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Brasil conclui mapa genetico do cafe

O Globo, Ciencia e Vida, p.34
11 de Ago de 2004

Brasil conclui mapa genético do café
Eliane Oliveira
BRASÍLIA. O Brasil se tornou o primeiro país a concluir o seqüenciamento genético do café, identificando a maior parte dos genes de interesse da planta. A partir de agora, os cientistas brasileiros terão ferramentas mais eficientes para melhorar a qualidade do café e aumentar a produtividade.
Os resultados da pesquisa, que durou um ano e meio, foram anunciados ontem pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que formou um consórcio com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e o Instituto Uniemp — Fórum Permanente das Relações Universidade-Empresa. O Brasil é o maior produtor e exportador de café.
Pesquisas prometem dobrar produção e reduzir custos
A partir do Projeto Genoma Café será possível, entre outras coisas, desenvolver plantas resistentes a doenças e a alterações climáticas e criar tecnologias mais sustentáveis, dobrando a produção anual e reduzindo em até 20% os custos. As instituições envolvidas também planejam se aprofundar no estudo de transgênicos.
— É possível, mas preferimos buscar a forma natural. O importante é que vamos melhorar preço, custos, qualidade e produtividade — disse o chefe de Recursos Genéticos e Biotecnologia da Embrapa, José Manuel Cabral. — Podemos, por exemplo, desenvolver café de sabor mais intenso, sem cafeína, enfim, temos um universo pela frente.
Depois de conhecido o genoma, o próximo passo será selecionar trechos do mapa genético e estudar caminhos para aperfeiçoar o produto de acordo com as necessidades do consumidor. Para os cientistas, a análise dos dados poderá acelerar em até 20 anos as pesquisas em melhoramento genético.
A idéia é produzir grãos com mais sabor e aroma e também com características como teores controlados de cafeína, vitaminas e ,sais minerais. Também será possível obter um produto mais tolerante à seca e resistente ao ataque de pragas e doenças.
— Esperamos que novos mercados sejam abertos para os cafés brasileiros. Essa pesquisa vai beneficiar toda a cadeia produtiva, especialmente os produtores — comemorou o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.
Ao concluírem o primeiro seqüenciamento mundial do genoma do café, os cientistas brasileiros criaram um banco de dados com 200 mil seqüências de DNA. Isso, segundo os responsáveis pelo projeto, já permitiu a identificação de mais de 30 mil genes responsáveis pelos diversos mecanismos de desenvolvimento da planta.
— Chegamos a níveis de amplitude e detalhamento inéditos em todo o mundo — reforçou Cabral.
Dados do Ministério da Agricultura mostram que o agronegócio mundial do café movimenta cerca de US$ 90 bilhões por ano e envolve 500 milhões de pessoas. O Brasil é o maior produtor e exportador do mundo: contribui com 30% da produção mundial. As lavouras cafeeiras ocupam, atualmente, 2,7 milhões de hectares e estão localizadas em mais de dois mil municípios. Devido à ampla extensão geográfica, o país produz vários tipos de café.
— Mas a agricultura cafeeira não pode se restringir apenas à exploração dessa vantagem geográfica. É fundamental o domínio das tecnologias genômicas — disse Cabral.

O impacto da pesquisa
Pioneirismo: Ao concluir o seqüenciamento de genes de interesse comercial do café, o Brasil assume a liderança na pesquisa biotecnológica na área. Outros países desenvolvem pesquisas sobre o genoma do café, mas nenhum está em estágio tão avançado
Concorrência: Dos grandes produtores mundiais de café, o Brasil é o único a desenvolver estudos avançados para obter melhorias de qualidade e produtividade. Hoje, o país perde em qualidade para a Colômbia, cujos grãos são considerados superiores. Ao investir em pesquisas de biotecnologia, como o estudo do genoma, o Brasil poderá desenvolver variedades produtivas capazes de disputar com os colombianos o mercado de café de alta qualidade.
Resultados: O estudo do genoma não dá frutos imediatos. É preciso descobrir a função dos genes identificados. Só então poderá se esperar colher resultados em campo.
Promessas: Pesquisas assim podem levar tanto ao desenvolvimento de plantas transgênicas com cópias extras de genes benéficos, por exemplo, quanto ao dos chamados superogânicos. Estes são plantas com características especiais — como, por exemplo, menos cafeína sem perda de sabor — criadas a partir de cruzamentos convencionais. A diferença é que a seleção das plantas a serem cruzadas ocorre em menos tempo e oferece muito mais precisão.

O Globo, 11/08/2004, p. 34

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