VOLTAR

Brasil divulga hoje suas emissoes de CO2

O Globo, O Globo, p.36
08 de Dez de 2004

Brasil divulga hoje suas emissões de CO2
Janaína Figueiredo
Correspondente
Após muito mistério, o governo finalmente divulgará hoje, em Brasília, o Inventário Brasileiro de Emissões de Gases do Efeito Estufa, documento que, segundo revelaram fontes governamentais ao GLOBO, confirmará que cerca de 75% das emissões de CO2 (principal gás relacionado ao aquecimento global) do Brasil vêm das queimadas na Amazônia.
Paralelamente, em torno de 80% das emissões de gás metano — que tem um potencial de contribuir para o agravamento do efeito estufa 21 vezes maior do que o do gás carbônico — são produzidas pelas emissões originárias das flatulências do rebanho bovino brasileiro, estimado em 180 milhões de cabeças.
A partir da apresentação oficial do documento, o Brasil entrará para a lista dos grandes poluidores e sofrerá pressões para adotar metas concretas para reduzir suas emissões. Um dos principais motivos que levaram o país a adiar a divulgação do inventário foi o temor de que o documento fosse usado pelos países mais desenvolvidos como desculpa para protelar a entrada em vigor do Protocolo de Kioto, que começa a vigorar em 16 de fevereiro de 2005.
Segundo Kioto, entre 2008 e 2012 os países mais desenvolvidos deverão reduzir em 5,2% suas emissões, meta que não atinge países como Brasil, China e Índia. O documento parte do princípio que as mudanças climáticas de hoje são fruto das emissões produzidas há 100 anos pelas nações mais ricas e que os países em desenvolvimento não devem pagar por isso, ainda que, atualmente, sejam grandes poluidores.
— O G-77 (grupo integrado pelo Brasil) insiste em assegurar que não há possibilidade de aceitar a imposição de metas, nem mesmo depois de 2012 — afirmou André Corrêa do Lago, um dos principais negociadores do Brasil na Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Buenos Aires.
Segundo ele, antes de assumir compromissos os países em desenvolvimento querem ver os resultados dos esforços realizados pelos países mais desenvolvidos”, entre eles, a transferência de tecnologia e recursos financeiros para os mais pobres.
Na próxima sexta-feira, Brasil e China divulgarão seus inventários conjuntamente, em Buenos Aires. O objetivo é mostrar que a situação dos países em desenvolvimento não é homogênea e, portanto, seria inadequado impor metas comuns.
— O principal problema do Brasil é o desmatamento que, diga-se de passagem, continua aumentando. Já a China é um grande poluidor porque está vivendo um processo de crescimento econômico explosivo — explicou um integrante da delegação brasileira, que pediu para não ser identificado.
Diminuir o desmatamento da Amazônia, disse a fonte, representa o principal desafio do Brasil. No entanto, os negociadores brasileiros fazem questão de esclarecer que mesmo se o Brasil interrompesse o desmatamento de um dia para o outro, a longo prazo a Amazônia se transformaria num cerrado caso os países mais desenvolvidos não cumpram as metas previstas no Protocolo de Kioto.
— O grande problema destas negociações é que os países mais desenvolvidos, como os EUA, sabem que é complicado e caro reduzir suas emissões. Por isso querem arrancar compromissos de países como o Brasil — disse a fonte, deixando claro que apesar dos dados que serão divulgados hoje, o Brasil insistirá em dizer que não está disposto a assumir compromissos internacionais de redução.

O Globo, 08/12/2004, p. 36

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.