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Brasil é grande poluidor do ar

CB, Mundo, p. 28
09 de Dez de 2004

Brasil é grande poluidor do ar
Desmatamento da Amazônia é o vilão. Segundo documento do governo, divulgado na cúpula do clima em Buenos Aires, o país é responsável por 3% das emissões de gases que provocam o aquecimento global

Claudio Dantas
Da equipe do Correio

O Brasil é responsável por 3% das emissões mundiais de gases que contribuem para o aquecimento global, e o sexto no ranking de maiores poluidores do planeta. O potencial poluidor do país está no Inventário Nacional de Emissões de Gases Poluentes, que o governo tornou público ontem, depois de manter sigilo sobre esses dados por cinco anos.
O documento aponta o desmatamento da Amazônia como o maior vilão do efeito estufa no país, já que contribui com 70% das emissões de gás carbônico (CO²). Em seguida, está a queima de combustíveis fósseis (23%), especialmente no transporte e na indústria, e a emissão de metano e óxido nitroso.
Esses números, registrados entre 1990 e 1994, podem prejudicar o plano do governo brasileiro de beneficiar-se dos créditos de carbono no mercado financeiro - a chamada moeda verde. O grande desafio do Brasil, signatário do Protocolo de Kyoto (que entra em vigor em fevereiro de 2005) é provar amanhã, na Conferência sobre Mudança Climática da ONU, em Buenos Aires, que criou regras para implantar o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.
Segundo o ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, os programas para o controle da emissão de gases estufa e para o desenvolvimento sustentado são prioridade do governo. ''Queremos contribuir com o esforço mundial de combate à emissão desses gases'', disse o ministro. A divulgação do relatório ganhou peso político, pois estavam presentes no ministério de Campos o ministro José Dirceu, da Casa Civil; e as ministras de Minas e Energia, Dilma Rousseff, e do Meio Ambiente, Marina Silva.
Ações urgentes
Segundo o inventário, as emissões de CO² aumentaram de 979 milhões de toneladas em 1990 para 1,03 bilhão de toneladas em 1994. O desmatamento foi responsável por 70% dessa poluição. Em menor quantidade, com 23%, vem o uso de combustíveis fósseis, especialmente no transporte e na indústria. Em 1994, o país emitiu 13,2 milhões de toneladas de gás metano, vindo principalmente (77%) da agricultura.
Para Marcelo Furtado, diretor de campanhas da organização ambientalista Greenpeace, ''nenhum governo teve capacidade e vontade política de combater o desmatamento no país. Se os dados de 1994 já mostram uma situação preocupante, é óbvio que a coisa hoje está bem pior''. Segundo ele, o desmatamento teria aumentado 40% na última década. ''Podemos estar entrando no patamar de 25 a 30 mil km² desmatados. É preciso ações urgentes'', alertou.

Estratégia na vitrine
Os dados apresentados no relatório de ontem ilustrarão a apresentação de amanhã do ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, durante a 10ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-10), que se realiza em Buenos Aires. O governo brasileiro se esforça para mostrar ao mundo seu compromisso com a redução das emissões de gases poluentes e a diminuição do efeito estufa.
Campos guarda na manga as iniciativas adotadas para conservação de energia e estímulo ao uso de fontes renováveis, além dos esforços para combater o desmatamento na Amazônia e projetos já implantados, como o Programa Nacional do Álcool. Na exposição para representantes de 194 países, entre eles 70 ministros, a delegação brasileira deve fazer ainda uma apresentação das áreas de desmatamento em todos os biomas brasileiros.
Na Amazônia, de acordo com a ministra Marina Silva, o governo vem conseguindo reduzir o ritmo de destruição da cobertura florestal. Segundo ela, de 2002 para 2003 o desmatamento aumentou 28%. ''Em 2003 conseguimos brecar o ritmo, reduzindo esse índice para 2%'', disse. A ministra das Minas e Energia, Dilma Roussef, quer destacar ''as vantagens significativas do Brasil'' na área. Segundo ela, ''43% da matriz energética brasileira é de fontes renováveis''. A média mundial é de 13,6%, e nos países desenvolvidos fica em 6%.
Dilma citou o lançamento do uso comercial do biodiesel, que será misturado à proporção de 2% no diesel derivado de petróleo, e o aumento no uso do etanol (álcool) como combustível automotor, por ser menos poluente do que a gasolina. O governo Lula aposta na exportação de álcool e vislumbra dispor até 2010 de uma reserva estratégica de 5 bilhões de litros do combustível, para exportação.
O Protocolo de Kyoto, que foi assinado em 1994 e entra em vigor em fevereiro próximo, não impõe aos países em desenvolvimento metas de limitação de emissões de gases estufa. A maior responsabilidade é dos países desenvolvidos, que devem reduzir suas emissões em 5% em relação aos níveis de 1990. As metas devem ser atingidas entre 2008 e 2012.

CB, 09/12/2004, Mundo, p. 28

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