorável.
A estimativa é de que um brasileiro viva menos 5,9 anos, tenha média de escolaridade 2,5 anos menor e consuma 28% menos do que uma pessoa nascida no Chile, o 45 no ranking. Argentina, Uruguai, Panamá, México, Costa Rica, Peru também apresentam melhor classificação: 46, 52, 54, 56, 62 e 63, respectivamente.
Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que dados usados pelo PNUD estão desatualizados. De acordo com a pasta, a defasagem é constatada tanto nos números de expectativa de vida, quanto na mortalidade materna.
Crescimento. Ao longo da década, o Brasil teve um crescimento médio anual de 0,73% no IDH. Um ritmo considerado muito bom. Mas entre grupo de países de alto desenvolvimento humano há exemplos de velocidade maior. Casaquistão, por exemplo, cresceu 1,51% e Azerbaijão, 1,77%. A Romênia, em 2005, dividia com Brasil a mesma colocação. Agora, ela está 22 à frente.

Sobe e desce
Expectativa de vida
No início da década de 1980, a expectativa de vida no Brasil era de cerca de 62 anos. Hoje, está em quase 73 anos.
Anos na escola
A expectativa de anos na escola caiu: de 14,5 anos para 13,8 anos.

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Apesar de melhora, educação é entrave

Mariana Mandelli

Apesar dos avanços mostrados pelo IDH, a educação brasileira ainda apresenta problemas estruturais graves, que, segundo especialistas, não devem ser resolvidos a curto prazo. Embora o País tenha praticamente universalizado a oferta de ensino fundamental, itens como a educação infantil, a evasão do ensino médio e a qualidade da aprendizagem persistem como alguns dos maiores gargalos do sistema.
Neste ano, em que o IDH mudou sua metodologia - agora são considerados a média de anos de escolaridade de pessoas com 25 anos ou mais e os anos de estudo esperados -, a educação continua sendo apontada como o maior entrave para o avanço do Brasil no ranking.
"A educação é um fator limitador do desenvolvimento", afirma Daniel Cara, coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. "É claro que o País melhorou, mas esses avanços ainda são insuficientes para as nossas necessidades."
Para Mozart Neves Ramos, do movimento Todos Pela Educação, a obrigatoriedade do ensino dos 4 aos 17 anos, recém-aprovada pelo governo federal, vai ajudar o País a avançar mais.

Desaprovação. O Ministério da Educação emitiu uma nota afirmando que o novo IDH não é comparável aos anteriores. A pasta diz que os novos índices devem "ser mais bem esclarecidos para que se possa cumprir os objetivos do Pnud de simplicidade, transparência e popularidade." O ministério também afirma que o relatório "não capta o esforço de políticas desenvolvidas nos últimos anos com repercussão significativa na melhoria dos indicadores sociais e educacionais".

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Aos 20 anos, índice se torna maduro
Antes do IDH, desenvolvimento dos países era medido apenas pelo PIB per capita

José Roberto de Toledo
Especial para O Estado

Ao fazer 20 anos, o Índice de Desenvolvimento Humano amadureceu e sofisticou-se, mas perdeu em simplicidade e universalidade - duas marcas do seu sucesso. Nas últimas décadas, o IDH mudou o paradigma do que seja desenvolvimento e deu início a uma onda de índices que medem de tudo um pouco.
Antes do IDH, era o Produto Interno Bruto (PIB) per capita e só. Até 1990, toda medição de desenvolvimento dos países era feita apenas pelo crescimento do seu PIB, dividido pela população. Era uma medida exclusivamente econômica, que tinha no aumento da renda um fim em si mesmo.
O que o paquistanês Mahbub ul Haq e o indiano Amartya Sen conseguiram à época foi um feito que hoje parece trivial: sintetizar em um só número uma medida de desenvolvimento que tinha o ser humano no centro e abrangia as dimensões econômica, de longevidade e educação.
A "mágica" foi juntar indicadores com escalas tão diferentes quanto anos de vida, dólares e porcentagens em uma régua comum, que varia de 0 a 1. As três dimensões representadas são as mais básicas: viver o bastante, ter acesso ao conhecimento e um padrão de vida digno.
O IDH fez tanto sucesso que rendeu um Prêmio Nobel de Economia a Sen. Sua engenhosidade foi copiada, adaptada, recriada. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), lançado pelo governo brasileiro em 2007, é um dos muitos filhos do IDH.
Em seu 20. aniversário, os criadores do IDH substituíram três dos seus quatro indicadores, mudaram sua fórmula de cálculo e, de quebra, lançaram três novos índices, complementares. Em contrapartida, em vez de 184, seu ranking agora só compreende 169 nações.
Na dimensão Educação, saem o analfabetismo e a taxa de matrícula. Em seu lugar, entram a média de anos de estudo da população adulta e os anos esperados que um aluno deve passar na escola. Foi uma boa troca, embora este último indicador seja de difícil compreensão.
A média de anos de estudo é uma medida de estoque mais completa que o analfabetismo. Na verdade, ele o inclui. É o indicador em que o Brasil vai pior: 102. lugar no ranking, com 7,2 anos, em média. Aí estão incluídos desde jovens de 25 anos com nível superior até idosos analfabetos. É um indicador que custa a mudar.
Os anos esperados que o aluno deve passar na escola é uma medida de fluxo, que pretende aferir como a população jovem de um país está evoluindo no acesso ao conhecimento. Nesse indicador, o Brasil vai melhor: fica na 54.ª posição, com 13,8 anos (quanto mais, melhor).
Se fôssemos traduzir esses números em pessoas, seria como uma família cujos pais passaram muito pouco tempo na escola, mas conseguiram colocar todos os filhos na faculdade.
Em Longevidade, permanece a esperança de vida ao nascer, medida na qual o Brasil evolui a passos de cágado: 72,9 anos e 76.ª colocação.
Em Renda, saiu o PIB per capita e entrou a Renda Nacional Bruta per capita, que inclui transferências de não residentes. O Brasil tem US$ 10,607 mil em paridade de poder de compra (PPP, na sigla em inglês) e aparece em 70. lugar.
No novo IDH-D, que inclui as desigualdades internas dos países, o Brasil perde 15 posições no ranking e 27,2% do valor do seu IDH. O que mais contribui para isso é a desigualdade de renda.
No IDG (Índice de Desigualdade de Gênero), o Brasil fica em 80. lugar entre 138 países. Perde 63% do seu potencial de desenvolvimento humano, principalmente por causa da baixa representatividade política das mulheres e da alta incidência de gravidez entre adolescentes.
No índice de pobreza multidimensional, o Brasil fica em 39. lugar, entre 104 países. Para ser um "multipobre", alguém tem de ter privações em 30% da soma dos valores dos dez indicadores que compõem o índice. Nada menos que 8,5% dos brasileiros se enquadraram nessa categoria. É um porcentual maior que o medido pela linha de pobreza do Banco Mundial, de US$ 1,25 em PPP por dia, segundo o qual 5,2% dos brasileiros seriam pobres.
O mérito do IDH é mostrar a evolução de um povo em várias dimensões, não apenas na econômica. Embora os brasileiros estejam contentes com seus atuais níveis de consumo, os índices de seus complementos mostram que ainda falta muito para o pleno desenvolvimento do País.

Glossário
IDH
Índice de Desenvolvimento Humano, calculado anualmente há 20 anos pelas Nações Unidas. Leva em consideração a média do desempenho dos países em três áreas: saúde, educação e rendimento da população.
IDH-D
Índice lançado neste ano, que mede as desigualdades dentro de cada país. Em vez das médias nacionais, considera no cálculo a forma como os recursos nas três áreas são distribuídos.
PPP
Sigla em inglês para Paridade do Poder de Compra. Ao medir o rendimento, o IDH não usa a conversão da moeda local para o dólar, mas sim o quanto se pode comprar com o valor.
Pnud
Sigla para o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, presente em 166 países, cujo objetivo principal é combater a pobreza.
Expectativa de vida
O IDH usa a expectativa de vida ao nascer, ou seja, o quanto em média os nascidos naquele ano devem viver. Influenciam o índice as taxas de mortalidade, acesso à saúde, educação, situação socioeconômica, criminalidade e poluição.
Saneamento
Conceito inclui o abastecimento de água potável à população, a coleta e tratamento de esgoto, disposição dos resíduos sólidos, além de controle de pragas e manejo de água pluvial.

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Desigualdade faz País recuar e rendimento é área mais precária
Dois novos índices apontam que distribuição de renda ruim faz IDH cair e que 8,5% da população sofre de pobreza multidimensional em várias áreas

Lígia Formenti - O Estado de S.Paulo
Brasília

O Brasil perderia 15 posições na classificação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), caso fossem consideradas as desigualdades existentes no País.
Novo índice desenvolvido pelo Programa das Nações Unidas, batizado de IDH-D, mostra em que áreas as diferenças são mais agudas e qual impacto elas teriam se fossem levadas em consideração. O Brasil, por exemplo, teria um desconto de 27,2% no índice geral: sua nota cairia de 0,699 para 0,509.
"O IDH-D é o nível de desenvolvimento humano real", explica o relatório deste ano. Isso porque ele não considera apenas a média de desenvolvimento, mas também a forma como é feita a distribuição dos recursos, seja na saúde, na educação ou no rendimento da população.
De acordo com novo indicador, a maior desigualdade no Brasil é registrada no rendimento: a perda provocada pelas diferenças nesta área seria de 37,6%. Em segundo lugar, vem a educação, com perda de 25,7%. O menor impacto foi registrado na área da saúde: 16,5%.
"Não há dúvidas de que o Brasil ainda apresenta grande desigualdade. Mas a situação já foi pior", resume o coordenador do relatório, Flávio Comim.
Caso o IDHD fosse aplicado em 2000, a perda do País seria de 31%. Em 2005, esse índice cairia para 28,5%.
A redução, que na avaliação de Comim é bastante significativa, é resultado de uma série de políticas adotadas nos últimos anos: Bolsa-Família, aumento do salário mínimo e a própria ampliação do mercado interno.
"Mesmo a recessão internacional, que poderia ter atuado desfavoravelmente, reduzindo o mercado externo, não impediu a redução da desigualdade", completa o pesquisador.
O ranking de desigualdade foi preparado a partir de dados detalhados do País. Eles permitem uma avaliação mais precisa, mas têm um inconveniente: nem todos os países têm informações necessárias. A saída foi reduzir o número de países analisados. Trinta dos 169 países que participaram do IDH ficaram de fora no IDH-D por falta de dados.
"Os índices reafirmam uma desigualdade que já é apontada por outros trabalhos", afirma o chefe de pesquisa do escritório mundial do Relatório de Desenvolvimento Humano, Francisco Rodriguez.
Embora elevada, a desigualdade apresentada pelo Brasil é menor do que apresentada por alguns países da América Latina. Bolívia, por exemplo, teria uma perda global de 38% no IDH, o que levaria o país a cair 17 posições na classificação da ONU. A Argentina, teria um desconto de 27,5% na nota geral e cairia 21 posições. Dos 15 países mais desiguais apontados pelo ranking, 9 estão o bloco latino-americano.
Mas é na África que as diferenças são ainda mais impactantes. Moçambique, por exemplo, teria uma perda no IDH de 45,3%, Guiné Bissau de 42,4% e República Centro Africana, de 42%.
Pobreza. Pelo índice, é possível saber que 8,5% da população brasileira sofre vários reflexos da pobreza de forma simultânea - como deficiências na saúde, educação, dificuldades de acesso a serviços de água e esgoto, eletricidade. É a chamada pobreza multidimensional. "As privações se sobrepõem. A ideia do índice foi verificar a frequência e intensidade dos problemas vividos pela parcela mais pobre da sociedade", explica Comim.
O Índice de Pobreza Dimensional, como foi batizado, varia de zero a um. Quanto mais próximo de um, pior a situação do País. Nesta primeira edição, o índice do Brasil foi de 0,039. "Um valor baixo, em termos internacionais", afirma Isabel Pereira, integrante da equipe que preparou o relatório. Niger, por exemplo, tem 0,642. O resultado brasileiro, no entanto, é 2,6 vezes maior do que o mexicano e 3,5 maior do que o argentino.
O desempenho também preocupa quando se avalia a intensidade da pobreza. O porcentual alcançado foi de 46%. Um dos maiores índices no grupo de países de desenvolvimento humano elevado.

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IDH sobe 18% desde 1990, mas problemas graves persistem

Cenário: Lígia Formenti

A média universal do IDH aumentou 18% desde 1990. Mas a melhora estatística, está longe de animar autores do Relatório do Desenvolvimento Humano 2010, lançado ontem. Eles argumentam que, embora os números reflitam avanços em determinadas áreas, o mundo continua a conviver com problemas graves, que exigem uma nova perspectiva política. "Embora não haja balas de prata ou poções mágicas para desenvolvimento humano, algumas implicações políticas são claras. Não podemos presumir que desenvolvimento futuro imitará os avanços do passado", informa o relatório.
O economista do Pnud, Flávio Comim, reforça uma das mensagens. "O desenvolvimento é uma ideia em evolução. E, como tal, exige mudanças - não apenas nos indicadores, como fizemos agora com IDH- mas também nas políticas adotadas."
O cenário apresentado pelo relatório não é animador. O documento adverte que, nestes 20 anos, parte dos países enfrentou sérios problemas, sobretudo na saúde, anulando em alguns anos os ganhos de várias décadas. Além disso, o crescimento econômico tem sido desigual. Os padrões de produção e consumo atuais são considerados inadequados. "É preciso esforços para assegurar que desenvolvimento humano resista à passagem do tempo, que seja sustentável."
Autores do relatório observam que, apesar de não haver consenso sobre políticas de desenvolvimento, muitos interpretam a crise financeira como lembrete acerca dos perigos da liberalização absoluta. "O impacto da crise no pensamento ainda não é claro, mas o pêndulo balança claramente para regresso a um papel mais ativo das políticas públicas e um objetivo de desenvolvimento mais humanitário", informa o texto.
Embora não queira apresentar receitas prontas, o relatório traça caminhos possíveis. Entre eles, o reconhecimento da ação pública na regulação da economia para proteger grupos mais vulneráveis. Outro aspecto ressaltado é a necessidade de considerar, pobreza, crescimento e desigualdade como temas interligados. "Crescimento rápido não deve ser o único objetivo político, porque ignora a distribuição do rendimento e negligencia a sustentabilidade do crescimento."
Um aspecto importante revelado pelo relatório é que, muitas das ações para melhoria de saúde e educação não necessitam de grande investimento financeiro. Isso está mais presente sobretudo em países onde indicadores são ruins. "Numa primeira etapa, medidas simples como inclusão do soro caseiro e lavar as mãos, já trazem impacto muito relevante", avalia Comim.

É jornalista de O Estado de S. Paulo

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Saneamento é pior do que no Equador
Poluição do ar e da água matam 269 pessoas a cada 1 milhão no País; padrão de produção também é insustentável

Afra Balazina

Chama a atenção na área de sustentabilidade e vulnerabilidade o fato de que 20% da população ainda não têm saneamento no Brasil - no Uruguai todos são atendidos e, no Equador, 8% não têm acesso. Além disso, 269 pessoas em cada milhão morreram no País por poluição do ar e da água (dado de 2004).
Para Édison Carlos, presidente-executivo do Instituto Trata Brasil, "o quadro é muito ruim". E ele ressalta que os dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (Snis), oficiais do governo, mostram um cenário ainda pior: que 57% dos brasileiros não têm coleta de esgoto. Segundo ele, se fossem investidos integralmente os R$ 10 bilhões ao ano do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) vem colocando no setor, levaríamos 30 anos para universalizar o acesso a saneamento no País. "Como o PAC não consegue traduzir em obras esses R$ 10 bilhões, estamos falando na verdade em mais de 90 anos para universalizar", diz. Para Carlos, é necessário pelo menos dobrar os investimentos. "O saneamento impacta diretamente na saúde, na educação e na renda da população. Cerca de 2.500 crianças morrem ao ano - ou sete por dia - de doenças relacionadas à falta de saneamento."
Clima desfavorável. O relatório do IDH salienta que a "principal ameaça" para manter o progresso no desenvolvimento humano é a insustentabilidade nos padrões de produção - que dependem fortemente dos combustíveis fósseis - e de consumo. "A estreita ligação entre crescimento econômico e emissões de gases de efeito estufa tem de ser rompida", diz o texto. Mas a conclusão não é animadora: "verificam-se poucos indícios de progresso em tornar o mundo mais sustentável".

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Com R$ 850, jovem faz faculdade, cria filho e tem carro

Mariana Mandelli e Tiago Queiroz

A desigualdade social do País pode ser percebida nos paradoxos que cercam o estilo de vida dos brasileiros. Dormindo cinco horas por noite, a paulista Paula de Sena, de 24 anos, desdobra-se para trabalhar, estudar e criar o filho Gabriel, de 10. Com renda de R$ 850, contando as horas extras que faz numa metalúrgica, ela paga metade da mensalidade do curso de Educação Física (é bolsista do ProUni), as prestações do carro (divididas em 60 vezes) e o convênio médico da mãe. Apesar do orçamento apertado, ela tem internet de banda larga em casa - que divide com uma vizinha - e celular. "Sinto que hoje as pessoas têm mais oportunidades", afirma.
Felipe de Lima, de 15, faz malabares nos semáforos de São Paulo há 9 anos. Por dia, consegue R$ 30, no máximo. O dinheiro serve para ajudar em casa - ele vive com quatro irmãos e a mãe, que não trabalha para cuidar das crianças - e para satisfazer algumas vontades pessoais. "Gosto de ter roupas e tênis bons", conta ele, que faz supletivo para completar os estudos.

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OESP, 05/11/2010, Vida, p. A28-A30

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